Entrar

VIA DE PARTO: EVIDÊNCIAS ATUAIS E ABUSO DE CESARIANAS

Carla Betina Andreucci Polido

epub_All_Artigo1
  • Introdução

Determinar a mais segura e a menos arriscada via de nascimento é um debate cada vez mais atual em obstetrícia. Provavelmente seria impossível selecionar em uma população um número suficiente de mulheres para as quais o tipo de nascimento fosse indiferente, um dos princípios da randomização.

Os ensaios clínicos randomizados de qualidade são as publicações com melhor grau de evidências, e são, isoladamente ou em conjunto (revisão sistemática com metanálises), os estudos que conseguem relacionar uma exposição (causa) a um desfecho (efeito).

A avaliação prospectiva de resultados maternos e perinatais específicos relacionados à via de nascimento (parto vaginal ou cesariana) é, portanto, limitada, o que reduz o nível de evidência e o grau de recomendação disponíveis. Os resultados da literatura, em sua maioria, proveem de estudos observacionais retrospectivos, que não permitem conclusões de causa e efeito.

Para uma gestação de risco habitual com feto único cefálico entre 37 e 41 semanas, a evolução para o trabalho de parto espontâneo mostrou melhores desfechos maternos e perinatais quando comparado ao nascimento por cesariana em estudos observacionais de qualidade. Em uma grande coorte norte-americana com 8.026.415 mulheres, a mortalidade neonatal associada à cirurgia foi 2,4 vezes maior do que no parto vaginal.

É importante destacar o modelo de intenção de tratamento utilizado, ou seja, as mulheres em trabalho de parto que tiveram indicação de cesariana de urgência continuaram avaliadas no braço do estudo “parto vaginal”.1

Os resultados do Global Survey da Organização Mundial da Saúde (OMSOrganização Mundial da Saúde), com 290.610 nascimentos (15.129 no Brasil), mostraram o risco seis vezes maior de complicações graves associadas à cesariana sem indicação médica.2 Mais recentemente, outro estudo mostrou que as taxas de cesarianas maiores do que 10 a 15% aumentam as complicações maternas e perinatais, sem benefícios clínicos, em populações de alta renda, e, portanto, baixa vulnerabilidade sociocultural.3

Parece claro que o parto vaginal é a via de nascimento de escolha para as gestações sem complicações (nível de evidência II, grau de recomendação B). No entanto, a determinação de quais seriam as indicações primárias de cesariana eletiva antes do trabalho de parto, e, ainda, em que situações a cesariana deve ser indicada anteparto ou intraparto, é fundamental para a melhor assistência.

O objetivo deste artigo é discutir as possíveis indicações de cesariana ante e intraparto, especialmente em gestações de risco habitual (baixo risco), em atendimento de emergência ou ambulatorial.

Tendo em vista o panorama atual da assistência obstétrica brasileira, em que 54% das mulheres são submetidas à cesariana, a discussão da via de nascimento pode proporcionar a mudança do cenário com melhora de resultados maternos e perinatais.

Apesar do grande número de nascimentos cirúrgicos, a mortalidade materna continua alta no Brasil, sem atingir a meta de desenvolvimento do milênio da melhora da assistência obstétrica.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • escolher, entre as opções possíveis, a via de nascimento que proporcione os melhores resultados maternos e perinatais para casos individuais;
  • optar pelas melhores técnicas de assistência obstétrica indicadas para cada caso, respeitadas as evidências disponíveis, a sua experiência profissional e as expectativas das parturientes;
  • observar as melhores recomendações para a assistência ao parto vaginal.
  • Esquema conceitual
Este programa de atualização não está mais disponível para ser adquirido.
Já tem uma conta? Faça login