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TRANSTORNO BIPOLAR: PSICOPATOLOGIA, CURSO CLÍNICO E SUBTIPOS

Elie Cheniaux

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  • Introdução

O transtorno bipolar (TBtranstorno bipolar) se caracteriza pela ocorrência, em um mesmo paciente, de duas síndromes diferentes: a mania e a depressão.1

Os termos “mania” e “depressão” — na verdade, “melancolia” — eram utilizados na Antiguidade com significados muito mais amplos do que os atuais. Nessa época, quando se falava em adoecimento mental, além desses dois diagnósticos, só havia as frenites. Considerava-se que, diferentemente das frenites, a mania e a melancolia não cursavam com febre, sendo que, na mania, observava-se agitação, e, na melancolia, prostração.1

Com o passar do tempo, esses dois conceitos, mania e melancolia, tornaram-se mais restritos, e diversos autores, a começar por Areteu da Capadócia, no século II, observaram que a mania e a melancolia acometiam, em diferentes momentos, um mesmo indivíduo, representando, portanto, uma única doença. Com base nessa concepção, Falret e Baillarger, de forma independente, em 1854, descreveram, respectivamente, a loucura circular e a loucura de dupla forma; e Kraepelin, na virada no século XIX para o XX, apresentou a doença maníaco-depressiva, a qual, com algumas modificações, transformou-se no atual TBtranstorno bipolar.1

A rigor, além dos quadros de mania e depressão, duas outras formas de apresentação clínica são também observadas no TBtranstorno bipolar: a hipomania, que representa um quadro maníaco mais leve ou de menor duração; e os estados mistos, nos quais sintomas maníacos e depressivos estão presentes de modo simultâneo.1–3 Os sintomas maníacos e depressivos são, na essência, mutuamente opostos. Ambas as síndromes são constituídas basicamente por alterações afetivo–volitivas, mas também se encontram alterações cognitivas e outras funções psíquicas.4

O TBtranstorno bipolar é classificado como um transtorno do humor, e os episódios de mania e depressão são tradicionalmente designados como episódios afetivos. No entanto, mais recentemente, tem sido levantada a hipótese de que as alterações cardinais desse transtorno mental, em vez dos sintomas do humor ou afetivos, seriam aquelas relacionadas à energia vital e à atividade motora.5

Ao longo de sua doença, tipicamente, um paciente com TBtranstorno bipolar irá apresentar vários episódios de mania e de depressão. Todavia, pelos critérios diagnósticos atuais, o diagnóstico pode ser formulado nos casos em que só houve episódios de mania, ou mesmo se um único episódio maníaco foi observado, na ausência, portanto, de episódios depressivos.6

Na versão mais recente do sistema classificatório da Associação Psiquiátrica Americana, o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — 5ª edição (DSM-5),6 o TBtranstorno bipolar é classificado em dois subtipos: I e II. Contudo, adotando-se o conceito de espectro bipolar, outras formas de TBtranstorno bipolar são consideradas.7

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • descrever as alterações psicopatológicas encontradas na mania e na depressão;
  • questionar se as alterações do humor são de fato as mais importantes no TBtranstorno bipolar;
  • reconhecer o paradoxo dos critérios diagnósticos do TBtranstorno bipolar, que privilegiam a ocorrência de episódios de mania, quando, no curso da doença, em média, os episódios depressivos são mais numerosos e mais longos;
  • relacionar os subtipos do TBtranstorno bipolar, compreendendo-os no contexto do chamado “espectro bipolar”.
  • Esquema conceitual
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