OBJETIVOS
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir os conceitos de acolhimento e classificação de risco (CR);
- discutir as estratégias adotadas no processo de tomada de decisão na CR;
- identificar a metodologia da CR utilizando o Sistema Manchester de Classificação de Risco;
- reconhecer os principais pontos na avaliação do paciente na CR;
- empregar as competências do enfermeiro na CR;
- identificar os recursos físicos — tecnológicos e humanos — necessários para implantar a CR nos serviços de emergência.
Esquema conceitual
INTRODUÇÃO
Os serviços de emergência possuem características diferenciadas na assistência à saúde, cuja tomada de decisão precisa ser realizada em um pequeno espaço de tempo. As intervenções, invasivas ou não, são múltiplas, recorrentes (e de risco, muitas vezes). Nessa forma de assistência, a relação equipe de saúde–paciente–família é pautada, de certa forma, a partir de situações limítrofes e nas difíceis decisões. Portanto, acolhimento e classificação de risco (CR) são tecnologias de saúde que disparam reflexões e mudanças no modo de operar os processos de trabalho, alinhando os modelos de atenção e de gestão.
Os serviços de emergência passaram a ser a porta de entrada ao sistema de saúde, não somente nos hospitais públicos, mas também nos hospitais privados. Esse é um fenômeno global que pode impactar negativamente na qualidade dos cuidados prestados nas situações agudas ou crônicas agudizadas de saúde da população, visto que a emergência pré e intra-hospitalar são os principais pontos de apoio das redes de saúde para esse tipo de atendimento.1,2 Na última década, a Organisation for Economic Co-operation and Development registrou aumento nas tendências do número de visitas às salas de emergência em diferentes países e continentes. Em dez anos, o número de visitas aos serviços de emergência aumentou cerca de 5,2% (de 29,3 visitas/100 habitantes para 30,8 visitas/100 habitantes).3
Essas condições, acrescidas do aumento da expectativa de vida da população (e, consequentemente, da propensão ao desenvolvimento de doenças crônicas) e da constante redução do financiamento para o setor, têm obrigado os gestores dos sistemas de saúde a reconsiderarem suas estruturas operacionais no sentido de responderem adequadamente a essa demanda crescente de pacientes agudos e, também, de pacientes crônicos agudizados.1,2 Historicamente, os serviços de emergência sofrem com a constante limitação dos recursos físicos, tecnológicos e humanos. Além disso, observa-se que os serviços estão constantemente com superlotação de pacientes em seus sítios assistenciais, embora seja verificado que nos últimos anos tenham sido aplicadas diferentes medidas para mitigar esse problema.2,4
A superlotação nos serviços de emergência é um problema sistêmico, e a sua solução não é pontual ou local, ela deve envolver todos os atores da rede de saúde nos diferentes níveis de atenção.1,4–6 A superlotação não é um problema exclusivo dos hospitais brasileiros e pode ser considerada uma questão de saúde pública global. Nesse sentido, diferentes intervenções têm sido adotadas para minimizar os riscos para os pacientes que esperam pelo atendimento nesses serviços. Todas as soluções precisam estar interligadas e devem integrar todas ou pelo menos algumas das várias etapas envolvidas no processo de atendimento na emergência, desde o ingresso do paciente no serviço até sua alta hospitalar. Assim, as causas e soluções são multifatoriais, e a intervenção em uma única solução (por exemplo, aumento de leitos hospitalares ou revisão de processos assistenciais) não resolve o problema em sua complexidade e totalidade.1,4,6
A CR emerge como uma dessas medidas importantes, independentemente do protocolo ou sistema adotado (desde que possua cinco níveis de estratificação de risco e seja validado cientificamente e administrativamente pelo serviços), podendo ser implantada nos serviços de emergência e tendo como metas a reorganização dos fluxos operacionais, a reorganização das rotinas assistenciais e maior articulação e integração à rede de saúde, com a prerrogativa da garantia do acesso universal, da resolutividade e da humanização do atendimento.4,6,7