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SIMULAÇÃO EM EMERGÊNCIAS CLÍNICAS

Marcelo de Matos Coiro

Carine Pieniz Coiro

epub-BR-PROURGEM-C15V1_Artigo

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • descrever a importância da simulação realística no ensino da área da saúde;
  • listar conceitos fundamentais em simulação;
  • distinguir elementos-chave para a construção da experiência baseada em simulação.

Esquema conceitual

Introdução

A educação em saúde tem passado por grandes mudanças nas últimas décadas. O ensino tradicional, que vê na figura do professor um transmissor do conhecimento, já não é mais compatível com as necessidades pedagógicas. Nesse intuito, várias entidades vêm tentando aprimorar a forma de ensino, implementando um processo de aprendizagem que une teoria e prática, buscando o aprender fazendo, aliado ao pensamento crítico e ao pensar durante a aprendizagem.1

É nesse contexto que surge a simulação clínica, uma estratégia pedagógica baseada na experimentação, que busca o desenvolvimento das competências necessárias empregando o uso de simuladores em ambiente controlado. Essa modalidade de ensino interfere diretamente na segurança do paciente, já que as ações são simuladas em ambiente específico para melhor enfrentamento da situação real posteriormente.2–4

Há situações em que o profissional precisará de vivência para escolher o melhor procedimento, ter mais segurança e ser mais assertivo em suas condutas. A simulação tem o intuito de imitar uma situação real, tentando estimular o aluno a criar uma linha de raciocínio, trazer a sua bagagem teórica para a prática, aprender a responder corretamente a situações de estresse, estimular o senso de liderança e segurança perante uma equipe, sem a exposição aos riscos do ambiente/da doença real.2–4

A resposta desse profissional diante de um cenário real irá depender do aprendizado que teve durante a formação no atendimento de cada agravo. O ensino na área da saúde requer ganho cognitivo, além de desenvolvimento de habilidades e competências para a boa prática profissional. Assim, não basta o cumprimento de carga horária ao final do curso, o profissional formado precisa compreender, adquirir habilidade e saber executar cada tratamento proposto.3,4

Dessa forma, a simulação clínica não serviria apenas como método de ensino, mas também como método eficaz de treinamento e ensino de capacidades, já que dá suporte à aprendizagem efetiva do aluno, garantindo a segurança dos pacientes atendidos.2 Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), há uma chance em um milhão de uma pessoa ser ferida durante uma viagem de avião. Em comparação, existe uma chance de 1 em 300 de um paciente ser prejudicado durante o atendimento à saúde. Estima-se que haja 421 milhões de internações no mundo anualmente, e aproximadamente 42,7 milhões de eventos adversos ocorram em pacientes durante essas internações.5

Os dados mais recentes mostram que os danos aos pacientes são a 14ª causa principal de morbimortalidade em todo o mundo.5 Garantir a melhoria do ensino leva à melhoria da segurança do paciente e à tentativa de mudança desse cenário de erros relacionados ao cuidado de saúde, e a simulação tem mostrado resultados impressionantes na redução dos números de erros médicos.1

Como método de ensino em saúde, há registros do uso da simulação realística em diversos períodos da humanidade. Na Antiguidade, eram construídos modelos de pacientes humanos em pedra e argila para demonstrar características das doenças, inclusive permitindo que médicos homens diagnosticassem doenças em mulheres em sociedades em que a exposição do corpo não era permitida.6

No século XVIII, na França, Angélique Marguerite Le Boursier du Coudray desenvolveu um simulador de tecido para ensinar técnicas de parto a cirurgiões e parteiras locais. Na mesma época, na Itália, Giovanni Antonio Galli também usou um simulador de parto para treinar seus alunos e parteiras locais. Essa ação, por si, resultou em reduções nas taxas de óbito materno e infantil na época.6

Em 1929, surgiu o primeiro objeto desenvolvido especificamente para treinamento e simulação, a blue box. O modelo criado pelo engenheiro Edwin Link foi responsável pelo primeiro simulador conhecido não específico para a área da saúde, mas sim para pilotos de aeronaves. Foi idealizado para ser uma réplica da cabine do avião em que os pilotos podiam treinar manobras e ações em situações específicas. A simulação nessa área se tornou tão importante e ao mesmo tempo tão necessária que atualmente compõe cerca de 40% da formação dos pilotos.1,6

Mais recentemente, depois do surgimento dos jogos eletrônicos, surgiu a ideia de simular ambientes reais no mundo virtual. Viajar por dentro do corpo humano, chegar em pontos em que as aulas de anatomia jamais foram, visualizar estruturas, formas, composições, dentre outras particularidades apenas usando óculos de realidade virtual. Tudo isso na tentativa de um ensino mais fidedigno com a realidade e que possa ajudar tanto na aprendizagem quanto no desenvolvimento de competências práticas.6

Também é importante reforçar a simulação em tempos de pandemia. Devido à crise sanitária relacionada ao coronavírus, vários estudantes foram remanejados para áreas de atendimento específicos do vírus, houve queda relevante no número de cirurgias e procedimentos realizados, além de cancelamento de exames complementares eletivos. Assim, procedimentos que dependem de alto nível de competência e treinamento intensivo de habilidades ficaram comprometidos. Nesse sentido, a possibilidade de treinamento dessas competências por meio de simulação pode ser uma alternativa para sanar os prejuízos educacionais causados pela pandemia.7

A simulação clínica é uma estratégia educacional baseada na experimentação do aluno que busca garantir o desenvolvimento de competências para o atendimento e a assistência segura ao paciente, sem a exposição dos envolvidos aos riscos associados ao cuidado.8

Baseado na simulação de cenários próximos ao contexto real, a reprodução de tarefas clínicas de forma estruturada e em ambiente controlado permite aos alunos a participação no processo de ensino–aprendizagem de forma segura e próxima da realidade, com o propósito de praticar, aprender, testar, avaliar ou desenvolver a compreensão dos sistemas e condutas, facilitando o ganho de competências essenciais na prática diária.8

Esse ganho de competências e o aprimoramento de habilidades na área acadêmica estão centrados na capacidade de comunicação e no repertório de experiências. A aprendizagem efetiva em ambiente de simulação requer a boa interação entre as pessoas e o ambiente em que estão sendo treinados. Assim, a atenção, a intenção, os sentimentos pessoais e as crenças de cada participante farão parte do processo e podem auxiliar ou não na aprendizagem, a depender da interação dos envolvidos.2,8

Para que o ensino baseado em simulação alcance uma aprendizagem significativa, faz-se necessário o cumprimento de etapas e dos critérios de boas práticas em simulação. A International Nursing Association for Clinical Simulation and Learning (INACSL) é uma associação que visa melhorar a segurança do paciente por meio da excelência em simulação de cuidados em saúde. As normas/padrões de práticas recomendadas pela INACSL fornecem a base da prática para promover a simulação, aprimorar sua implementação, aumentar a segurança do paciente, aumentar a confiabilidade da estratégia simulada e aumentar a reprodutibilidade das experiências de simulação, tudo isso baseado em evidência no ensino, assistência e pesquisa.8,9

As normas da INACSL incluem um modelo que estabelece os pilares para construção de experiência baseada em simulação, juntamente com uma descrição minuciosa desde o design da simulação, a elaboração dos objetivos e resultados desejados, como fazer a orientação, revisão e avaliação com os alunos, além de um dicionário com os termos mais usados nessa metodologia.2

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