- Introdução
O que há de característico no terror pânico é que ele não está claramente consciente dos seus motivos; mais os pressupõe do que os conhece e, se necessário, fornece o próprio temor como motivo do temor.
(Arthur Schopenhauer, Aforismos sobre a Sabedoria da Vida)
Os transtornos mentais acometem pessoas no mundo inteiro, sendo responsáveis por significativo impacto na qualidade de vida, na economia e nos gastos em saúde. Esse impacto é representado por perdas de dias de trabalho1 e aumento da demanda por serviços de saúde.2
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 10% da população mundial convivem com algum tipo de problema de saúde mental3 e até 60% apresentarão algum desses distúrbios durante a vida, chegando a 61% em algumas cidades brasileiras.4 Assim, a atenção primária à saúde (APSatenção primária à saúde) deve ter profissionais plenamente capacitados para reconhecer esses distúrbios e manejá-los.5
A ansiedade é caracterizada como uma sensação antecipada de incômodo e desconforto à possível exposição a um cenário que possa aparentar perigo. Tal situação, por sua vez, não é clara nem iminente; portanto, a ansiedade gera um estado de alerta antecipado.4
O sentimento de alerta antecipado pode ser considerado um reflexo natural; no entanto, os transtornos de ansiedade são a sua manifestação patológica, pois a ansiedade manifestada causa disfunção ao indivíduo no âmbito emocional e social, gerando sofrimento ao seu portador.4
Os transtornos de ansiedade, juntamente com a depressão, são os distúrbios mentais mais comuns no Brasil.4 Nos Estados Unidos, eles são os principais diagnósticos psiquiátricos na APSatenção primária à saúde. Por serem comuns na população, é importante que os profissionais de saúde da APSatenção primária à saúde estejam atentos aos sintomas, já que eles são responsáveis pela diminuição da qualidade de vida, pela piora da produtividade e pelo aumento no risco de suicídio.6,7
Os transtornos ansiosos compõem um grupo que engloba patologias das mais diversas, como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOCtranstorno obsessivo-compulsivo), o transtorno de estresse pós-traumático (TEPTtranstorno de estresse pós-traumático) e o mutismo seletivo.5
Uma das manifestações dos quadros ansiosos é o transtorno de pânico (TPtranstorno de pânico), cuja característica principal é a crise ou o ataque de pânico (APataque de pânico), ainda que a crise não seja restrita a esse transtorno. É importante lembrar que o manejo do TPtranstorno de pânico, bem como o de qualquer transtorno de ansiedade, deve ser realizado com base no cuidado centrado na pessoa, ou seja, deve-se avaliar individualmente o sujeito e o seu contexto familiar e social, e, dessa forma, desenvolver ferramentas para o cuidado a partir de suas demandas.
A maioria dos pacientes com TPtranstorno de pânico será atendida na APSatenção primária à saúde, sendo que mais de 80% apresentarão queixas físicas, como dor torácica, taquicardia ou dispneia.8 Nesse sentido, o médico de família e comunidade (MFCmédico de família e comunidade) tem papel privilegiado por ser responsável também pelos cuidados em saúde mental da população que atende.9
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar a prevalência do TPtranstorno de pânico, a sua fisiopatologia e o seu diagnóstico;
- utilizar ferramentas da terapia cognitivo-comportamental (TCCterapia cognitivo-comportamental) como estratégia terapêutica em casos de TPtranstorno de pânico;
- reconhecer a farmacopeia utilizada no TPtranstorno de pânico;
- identificar quais situações requerem o uso parcimonioso de benzodiazepínicos (BZDbenzodiazepínicos) em casos de TPtranstorno de pânico;
- acompanhar cuidadosamente o paciente que necessita usar BZDbenzodiazepínicos em casos de TPtranstorno de pânico.
- Esquema conceitual