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TONTURA E VERTIGEM

Autores: Lucas Resende Lucinda Mangia, Rita de Cássia Cassou Guimarães
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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

 

  • descrever os principais conceitos relacionados às queixas de tontura e vertigem;
  • explicar aspectos anatomofisiológicos básicos do sistema vestibular;
  • esclarecer as definições técnicas da semiologia dos distúrbios da percepção espacial e equilíbrio;
  • elencar aspectos principais da anamnese e do exame físico do paciente acometido por tais distúrbios;
  • elaborar o raciocínio sindrômico e nosológico que deve guiar primordialmente o atendimento dos casos de tontura e vertigem.

Esquema conceitual

Introdução

As queixas vestibulares são definitivamente comuns na população geral, e essa alta prevalência se reflete na epidemiologia dos atendimentos médicos. Embora dados epidemiológicos relativos aos sintomas vestibulares ainda sejam relativamente escassos, pode-se afirmar que, nos estudos publicados até o momento, estão invariavelmente posicionados entre as mais frequentes em saúde pública.1,2

Estudos oficiais estimam que de 15% a 35% da população pode apresentar os referidos sintomas em algum momento, sendo que cifras ainda maiores são esperadas caso se inclua a percepção de sensações mais leves e fortuitas que não levam o paciente à procura de assistência médica.1,2 É possível supor que, assim como outros sintomas comuns, a queixa vestibular — tipicamente “tontura” — seja universalmente experimentada ao menos uma vez durante a vida, mesmo que de maneira limitada e transitória.

Ampla e genericamente, as queixas vestibulares podem ser definidas como alterações da percepção espacial.3 Talvez por refletirem distúrbios em um sistema que funciona e é orquestrado ininterruptamente de maneira inconsciente, tais sintomas são largamente subjetivos, e a experiência reportada pelo paciente acometido pode variar significativamente, com influências culturais e interpessoais marcantes.

Desse modo, os indivíduos afligidos podem se referir à sensação distorcida como “tontura” propriamente dita ou seus coloquialismos regionais (“tonteira”, “zonzeira”, “ruindade” etc.), como também percepções de “cabeça oca”, “cabeça leve”, “cabeça ruim”, “vertigem”, “mal-estar”, “flutuação”, “instabilidade”, “desorientação”, entre tantos outros. Em linhas gerais, deve-se compreender a queixa vestibular, independentemente de sua qualidade, como um produto de alterações nos sistemas de orientação espacial e/ou do equilíbrio.

Pelo exposto, manifestações de “desequilíbrio”, “quedas” ou “sensações de desmaio” também devem ser estudadas considerando o contexto amplo dos distúrbios relacionados ao sistema vestibular. Ressalta-se que, com frequência, a subjetividade e a dificuldade de descrição da sensação percebida podem desafiar a coleta da história clínica.

A despeito de sua elevada prevalência nos diferentes cenários clínicos, queixas relacionadas a distúrbios vestibulares são, em regra, mal compreendidas por profissionais de saúde. Não raramente, pacientes sofrem com negligência ou precariedade do atendimento prestado. Sinal patente dessas falhas é a multiplicação de diagnósticos gerais (“labirintite”), imprecisos ou incorretos, cuja consequência direta são prejuízos terapêuticos que incorrem em baixa resolutividade e perpetuação de uma ideia errônea de que quadros de tontura são “difíceis”.

A referida percepção deturpada dos casos realimenta práticas limitadas de atendimento e de descontentamento, com reflexos negativos para o profissional da saúde e para o paciente atendido. Em oposição a esse triste cenário, avanços recentes na área possibilitaram um melhor entendimento e uma abordagem mais direcionada e resolutiva dos casos. Em nível de saúde básica, tais progressos têm possibilitado a pavimentação de alicerces sólidos para o aperfeiçoamento das práticas iniciais diante de pacientes com queixas vestibulares.

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