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TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO: EPIDEMIOLOGIA, CLÍNICA E TRATAMENTO

William Berger

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  • Introdução

O transtorno do estresse pós-traumático (TEPTtranstorno do estresse pós-traumático) acomete até 13,6% da população mundial.1 Isso quer dizer que, no ano de 2018, 1.035.009.780 indivíduos sofreram ou sofrem do transtorno. Essa alta prevalência, associada à sua gravidade, torna o TEPTtranstorno do estresse pós-traumático um grave problema de saúde pública em todo o mundo.

O TEPTtranstorno do estresse pós-traumático é um transtorno multissistêmico, que acomete diversos circuitos cerebrais e sua neuroquímica, sistemas imune, cardiovascular, endócrino e metabólico.2 Por aumentar o risco de desenvolvimento de doenças crônicas, envelhecimento e mortalidade precoce, já foi chamado de “sentença para a vida”.3 Além disso, é um fator de risco para o desenvolvimento de demência, havendo uma associação dose–dependente entre esses dois transtornos. Isso quer dizer que quanto mais graves os sintomas de TEPTtranstorno do estresse pós-traumático, maior o risco de demência.4

Pacientes com TEPTtranstorno do estresse pós-traumático apresentam mais pensamentos e comportamentos suicidas do que a população geral, e são considerados de alto risco de suicídio.5,6 Esse risco aumenta ainda mais com a presença de comorbidades psiquiátricas7,8 que, dependendo da população estudada, ocorre em 44 a 98,9% dos pacientes.9–11

Nos pacientes com comorbidades, os sintomas de TEPTtranstorno do estresse pós-traumático são aqueles que causam maiores prejuízos na qualidade de vida, mesmo ao serem comparados com graves sintomas depressivos, ansiosos, obsessivo-compulsivos e psicóticos.12 Logo, não surpreendente que o TEPTtranstorno do estresse pós-traumático esteja associado a prejuízo em todos os domínios da qualidade de vida (saúde física e mental, e funcionamento ocupacional, social, com a família e no lar).7,13,14 Fica claro, então, que a carga (burden) causada pelo TEPTtranstorno do estresse pós-traumático é extremamente elevada, e o transtorno é frequentemente incapacitante e causador de morte precoce.2

Apesar de tamanho prejuízo e incapacidade causados pelo TEPTtranstorno do estresse pós-traumático, muitas pessoas que sofrem com o transtorno, surpreendentemente, não procuram, tratamento.3,15 Em países de renda alta (por exemplo, EUA), apenas 53,5% das pessoas com o transtorno procuram tratamento psiquiátrico ou psicoterápico. Essa proporção é ainda menor em países de renda média–alta (por exemplo, Brasil), onde apenas 28,7% dos pacientes procuram tratamento, e em países de renda baixa–baixa (por exemplo, Serra Leoa), onde apenas 22,8% das pessoas procuram assistência.3

Mesmo quando os indivíduos procuram tratamento, o transtorno, com frequência não é diagnosticado e, consequentemente, não é tratado.16 Em todo o mundo, apenas 2 a 4% dos casos são diagnosticados pelos médicos, tanto em consultórios privados como em ambulatórios de instituições acadêmicas.17

No Brasil, uma recente pesquisa, realizada no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), mostrou que apenas 2,4% dos pacientes atendidos no ambulatório geral, por outros transtornos mentais, tiveram TEPTtranstorno do estresse pós-traumático (que era comórbido) diagnosticado.18 Assim, a maioria dos casos passa despercebida, o que causa enorme sofrimento e incapacidade em seus portadores por tempo indefinido.

Mesmo quando o paciente procura tratamento e é corretamente diagnosticado, ainda há grande dificuldade, pois o transtorno é extremante resistente à farmacoterapia. As taxas de resposta às medicações raramente ultrapassam 60%, e menos de 30% dos pacientes alcançam a remissão completa dos sintomas.19 Isso faz com que o médico que se depara com um paciente com TEPTtranstorno do estresse pós-traumático necessite de um profundo conhecimento sobre a farmacoterapia e a psicoterapia mais adequadas para não desperdiçar a preciosa oportunidade de tratá-lo de forma eficaz.

Este artigo discutirá a investigação diagnóstica, os principais eventos desencadeantes, os mecanismos fisiopatológicos, as comorbidades e os complicadores do TEPTtranstorno do estresse pós-traumático, assim como seu tratamento farmacológico e psicoterápico. Somente conhecendo esses fatores é possível aliviar o sofrimento e aumentar a sobrevida dos pacientes que sofrem desse transtorno.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor deverá ser capaz de

 

  • identificar os eventos potencialmente traumáticos que podem causar o TEPTtranstorno do estresse pós-traumático;
  • diagnosticar o TEPTtranstorno do estresse pós-traumático, diferenciando-o de outros diagnósticos clínicos e psiquiátricos que podem também ser causados por um evento potencialmente traumático;
  • reconhecer as populações que apresentam maior risco de desenvolvimento de TEPTtranstorno do estresse pós-traumático;
  • indicar a melhor psicoterapia e farmacoterapia para os pacientes que sofrem de TEPTtranstorno do estresse pós-traumático.
  • Esquema conceitual
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