- Introdução
Anualmente, cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros, com uma incidência de 1 para cada 10 nascidos vivos. Os prematuros extremos são os de maior vulnerabilidade.1 Apesar de estarem sobrevivendo mais, esses lactentes têm apresentado, frequentemente:2
- neurodesenvolvimento alterado;
- hipertensão pulmonar;
- dificuldades alimentares;
- doença das vias aéreas;
- retinopatia da prematuridade;
- displasia broncopulmonar (DBPdisplasia broncopulmonar).
As sequelas da prematuridade estão relacionadas a uma pior qualidade de vida durante a infância, a adolescência e a vida adulta.3
O manejo e as pesquisas voltadas para o acompanhamento da DBPdisplasia broncopulmonar, em grande parte, têm se concentrado na fisiopatologia e na prevenção dessa condição a fim de diminuir sua incidência. Porém, esse cuidado deve se estender para além da internação e dos cuidados com o bebê, expandindo-se para família, ambiente domiciliar e seguimento ambulatorial.4,5
LEMBRAR
Um olhar mais holístico e biopsicossocial é necessário no manejo dos prematuros broncodisplásicos, haja vista os desafios encontrados desde o nascimento, perpassando a infância, a adolescência e a vida adulta. Essa visão ampliada pode favorecer o entendimento da criança e da família, ajudando a equipe multidisciplinar a traçar estratégias de intervenção e de uma melhor assistência.6,7
Uma ferramenta que pode ajudar no manejo de prematuros broncodisplásicos é a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIFClassificação Internacional de Funcionalidade), pois ela preconiza um olhar além da disfunção fisiológica, analisando a atividade e a participação social do indivíduo, bem como a influência de fatores contextuais e ambientais.6,7
A CIFClassificação Internacional de Funcionalidade é dividida em cinco domínios: função e estrutura, atividade, participação, fatores ambientais e pessoais. Estimula os profissionais a saírem de um modelo que analisa e avalia apenas as funções fisiológicas. Esse processo de olhar ampliado tem refletido sobre uma melhora da qualidade de vida das crianças, garantindo uma intervenção precoce e individualizada.3
Partindo-se do ponto de que a intervenção precoce pode ser considerada como um conjunto de ações especializadas, voltadas para as crianças e suas famílias, com a finalidade de favorecer o desenvolvimento e a inclusão social na primeira infância,8 é necessária uma abordagem interdisciplinar que considere os três níveis de assistência no cuidado.
Abordagens interdisciplinares baseadas na comunicação multiprofissional e dos profissionais com os responsáveis pelo lactente aumentaram a sobrevida de prematuros dependentes da ventilação mecânica (VMventilação mecânica) em até 85%.2,9 Essa estratégia deve ser iniciada durante o período de internação e continuada no momento da alta hospitalar com o objetivo de fornecer informações sobre a condição de saúde do recém-nascido (RNrecém-nascido), além de promover a participação das famílias junto à rede de assistência, garantindo a estimulação precoce e o seguimento adequado.
Traçar um plano de intervenção precoce baseado na CIFClassificação Internacional de Funcionalidade pode facilitar o cuidado integral à criança com DBPdisplasia broncopulmonar e à sua família, bem como a interdisciplinaridade e o plano terapêutico, envolvendo os três níveis de atenção à saúde.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- classificar a criança com DBPdisplasia broncopulmonar de acordo com a CIFClassificação Internacional de Funcionalidade;
- traçar um plano de intervenção precoce para o lactente com DBPdisplasia broncopulmonar, pós-alta hospitalar, baseado na CIFClassificação Internacional de Funcionalidade.
- Esquema conceitual