Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever a epidemiologia da tuberculose (TBtuberculose) e da neurotuberculose no Brasil e no mundo;
- listar aspectos da fisiopatologia da TBtuberculose do sistema nervoso central (SNCsistema nervoso central);
- reconhecer as síndromes neurológicas associadas à infecção pelo Mycobacterium tuberculosis;
- identificar os elementos laboratoriais e radiológicos que corroboram o diagnóstico da TBtuberculose do SNCsistema nervoso central;
- discutir o tratamento da neurotuberculose, atentando-se para as interações medicamentosas com antirretrovirais (ARVs) de pacientes com HIV.
Esquema conceitual
Introdução
A TBtuberculose é uma doença infecciosa das mais antigas de que se tem notícia, com evidências de acometimento de múmias egípcias datadas de mais de 3 mil anos. É causada pelo bacilo de Koch, cujo nome científico é M. tuberculosis; entretanto, outras espécies desse patógeno intracelular podem infectar humanos, como M. africanum, M. bovis, M. canetti, M. caprae, M. microti e M. pinnipedi.1
O M. tuberculosis apresenta perfil bacilo álcool-ácido resistente (BAARbacilo álcool-ácido resistente), avaliado pela técnica de Ziehl-Neelsen, por causa da complexa parede celular lipídica composta por peptidoglicanos, arabinogalactanas, ácido micólico e lipoarabinomanano, que interferem na resposta imunológica do hospedeiro.2 Sua transmissão ocorre por meio de aerossóis eliminados por tosse, espirros ou fala de uma pessoa com TBtuberculose pulmonar ou laríngea.1
A TBtuberculose é conhecida por atingir principalmente os pulmões, entretanto pode acometer qualquer órgão ou sistema do corpo humano. Na maior parte dos casos, o contato com o bacilo faz com que o indivíduo desenvolva o estado de infecção latente, quando os agentes infecciosos ficam quiescentes, sem repercussão clínica. Porém, indivíduos podem desenvolver quadros clínicos de TBtuberculose em contexto de primoinfecção (especialmente, crianças com idade inferior a 1 ano); podem, também, adoecer por reativação endógena secundária à imunossupressão, bem como pela reexposição a novas contaminações (reinfecção exógena).1
A TBtuberculose continua prevalente em pleno século XXI no Brasil e em outros países, e pode atingir, sobretudo, os grupos com imunossupressão por coinfecção com HIV, em uso de medicações imunossupressoras, imunomoduladoras, bloqueadores do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) no tratamento de distúrbios reumatológicos, doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide, psoríase e outras condições, bem como pacientes com câncer, doenças crônicas, idosos, crianças com idade inferior a 5 anos, em vulnerabilidade social, indígenas, pessoas desnutridas, em condições de rua e aquelas privadas de liberdade.