Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- reconhecer os recursos do aparelho de ultrassonografia (USG) e sua aplicabilidade na avaliação e no diagnóstico funcional das alterações do sistema respiratório de recém-nascidos (RN);
- descrever os princípios fundamentais e a terminologia de avaliações de USG;
- realizar os protocolos de avaliação relevantes para a USG do sistema respiratório em neonatologia, o que inclui as avaliações pleuropulmonar e diafragmática.
Esquema conceitual
Introdução
A USG é um dos métodos de diagnóstico por imagem mais comumente usados no ambiente hospitalar por sua versatilidade. A aplicação é relativamente simples e com excelente relação custo-benefício; porém, a aquisição da imagem é totalmente dependente do operador do aparelho, que necessita de conhecimento das suas principais funções e dos protocolos adequados para avaliação do paciente.1 Esse recurso progrediu muito nas últimas décadas, não só na melhora da aquisição e no processamento de imagens, mas também na questão da portabilidade, bastante ampliada diante do desenvolvimento de aparelhos pequenos e móveis, somados a uma qualidade de imagem avançada.1
O potencial de aplicação da USG para avaliação do sistema respiratório foi considerado restrito por anos, porque o pulmão sempre foi considerado um órgão que não era passível de exame de ultrassom por causa da reflexão total das ondas de ultrassom no contato com o ar.1
Os exames de imagem de tórax possuem um papel importante na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), especialmente para os fisioterapeutas. É de fundamental importância que o profissional saiba interpretar o exame em todas as suas estruturas, reconhecendo padrões de normalidade e anormalidade, a fim de garantir a assertividade de uma avaliação de qualidade. Na detecção de problemas pulmonares, o ultrassom provou ser favorável em muitos aspectos, incluindo precisão, confiabilidade, simplicidade e segurança, enquanto sua viabilidade e conveniência como aplicação à beira do leito em UTIN agregam mais valores.2
Várias são as vantagens da USG comparadas a outros exames de imagem descritos na literatura, sendo a principal delas, a ausência de emissão de radiação ao paciente e ao profissional que está realizando o exame, além de ser não invasiva, com possibilidade de utilização na beira do leito de forma dinâmica, evitando transporte do paciente para ambiente externo, e permitindo ao examinador realizar avaliações seriadas, em tempo real, para escolha da conduta adequada, além de acompanhar sua efetividade.3
Historicamente, a USG tem sido utilizada, para fins médicos, com o objetivo de avaliar as características morfológicas e a integridade estrutural de vários órgãos e tecidos. Contudo, com os avanços no conhecimento a respeito dessa ferramenta, surgiu uma diversidade de aplicações às quais se estenderam para além do uso tradicional, dentre estas, a utilização da USG por fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, entre outros profissionais, tanto no campo da pesquisa como na prática clínica.4
A USG cinesiológica, assim conhecida e reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), é referenciada como exame de imagem cinético-funcional que consta no referencial nacional de procedimentos fisioterapêuticos (RNPF), sendo, assim, um instrumento de avaliação complementar para análise semiológica sob o olhar do fisioterapeuta (com o propósito de quantificar e qualificar os distúrbios funcionais, característicos do fisiodiagnóstico).5
Com a USG cinesiológica, é possível estabelecer com maior precisão a presença de alterações morfofuncionais, bem como o nível de recuperação a partir das condutas fisioterapêuticas estabelecidas em tempo real e verificar objetivamente a melhora das alterações morfofuncionais, o que auxilia na elaboração do plano terapêutico e nos seus possíveis ajustes, bem como no estabelecimento de prognóstico funcional.
A USG point of care (à beira do leito) é cada vez mais utilizada na neonatologia como um complemento valioso para o exame clínico. No entanto, elaborar currículos adequados e garantir processos robustos para o treinamento e credenciamento dos profissionais que realizam a USG cinesiológica é essencial. Existem desafios para a implementação da USG no ambiente de UTIN, e as diferenças no treinamento e acreditação não estão bem descritas. A integração apropriada na tomada de decisões clínicas e a garantia de programas de treinamento apropriados — com base em competências e evidências — são as principais prioridades para garantir que os RNs recebam o benefício ideal da modalidade.2,4
O treinamento e o estudo avançado de técnicas de ultrassom, o conhecimento profundo da anatomia humana, o estudo de artefatos de ultrassom e a semiótica ultrassonográfica são ferramentas cruciais para um ultrassonografista. Isso é particularmente verdade porque a disponibilidade de equipamentos portáteis e de qualidade de ultrassom, frequentemente utilizados em UTIN, tem levado à aplicação de diversas técnicas na investigação de uma determinada enfermidade por profissionais de diferentes formações.1,4,6