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TERAPIA ANDROGÊNICA NAS DIFERENTES FASES DA VIDA

Autores: Lúcia Helena Simões da Costa Paiva, Luiz Francisco Baccaro
epub-BR-PROAGO-C16V1_Artigo2
  • Introdução

Os androgênios são hormônios essenciais para a fisiologia feminina, tendo importante papel em aspectos como cognição, metabolismo ósseo e função sexual.1 Sua biossíntese se inicia na molécula de colesterol, que dá origem aos principais androgênios circulantes em ordem decrescente de concentração sérica:2

 

  • sulfato de dehidroepiandrosterona (SDHEAsulfato de dehidroepiandrosterona);
  • dehidroepiandrosterona (DHEAdehidroepiandrosterona);
  • androstenediona;
  • testosterona;
  • di-hidrotestosterona (DHTdi-hidrotestosterona).

Apesar de suas altas concentrações, o SDHEAsulfato de dehidroepiandrosterona, o DHEAdehidroepiandrosterona e a androstenediona não atuam sobre os receptores de androgênios, sendo, sim, pró-hormônios. A testosterona é o androgênio mais potente, sendo secretada2

 

  • pela zona fasciculada da glândula adrenal (25%);
  • pelo estroma ovariano (25%);
  • pela conversão periférica da androstenediona (50%).

A produção diária de testosterona, em mulheres, é muito inferior do que nos homens (0,1–0,4mg/dia e 5–7mg/dia, respectivamente), sendo que seus níveis séricos estão entre 20 e 60mg/dL no sexo feminino. Durante o ciclo menstrual, há uma variação nos níveis séricos do hormônio, com um aumento de cerca de 20% na produção durante a fase periovulatória.3

Aproximadamente 99% da testosterona circula ligada a proteínas, sendo que dois terços se ligam à globulina carreadora de hormônios sexuais (SHBGglobulina carreadora de hormônios sexuais) e, o restante, à albumina. Apenas 1 a 2% da testosterona circulam livres no plasma.4 Apesar de todas as discussões sobre as concentrações séricas de androgênios, sua ação ocorre, principalmente, dentro das células, após a ação da enzima 5α-redutase sobre a testosterona, com a produção da DHTdi-hidrotestosterona (Figura 1).1

DHEAdehidroepiandrosterona: dehidroepiandrosterona; SDHEAsulfato de dehidroepiandrosterona: sulfato de dehidroepiandrosterona; DHTdi-hidrotestosterona: di-hidrotestosterona

Figura 1 — Esquema do metabolismo dos androgênios nas mulheres.

Fonte: Burger (2002).2

Os receptores androgênicos são encontrados em diversos locais do organismo, como sistema cardiovascular, músculos, pele, ossos e sistema nervoso central (SNCsistema nervoso central). Doenças que levam a um aumento nos níveis séricos de androgênios, como a síndrome dos ovários policísticos, podem levar a consequências deletérias ao sistema cardiovascular, possivelmente por uma maior incidência de aterosclerose devido1

 

  • à diminuição dos níveis de lipoproteínas de alta densidade (do inglês high density lipoproteins [HDLlipoproteínas de alta densidade]);
  • ao aumento dos níveis de triglicerídeos;
  • ao aumento dos níveis de lipoproteínas de baixa densidade (do inglês low density lipoproteins [LDLlipoproteínas de baixa densidade]).

Em teoria, as condições clínicas que cursam com redução nos níveis séricos de androgênios também poderiam levar a consequências negativas. Essas consequências podem ser somáticas, como a diminuição da massa muscular e da massa óssea, ou comportamentais, como uma piora da função sexual, do humor e da sensação de bem-estar. Entretanto, a maioria dos estudos ainda não conseguiu demonstrar uma associação direta entre os níveis de androgênios e esses diversos sintomas.1

Com o passar dos anos reprodutivos, observa-se, naturalmente, uma queda na produção de androgênios na mulher. Os níveis de testosterona total e livre caem gradualmente até a menopausa. Nos últimos anos da menacme, também deixa de ocorrer o aumento transitório da produção de testosterona no período periovulatório. Após a menopausa, os níveis de testosterona tendem a se estabilizar, sendo que a maioria dos estudos mostra que os ovários de mulheres pós-menopausadas mantêm uma produção de testosterona relativamente constante, a despeito da queda na produção de estrogênio.1,5

Quanto à produção de pró-hormônios de origem adrenal, ocorre uma queda acentuada da produção ao longo dos anos, e os níveis séricos de DHEAdehidroepiandrosterona e SDHEAsulfato de dehidroepiandrosterona em mulheres na oitava década de vida correspondem a, aproximadamente, 20% dos níveis séricos de mulheres na terceira década.6,7

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • relembrar as bases fisiológicas da produção de androgênios no organismo feminino;
  • definir as características da síndrome da deficiência androgênica (SDAsíndrome da deficiência androgênica);
  • reconhecer a relação entre deficiência androgênica e disfunção sexual;
  • identificar os tipos e bases para utilização da terapia androgênica pós-menopausa.
  • Esquema conceitual
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