Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer as principais situações de entorse que ocorrem no departamento de emergência e como abordá-las;
- identificar as principais situações de luxações que ocorrem no departamento de emergência e como abordá-las;
- descrever as principais complicações clínicas envolvidas em situações de entorse e luxações;
- indicar e realizar as manobras clássicas de reduções de luxações;
- tratar corretamente as entorses e luxações na fase inicial no departamento de emergência.
Esquema conceitual
Introdução
As entorses e luxações são síndromes clínica relativamente comuns, e que, na sua maioria, são manejadas na sua fase aguda pelo médico emergencista no departamento de emergência. Por envolver o sistema musculoesquelético, acaba que, de forma cultural, se delega muito a conduta para o especialista ortopedista, o qual, em muitos serviços, não estão disponíveis 24 horas para essa avaliação e conduta inicial.
O médico emergencista é um médico generalista e capacitado para uma abordagem de síndromes clínicas agudas, então, neste capítulo, serão trazidos conceitos básicos da avaliação inicial e do manejo das principais apresentações de entorses e luxações que chegam ao departamento de emergência.
Para criar-se uma abordagem mais didática para leitura do capítulo, a leitura será dividida seguindo os seguimentos anatômicos mais acometidos pelas entorses e luxações, fazendo um pequeno resumo anatômico e depois descrevendo o diagnóstico e a conduta.
Ao falarmos sobre entorses e luxações, uma máxima dentro do manejo dessas síndromes clínicas envolve a estabilização das articulações para controle de dor e lesões secundárias. Assim, entorses muito comuns e de menor complexidade dentro do departamento de emergência envolve as entorses de articulações interfalangianas manejadas de forma geral com estabilização/imobilização e analgesia e encaminhamento para o ortopedista em casos mais complexos e com suspeita de fraturas.
Nos tópicos a seguir, são descritas as lesões envolvendo outras articulações de importância.
Luxação de ombro
A luxação de ombro, ou glenoumeral (LGU), é a luxação mais comum do corpo humano, correspondendo a quase 50% dos casos de luxações no departamento de emergência.1
A LGU é a mais comum devido a uma biomecânica instável dessa articulação.1
Anatomicamente, somente um quarto da cabeça umeral se articula com a glenoide, em qualquer angulação. Assim, a presença do lábrum glenoidal permite aprofundar a glenoide em 50% e aumentar a superfície de contato umeral em 75%, para promover uma maior estabilidade a essa articulação. Além disso, o tendão da cabeça longa do bíceps, que se insere na borda superior da glenoide, os tendões do manguito rotator (supraespinhoso, infraespinhoso e redondo menor) e o músculo deltoide são importantes estabilizadores dinâmicos.2
Podem-se citar ainda como estabilizadores o arco coracoacromial e os ligamentos glenoumerais superior, médio e inferior. Esse último, na sua porção anteroinferior, sendo o mais importante estabilizador do ombro quando abduzido em 45°.2
Descrita desde a época de Hipócrates em 450 a.C., a LGU, em mais de 90% dos casos, é anterior, quando a cabeça do úmero se posiciona à frente da glenoide.1 A Figura 1 apresenta a anatomia da articulação do ombro.
FIGURA 1: Articulação do ombro. // Fonte: Kock (2022).3
O perfil que mais se repete no pronto atendimento (PA) é o do adulto jovem ativo, e tem um mecanismo traumático. Por isso, o capítulo irá ater-se mais às luxações anteriores. O mecanismo de trauma mais frequente é o de queda com o braço estendido, abdução e rotação externa. O mecanismo das raras luxações posteriores na maioria das vezes está ligado a convulsões e choques elétricos.4
No atendimento, o paciente chegará sustentando o membro superior acometido, com queixa de dor importante. Durante o exame físico, pode-se notar o sinal da dragona (Figura 2), onde é possível visualizar um sulco da região do ombro e o acrômio proeminente, com palpação da cabeça umeral na região anterior. Ainda, percebe-se um bloqueio da rotação interna e abdução. Devem-se avaliar também alterações neurológicas, pois o nervo axilar pode estar acometido.4
FIGURA 2: Sinal da dragona. // Fonte: 1777177 (2022).5
A avaliação complementar radiológica básica deve ser realizada por meio da série trauma do ombro, onde são solicitadas radiografias em anteroposterior (AP) (onde se visualiza uma sobreposição da cabeça umeral sobre a glenoide), axilar ou velpeau (para avaliar localização da cabeça) e perfil da escápula (cabeça mal centralizada com a glenoide). Nesse momento, também se podem encontrar lesões associadas, entre elas as fraturas da tuberosidade maior do úmero, a lesão de Hill-Sachs (lesão da região posterolateral da cabeça umeral) ou a avulsão óssea do lábrum anteroinferior da glenoide (Bankart ósseo) (Figura 3).6
FIGURA 3: Luxação de ombro. // Fonte: Hecker (2022).7
A tomografia computadorizada, quando for necessário, também pode ser usada para auxiliar e diagnosticar as lesões ósseas.
Então, deve-se realizar a tentativa da redução fechada (incruenta) da LGU (Figura 4). Existem algumas manobras mais realizadas no PA:8
- manobra hipocrática — antiga e simples, essa manobra pode ser de extrema utilidade, principalmente quando encontra sozinho no PA. Com o paciente em decúbito dorsal, o braço estendido e o pé do médico na axila do doente fazendo uma contratração, realiza-se uma tração longitudinal contínua pelo punho, podendo aplicar movimentos de abdução e rotação externa;
- manobra de Stimson — paciente em decúbito ventral, com membro afetado pendente na maca, coloca-se um peso (2,3Kg a 6,8Kg) preso ao punho do paciente realizando tração, até que se consiga um relaxamento da musculatura que se encontra contraída. O fator que pesa contra essa manobra é o fato do longo período de 30 minutos até alcançar a redução esperada;
- manobra de Milch — paciente em decúbito dorsal, realiza-se uma tração constante pelo cotovelo, associada a uma abdução e a uma rotação externa;
- tração-contratação — com paciente em decúbito dorsal, usa-se um lençol ao redor da axila, com um médico fazendo tração longitudinal contínua no punho ou no cotovelo, enquanto o assistente realiza uma contratração com o lençol no lado oposto.
FIGURA 4: Redução de luxação de ombro. // Fonte: Prins (2022).9
Nenhuma manobra tem 100% de garantia de sucesso, e várias delas podem ser tentadas para atingir a redução desejada.
Tão logo foi alcançada a redução, solicita-se um novo estudo radiográfico de controle para confirmação. Confirmada a redução, sugere-se uma tipoia tipo americana para a cicatrização inicial dos estabilizadores, uma avaliação neurovascular e uma prescrição para casa de analgésicos, anti-inflamatórios e crioterapia. Posteriormente, um especialista deve ser consultado para avaliar possíveis lesões associadas.
O melhor método para avaliar lesões associadas é a ressonância magnética do ombro.
Se houver insucesso nas manobras de redução, sugere-se analgesia e relaxantes musculares para uma nova tentativa. Se o serviço contar com especialistas em ortopedia e traumatologia, é prudente pedir auxílio desse profissional.
Entre as causas dos insucessos na redução fechada, além dos espasmos musculares causados pelo evento álgico da LGU, pode haver interposições, como fragmentos ósseos ou da porção da cabeça longa do bíceps, por exemplo.
ATIVIDADES
1. Observe as afirmativas sobre a LGU.
I. Na maioria dos casos, é posterior, quando a cabeça do úmero se posiciona atrás da glenoide.
II. É a luxação mais comum do corpo humano.
III. É uma articulação muito instável, mas que possui alguns estabilizadores.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
A) Apenas a I.
B) Apenas a II.
C) Apenas a I e a II.
D) Apenas a II e a III.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".
A LGU, em mais de 90% dos casos, é anterior, quando a cabeça do úmero se posiciona à frente da glenoide.
Resposta correta.
A LGU, em mais de 90% dos casos, é anterior, quando a cabeça do úmero se posiciona à frente da glenoide.
A alternativa correta é a "D".
A LGU, em mais de 90% dos casos, é anterior, quando a cabeça do úmero se posiciona à frente da glenoide.
2. Sobre os estabilizadores do ombro, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
Ligamento glenoumeral médio.
Ligamento colateral lateral.
Tendão da cabeça longa do bíceps.
Lábrum glenoidal
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — F — V — V
B) F — V — V — F
C) V — F — F — V
D) V — F — V — F
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".
Com uma biomecânica instável, a articulação do glenoumeral possui várias estruturas, estáticas e dinâmicas, capazes de promover mais estabilidade a ela, como tendões, ligamentos, estruturas ósseas e o lábrum. Entre elas estão ligamento glenoumeral médio, tendão da cabeça longa do bíceps, lábrum glenoidal e ligamento glenoumeral anteroinferior.
Resposta correta.
Com uma biomecânica instável, a articulação do glenoumeral possui várias estruturas, estáticas e dinâmicas, capazes de promover mais estabilidade a ela, como tendões, ligamentos, estruturas ósseas e o lábrum. Entre elas estão ligamento glenoumeral médio, tendão da cabeça longa do bíceps, lábrum glenoidal e ligamento glenoumeral anteroinferior.
A alternativa correta é a "A".
Com uma biomecânica instável, a articulação do glenoumeral possui várias estruturas, estáticas e dinâmicas, capazes de promover mais estabilidade a ela, como tendões, ligamentos, estruturas ósseas e o lábrum. Entre elas estão ligamento glenoumeral médio, tendão da cabeça longa do bíceps, lábrum glenoidal e ligamento glenoumeral anteroinferior.
3. No exame físico de uma LGU, é possível notar o sinal de dragona. Descreva o que esse sinal demonstra.
Confira aqui a resposta
No sinal da dragona, é possível visualizar um sulco da região do ombro e o acrômio proeminente, com palpação da cabeça umeral na região anterior. Ainda, percebe-se um bloqueio da rotação interna e abdução.
Resposta correta.
No sinal da dragona, é possível visualizar um sulco da região do ombro e o acrômio proeminente, com palpação da cabeça umeral na região anterior. Ainda, percebe-se um bloqueio da rotação interna e abdução.
No sinal da dragona, é possível visualizar um sulco da região do ombro e o acrômio proeminente, com palpação da cabeça umeral na região anterior. Ainda, percebe-se um bloqueio da rotação interna e abdução.
4. Entre as manobras utilizadas para a redução fechada da LGU, em qual das seguintes manobras se realiza uma tração constante pelo cotovelo, associada a uma abdução e a uma rotação externa?
A) Hipocrática.
B) Stimson.
C) Milch.
D) Tração-contração.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
Na manobra de Milch, com paciente em decúbito dorsal, realiza-se uma tração constante pelo cotovelo, associada a uma abdução e a uma rotação externa.
Resposta correta.
Na manobra de Milch, com paciente em decúbito dorsal, realiza-se uma tração constante pelo cotovelo, associada a uma abdução e a uma rotação externa.
A alternativa correta é a "C".
Na manobra de Milch, com paciente em decúbito dorsal, realiza-se uma tração constante pelo cotovelo, associada a uma abdução e a uma rotação externa.
5. Qual das alternativas a seguir apresenta a indicação adequada para um LGU, caso as manobras de redução não funcionem.
A) Tomografia computadorizada para uma avaliação mais completa da lesão.
B) Analgesia e relaxantes musculares para uma nova tentativa.
C) Cirurgia para a retirada de fragmentos ósseos.
D) Uso de tipoia americana.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
Caso houver insucesso nas manobras de redução, sugere-se analgesia e relaxantes musculares para nova tentativa. Se o serviço contar com especialistas em ortopedia e traumatologia, é prudente pedir auxílio do profissional.
Resposta correta.
Caso houver insucesso nas manobras de redução, sugere-se analgesia e relaxantes musculares para nova tentativa. Se o serviço contar com especialistas em ortopedia e traumatologia, é prudente pedir auxílio do profissional.
A alternativa correta é a "B".
Caso houver insucesso nas manobras de redução, sugere-se analgesia e relaxantes musculares para nova tentativa. Se o serviço contar com especialistas em ortopedia e traumatologia, é prudente pedir auxílio do profissional.
Luxação do joelho
Consideradas como raras, as luxações do joelho são verdadeiras emergências ortopédicas e podem ter consequências devastadoras.1
Uma avaliação minuciosa pode evitar complicações graves, como lesões neurovasculares e até a amputação do membro acometido.1
Normalmente com um mecanismo de trauma de alta energia, relacionada na maioria das vezes com acidentes automobilísticos, uma boa história clínica pode ser de difícil colheita devido ao quadro neurológico que o doente possa apresentar. O exame físico detalhado e amplo pode evitar um prognóstico ruim. Pelo alto índice de redução espontânea da luxação, sinais de gravidade podem passar despercebidos.1
O mecanismo de lesão de alta energia geralmente está relacionado à hiperxtensão do joelho, onde os estabilizadores são acometidos. Entre os principais estabilizadores estão:1
- ligamentos cruzado anterior e cruzado posterior;
- ligamentos colaterais mediais (LCMs) e ligamentos colaterais laterais (LCLs);
- estruturas ósseas.
A luxação pode ser classificada em anterior, posterior, lateral, medial e rotatórias. Entre as lesões associadas, podem ser encontradas fraturas expostas ou não do joelho ou do membro ipsilateral, assim como do quadril, lesões nervosas (nervo fibular o mais comum) e vascular. A lesão da artéria poplítea é a que mais causa aflição no departamento de emergência.10
No exame físico, pode estar limitado devido à complexidade do trauma, podem-se encontrar, além das lesões de tecidos moles, deformidades. A avaliação vascular torna-se a de maior valia nesse momento, em que é necessária uma avaliação com brevidade e reparo precoce da lesão vascular quando presente.11
Sinais de isquemia como palidez e baixa temperatura distal, hematoma expansivo e sopro audível são preditivos para a avaliação rápida de um cirurgião vascular, a fim de reparar o dano vascular. Esse profissional pode fazer uso de uma arteriografia seriada ou de uma intervenção cirúrgica. A taxa de amputação cai bruscamente quando essa abordagem acontece dentro das primeiras 6 horas após o trauma.11
A presença de pulso distal não exclui a lesão vascular, e por isso deve sempre ser solicitado um especialista.11
Muitos serviços e autores usam o índice tornozelo-braquial (ITB) como um método simples não invasivo para avaliar a lesão vascular. O ITB consiste na avaliação da pressão arterial sistólica do membro superior ipslateral comparativamente com a do tornozelo do membro afetado. Se o ITB for maior do que 0,9, o risco de lesão arterial é próximo do nulo e a partir daí pode ser realizada uma avaliação seriada. No entanto, caso esse índice esteja abaixo de 0,9, aumenta o risco dessa lesão e o vascular deve ser contactado imediatamente.11
Caso a lesão vascular seja excluída, é prudente a atenção do ortopedista com o intuito de avaliar e conduzir as lesões associadas, com um exame físico mais específico e radiografias AP, perfil e oblíqua em 45° do joelho, entre outras.
Quando os traumas são de menor energia, como em práticas esportivas, ou até mesmo em uma queda sobre o joelho, eles podem ser considerados apenas como uma entorse do joelho. Nesses casos, tem-se um quadro clínico mais brando, com claudicação, dor e edema do joelho afetado. Uma simples radiografia em AP e perfil servem para excluir fraturas.12
Em alguns casos especiais, pode encontrar-se um sinal radiográfico na incidência AP chamado fratura-avulsão de Segond, em que se observa um pequeno fragmento ósseo na topografia anterolateral da tíbia. Esse sinal é altamente sugestivo de uma ruptura do ligamento cruzado anterior.12
Simples medidas iniciais como a prescrição de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), analgésicos e gelo podem aliviar a dor do paciente até uma avaliação do especialista.12
ATIVIDADES
6. Quais são os principais estabilizadores do joelho?
Confira aqui a resposta
Entre os principais estabilizadores do joelho estão os ligamentos cruzado anterior e cruzado posterior; os LCMs e LCLs; as estruturas ósseas.
Resposta correta.
Entre os principais estabilizadores do joelho estão os ligamentos cruzado anterior e cruzado posterior; os LCMs e LCLs; as estruturas ósseas.
Entre os principais estabilizadores do joelho estão os ligamentos cruzado anterior e cruzado posterior; os LCMs e LCLs; as estruturas ósseas.
7. Qual das alternativas a seguir melhor define o ITB?
A) Avaliação da pressão arterial sistólica do membro superior ipslateral comparativamente com a do tornozelo do membro afetado.
B) Avaliação do membro superior contralateral comparativamente com a do tornozelo afetado.
C) Observação de fragmentos ósseos na topografia anterolateral da tíbia.
D) Teste realizado em baixa temperatura para avaliação de dano vascular.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".
O ITB consiste na avaliação da pressão arterial sistólica do membro superior ipslateral comparativamente com a do tornozelo do membro afetado. Se o ITB for maior do que 0,9, o risco de lesão arterial é próximo do nulo, e, a partir daí, pode ser realizada uma avaliação seriada. No entanto, caso esse índice esteja abaixo de 0,9, aumenta o risco da lesão, e o vascular deve ser contactado imediatamente.
Resposta correta.
O ITB consiste na avaliação da pressão arterial sistólica do membro superior ipslateral comparativamente com a do tornozelo do membro afetado. Se o ITB for maior do que 0,9, o risco de lesão arterial é próximo do nulo, e, a partir daí, pode ser realizada uma avaliação seriada. No entanto, caso esse índice esteja abaixo de 0,9, aumenta o risco da lesão, e o vascular deve ser contactado imediatamente.
A alternativa correta é a "A".
O ITB consiste na avaliação da pressão arterial sistólica do membro superior ipslateral comparativamente com a do tornozelo do membro afetado. Se o ITB for maior do que 0,9, o risco de lesão arterial é próximo do nulo, e, a partir daí, pode ser realizada uma avaliação seriada. No entanto, caso esse índice esteja abaixo de 0,9, aumenta o risco da lesão, e o vascular deve ser contactado imediatamente.
Entorses de tornozelo
A entorse de tornozelo é uma ocorrência muito comum no departamento de emergência e não é exclusiva da ortopedia e da traumatologia, podendo ser muito bem conduzida pelo médico emergencista.
É comum a entorse de tornozelo ser encontrada em qualquer população, mas ela tem uma predileção por adultos jovens ativos e esportistas em geral. Sua avaliação inicial, com um bom questionamento sobre mecanismo do trauma e tempo decorrido da lesão, é fator preponderante para a finalidade de evitar lesões mais graves, como dor, diminuição do arco de movimento (ADM) e instabilidade crônica do tornozelo afetado.13
Apesar de ter bom prognóstico na maioria das vezes, um bom exame físico no atendimento inicial pode evitar complicações em uma articulação que necessita de um bom desempenho funcional durante toda a vida.13
A maioria das entorses de tornozelo é a lateral, que afeta os ligamentos da parte externa, em um mecanismo conhecido como inversão (posição de flexão plantar). Esses ligamentos são responsáveis pela estabilidade lateral e consistem nos ligamentos talofibular anterior (LTFA), calcaneofibular (LCF) e talofibular posterior (LTFP) (Figura 5), sendo o primeiro o mais lesionado.14
FIGURA 5: Anatomia da articulação do tornozelo. // Fonte: Medicalstocks (2022).15
O ligamento deltoide, um forte ligamento encontrado na região medial do tornozelo, geralmente é lesionado quando acontece um trauma em eversão e rotação externa. Uma entorse mais rara é a “entorse alta”, também em um mecanismo de rotação externa com pé preso ao chão, quando lesiona-se a sindesmose, que tem a função de prevenir a separação da tíbia e a fíbula e dar estabilidade à mortalha do tornozelo.14
Durante o exame físico, podem ser encontrados edema, equimose, dor à palpação e incapacidade de apoiar o pé no chão. Deformidades e assimetrias podem estar relacionadas a fraturas. As entorses podem ser classificadas em graus, como descrito no Quadro 1.
Quadro 1
CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE DAS ENTORSES DE TORNOZELO |
|||
Sinal/sintoma |
Grau 1 |
Grau 2 |
Grau 3 |
Rompimento do ligamento |
Ausente |
Parcial |
Completo |
Perda de funcionalidade |
Mínima |
Alguma |
Acentuada |
Dor |
Mínima |
Moderada |
Severa |
Inchaço |
Mínimo |
Moderado |
Severo |
Equimose |
Normalmente ausente |
Comum |
Sim |
Dificuldade de sustentar o peso |
Nenhuma |
Usual |
Quase sempre |
// Fonte: Adaptado de Ivins (2006).16
Seguindo para avaliação radiológica, foi criada a Regra de Ottawa, a fim de excluir fraturas e radiografias desnecessárias. Apesar de pouco usada na prática clínica, na qual os especialistas costumam sempre pedir a série trauma do tornozelo (AP, perfil e Mortalha) nos atendimentos de emergência, ela é muito encontrada na literatura devido a sua alta sensibilidade, mas baixa especificidade.17
Os pontos a serem avaliados são dor à palpação da zona maleolar (lateral, medial ou bimaleolar) e mais um dos critérios a seguir:
- incapacidade de caminhar 4 passos na sala de atendimento, logo após a entorse;
- dor à palpação na borda posterior ou da ponta do maléolo lateral;
- dor à palpação na borda posterior ou da ponta do maléolo medial.
Caso haja dor no médio pé, com palpação dolorosa da base do 5º metatarso ou do osso navicular, devem solicitar-se radiografias do pé em AP, perfil e oblíquo.
Os objetivos do tratamento inicial da entorse de tornozelo devem priorizar a diminuição da dor e o edema, assim como proteger os ligamentos de futuras e instabilidades crônicas que possam vir a acontecer.
A prescrição de AINEs e analgésicos via oral, além do protocolo Proteção/Imobilização, Repouso, Gelo, Compressão e Elevação (PRICE) podem ser de extrema eficiência.
Prudentemente, pode-se imobilizar o tornozelo com uma tala semirrígida, tipo tala bota, e reavaliá-lo dentro de 5 a 7 dias, se possível com médico ortopedista.
ATIVIDADES
8. A Regra de Ottawa é mundialmente usada na propedêutica das entorses de tornozelo. Qual a sua finalidade?
A) Padronizar a prescrição medicamentosa.
B) Avaliar o tipo de imobilização necessário pós-entorse.
C) Mensurar o ADM após a lesão.
D) Excluir fraturas e evitar radiografias desnecessárias.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".
Com alta sensibilidade e com a intenção de evitar radiografias em entorses com baixa possibilidade de fratura, a Regra de Ottawa consiste em uma avaliação palpatória de pontos específicos, assim como na capacidade de tolerar carga no tornozelo afetado.
Resposta correta.
Com alta sensibilidade e com a intenção de evitar radiografias em entorses com baixa possibilidade de fratura, a Regra de Ottawa consiste em uma avaliação palpatória de pontos específicos, assim como na capacidade de tolerar carga no tornozelo afetado.
A alternativa correta é a "D".
Com alta sensibilidade e com a intenção de evitar radiografias em entorses com baixa possibilidade de fratura, a Regra de Ottawa consiste em uma avaliação palpatória de pontos específicos, assim como na capacidade de tolerar carga no tornozelo afetado.
9. Em qual situação o ligamento deltoide é mais comumente lesionado?
A) Queda com rotação externa do membro.
B) Trauma de alta energia.
C) Trauma em eversão e rotação externa.
D) Inversão plantar.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
O ligamento deltoide, um forte ligamento encontrado na região medial do tornozelo, geralmente é lesionado quando acontece um trauma em eversão e rotação externa.
Resposta correta.
O ligamento deltoide, um forte ligamento encontrado na região medial do tornozelo, geralmente é lesionado quando acontece um trauma em eversão e rotação externa.
A alternativa correta é a "C".
O ligamento deltoide, um forte ligamento encontrado na região medial do tornozelo, geralmente é lesionado quando acontece um trauma em eversão e rotação externa.
Luxação de cotovelo
O cotovelo é a segunda articulação mais luxada nos adultos. Ela pode ser classificada em simples, quando não há comprometimento ósseo, ou seja, fratura, e complexas, quando observam-se fraturas. As luxações simples do cotovelo podem ser tratadas na sua enorme maioria de maneira conservadora, se bem conduzidas.18
Os estabilizadores do cotovelo envolvem estruturas ósseas, capsuloligamentares e musculotendíneas. A estabilização primária é feita pela articulação ulnoumeral, pela banda anterior do LCM e pelo complexo LCL (Figura 6). Eles são complementados pela estabilização secundária feita pela cabeça do rádio e pela coronoide, pela cápsula anterior, além da estabilização dinâmica realizada pelos músculos que circundam o cotovelo.19
FIGURA 6: Anatomia da articulação do cotovelo. // Fonte: VectorMine (2022).20
O mecanismo de trauma mais comum é o de queda com a mão espalmada, com uma carga axial, e o antebraço em rotação externa/supinação, levando a um estresse em valgo. Esse mecanismo leva a uma luxação rotatória posterolateral presente em 80% dos casos.21
Vários autores utilizam os Estágios de O’Driscoll, uma sequência de ruptura que vai de lateral para medial, para definir o mecanismo posterolateral. O primeiro estágio consiste em uma ruptura parcial ou total do LCL, seguido pela lesão da cápsula anterior e posterior, e então a lesão do LCM.
A avaliação inicial consistirá em uma história para melhor entender o mecanismo de trauma. O paciente irá apresentar-se com quadro de dor e deformidade sustentada do cotovelo, com uma amplitude de movimento limitada. A avaliação neurovascular também não pode ser deixada de lado.
Radiografias em AP e perfil do cotovelo normalmente são suficientes para definir a incongruência articular (Figura 7).
FIGURA 7: Exame radiológico da articulação do cotovelo. // Fonte: Therads (2022).22
Após uma avaliação clínica e de imagens, manobras de redução devem ser tentadas. Existem várias técnicas e a mais utilizada é a de Parvin, com o paciente em decúbito ventral e o membro superior afastado para o pendente fora da maca. Nesse momento, há a necessidade do relaxamento da musculatura, e então se realiza uma tração contínua para baixo com uma das mãos, enquanto a outra comprime o olecrano distalmente para a fossa olecraniana.
Em seguida, a estabilidade deve ser testada realizando-se uma flexoextensão do cotovelo com o antebraço na posição neutra de rotação. Por fim, um raio X de controle é solicitado para comprovar a congruência articular.
Se comprovada uma redução via imagem, uma tipoia americana pode ser indicada para dar um conforto ao paciente, junto com a prescrição medicamentosa de AINEs, analgésicos e crioterapia.
Um profissional ortopedista deve ser consultado no período de uma semana.
ATIVIDADES
10. Observe as afirmativas sobre a luxação de cotovelo.
I. É a articulação mais luxada em adultos.
II. A maioria das luxações simples do cotovelo podem ser tratadas de maneira conservadora, se bem conduzidas.
III. O mecanismo de trauma mais comum é o de queda com a mão espalmada, com uma carga no antebraço em rotação interna.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
A) Apenas a I.
B) Apenas a II.
C) Apenas a III.
D) Apenas a I e a II.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
O cotovelo é a segunda articulação mais luxada nos adultos. O mecanismo de trauma mais comum é o de queda com a mão espalmada, com uma carga axial e o antebraço em rotação externa/supinação, levando a um estresse em valgo.
Resposta correta.
O cotovelo é a segunda articulação mais luxada nos adultos. O mecanismo de trauma mais comum é o de queda com a mão espalmada, com uma carga axial e o antebraço em rotação externa/supinação, levando a um estresse em valgo.
A alternativa correta é a "B".
O cotovelo é a segunda articulação mais luxada nos adultos. O mecanismo de trauma mais comum é o de queda com a mão espalmada, com uma carga axial e o antebraço em rotação externa/supinação, levando a um estresse em valgo.
Luxação do quadril
As luxações de quadril em geral ocorrem em traumas de alta energia, como em acidentes de veículos automotivos e quedas de alturas. Isso porque a articulação do quadril possui ligamentos capsulares fortes que trazem uma boa estabilidade, como o íleofemoral, o pubofemoral e o ísquifemoral (Figura 8).1
FIGURA 8: Luxação do quadril. // Fonte: Alila Medical Media (2022).23
Quando luxada, a articulação do quadril promove uma emergência ortopédica e deve ser reduzida dentro de 6 horas desde o trauma, devido à perda da sua vascularização, podendo levar a uma necrose avascular da cabeça do fêmur.1
Quando excluídas as lesões potencialmente letais que podem estar associadas ao trauma e o paciente estiver estável, a redução deve ser priorizada.1
As luxações podem ser anteriores e posteriores, sendo essas últimas muito mais frequentes.
Na avaliação do paciente, haverá uma queixa de dor forte, com impotência do membro afetado. Quando posterior, encontra-se o quadril em flexão, adução, rotação interna, além de um encurtamento do membro inferior em relação ao contralateral. Nas luxações anteriores, flexão, abdução e rotação externa. A avaliação neurológica para afastar lesão do nervo isquiático deve ser realizada tanto antes quanto após a redução.
Deve-se solicitar uma radiografia simples de bacia em AP, na qual deve-se encontrar uma incongruência articular da cabeça em relação ao acetábulo. Fraturas da cabeça, do colo e da diáfise do fêmur, assim como do acetábulo e do joelho, podem estar associadas.1
Caso não se encontrem fraturas desviadas do quadril ou do joelho associadas, manobras de redução podem ser tentadas de maneira incruenta. Se possível, sob narcose. Autores sugerem não mais do que duas ou três tentativas.
A manobra mais famosa é a de Allis, em que o paciente fica em decúbito dorsal, estabiliza-se a pelve na espinha ilíaca anterossuperior realizando a flexão do joelho e do quadril com uma tração longitudinal contínua, podendo efetuar uma adução e uma rotação interna.
Após a redução, deve-se realizar um novo estudo radiográfico e uma nova avalição neurológica. Caso seja obtido sucesso, o paciente deve ser encaminhado para um especialista traumato-ortopédico para acompanhamento de ocasionais complicações.
ATIVIDADES
11. Qual das seguintes alternativas apresenta uma complicação possível e que faz a luxação de quadril ser uma emergência ortopédica?
A) Alterações neurológicas.
B) Lesão da artéria poplítea.
C) Perda de função da tíbia.
D) Necrose avascular da cabeça do fêmur.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".
Quando luxada, a articulação do quadril promove uma emergência ortopédica e deve ser reduzida dentro de 6 horas desde o trauma, devido à perda da sua vascularização, podendo levar a uma necrose avascular da cabeça do fêmur.
Resposta correta.
Quando luxada, a articulação do quadril promove uma emergência ortopédica e deve ser reduzida dentro de 6 horas desde o trauma, devido à perda da sua vascularização, podendo levar a uma necrose avascular da cabeça do fêmur.
A alternativa correta é a "D".
Quando luxada, a articulação do quadril promove uma emergência ortopédica e deve ser reduzida dentro de 6 horas desde o trauma, devido à perda da sua vascularização, podendo levar a uma necrose avascular da cabeça do fêmur.
12. Por que é necessário realizar avaliação neurológia em casos de luxação do quadril?
Confira aqui a resposta
A avaliação neurológica é necessária para afastar a lesão do nervo isquiático e deve ser realizada o mais breve possível após a redução.
Resposta correta.
A avaliação neurológica é necessária para afastar a lesão do nervo isquiático e deve ser realizada o mais breve possível após a redução.
A avaliação neurológica é necessária para afastar a lesão do nervo isquiático e deve ser realizada o mais breve possível após a redução.
Subluxação de articulação temporomandibular
A luxação temporomandibular é algo não muito frequente no departamento de emergência, mas, quando acontece, poucos profissionais sabem como proceder diante da falta de conhecimento anatômico relacionada a essa articulação.
A mandíbula é o osso de mais amplo movimento da cabeça por se unir ao crânio por meio de articulações sinoviais. O corpo da mandíbula prolonga-se em sentido posterossuperior para formar o ramo ascendente que se divide em dois processos. O anterior é o processo coronoide, e o posterior, o processo condilar, do qual faz parte o côndilo da mandíbula.24
O côndilo é a parte da mandíbula que se articula com o crânio. Ele se articula na base do crânio com a porção petrosa do osso temporal. Nela encontra-se uma fossa côncava, na qual o côndilo se encaixa, chamada de cavidade mandibular ou cavidade glenoide. Na parte imediatamente anterior à fossa, está uma projeção óssea, a eminência articular.24
A vista lateral das estruturas anatômicas que compõem a articulação temporomandibular (ATM) em situação de luxação (Figura 9), apresenta:24
- eminência articular anterior esquerda;
- processo condilar esquerdo;
- cavidade mandibular (glenoide) esquerda.
FIGURA 10: ATM. // Fonte: Mit (2022).25
Entende-se por subluxação da ATM um movimento súbito do côndilo para a frente durante o último estágio da abertura. O paciente que subluxa a ATM normalmente relata que a mandíbula “se desloca” toda vez que se abre bastante a boca (Figura 10). Alguns pacientes relatam um estalido, mas, quando observado clinicamente, o estalido não é semelhante ao de um deslocamento de disco.26
FIGURA 10: Aspecto da luxação de mandíbula ao exame físico. // Fonte: Zarina (2022).27
Os procedimentos clássicos de redução de luxação espontânea da ATM consistem em fazer o caminho inverso ao da luxação (Figura 11).24
FIGURA 11: Luxação de mandíbula. // Fonte: Mit (2022).28
A técnica de redução de luxação espontânea da ATM é feita da seguinte forma: protegem-se os polegares com gazes e esparadrapos e toma-se a mandíbula apoiando os polegares sobre a face oclusal ou, preferentemente, no espaço retromolar. Com os demais dedos, envolve-se o corpo mandibular pela sua margem inferior. Segurando firmemente, força-se a mandíbula para baixo com o objetivo de fazer com que o côndilo ultrapasse a altura da eminência articular e, ao mesmo tempo, bascula-se a mandíbula tentando empurrá-la para trás.24
ATIVIDADES
13. Ao identificar-se uma luxação de mandíbula, em que o paciente relata já ter histórico de eventos prévios, qual a conduta mais indicada?
A) Solicitar tomografia de ATM.
B) Solicitar parecer da odontologia.
C) Aplicar manobra clássica para redução de luxação.
D) Solicitar radiografia simples.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
Para se reduzir uma luxação de ATM, realiza-se a manobra de redução. Protegem-se os polegares com gazes e esparadrapos e toma-se a mandíbula apoiando os polegares sobre a face oclusal ou, preferentemente, no espaço retromolar. Com os demais dedos, envolve-se o corpo mandibular pela sua margem inferior. Segurando firmemente, força-se a mandíbula para baixo com o objetivo de fazer com que o côndilo ultrapasse a altura da eminência articular e ao mesmo tempo bascula-se a mandíbula tentando empurrá-la para trás.
Resposta correta.
Para se reduzir uma luxação de ATM, realiza-se a manobra de redução. Protegem-se os polegares com gazes e esparadrapos e toma-se a mandíbula apoiando os polegares sobre a face oclusal ou, preferentemente, no espaço retromolar. Com os demais dedos, envolve-se o corpo mandibular pela sua margem inferior. Segurando firmemente, força-se a mandíbula para baixo com o objetivo de fazer com que o côndilo ultrapasse a altura da eminência articular e ao mesmo tempo bascula-se a mandíbula tentando empurrá-la para trás.
A alternativa correta é a "C".
Para se reduzir uma luxação de ATM, realiza-se a manobra de redução. Protegem-se os polegares com gazes e esparadrapos e toma-se a mandíbula apoiando os polegares sobre a face oclusal ou, preferentemente, no espaço retromolar. Com os demais dedos, envolve-se o corpo mandibular pela sua margem inferior. Segurando firmemente, força-se a mandíbula para baixo com o objetivo de fazer com que o côndilo ultrapasse a altura da eminência articular e ao mesmo tempo bascula-se a mandíbula tentando empurrá-la para trás.
14. Quais das luxações a seguir podem ser consideradas emergências?
A) Ombro e joelho.
B) Quadril e cotovelo.
C) Joelho e quadril.
D) Ombro e cotovelo.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
As articulações do joelho e do quadril são consideradas emergências ortopédicas por questões de vascularização e devem ser abordadas antes de 6 horas do horário do trauma. No joelho, as alterações vasculares podem levar à amputação do membro. Já no quadril, a falta de congruência acetábulo/cabeça do fêmur inibe a vascularização da cabeça e tem como consequência uma osteonecrose.
Resposta correta.
As articulações do joelho e do quadril são consideradas emergências ortopédicas por questões de vascularização e devem ser abordadas antes de 6 horas do horário do trauma. No joelho, as alterações vasculares podem levar à amputação do membro. Já no quadril, a falta de congruência acetábulo/cabeça do fêmur inibe a vascularização da cabeça e tem como consequência uma osteonecrose.
A alternativa correta é a "C".
As articulações do joelho e do quadril são consideradas emergências ortopédicas por questões de vascularização e devem ser abordadas antes de 6 horas do horário do trauma. No joelho, as alterações vasculares podem levar à amputação do membro. Já no quadril, a falta de congruência acetábulo/cabeça do fêmur inibe a vascularização da cabeça e tem como consequência uma osteonecrose.
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Jovem de 19 anos de idade, jogadora recreativa de handball, relata que “virou o pé” durante treinamento. Apresenta-se com claudicação, edema na região do maléolo lateral do tornozelo direito, além de dor à palpação na base do 5º metatarso. Radiografias excluíram lesões ósseas agudas (fraturas).
ATIVIDADES
15. Considerando que não haja ortopedista na região, qual a melhor forma de conduzir o caso 1?
A) Encaminhar para o ortopedista mais próximo assim que possível.
B) Tala bota, AINE e reavaliação com ortopedista dentro de 7 dias.
C) Internação e controle álgico venoso.
D) Compressa de gelo apenas.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
Quando excluídas fraturas, uma entorse pode ser tratada com medidas simples como imobilização, controle de carga e medicação oral. E, posteriormente, pode ser reavaliada pelo especialista. Dessa forma protege-se o paciente de repercussões crônicas que podem vir a acontecer.
Resposta correta.
Quando excluídas fraturas, uma entorse pode ser tratada com medidas simples como imobilização, controle de carga e medicação oral. E, posteriormente, pode ser reavaliada pelo especialista. Dessa forma protege-se o paciente de repercussões crônicas que podem vir a acontecer.
A alternativa correta é a "B".
Quando excluídas fraturas, uma entorse pode ser tratada com medidas simples como imobilização, controle de carga e medicação oral. E, posteriormente, pode ser reavaliada pelo especialista. Dessa forma protege-se o paciente de repercussões crônicas que podem vir a acontecer.
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Paciente do sexo masculino, 23 anos de idade, vítima de colisão automobilística com lesão de partes moles do membro inferior esquerdo há 5 horas. Ao exame, paciente politraumatizado, exposição óssea em joelho esquerdo, pouco responsivo, com palidez de membro inferior esquerdo com pulso da artéria tibial posterior presente.
ATIVIDADES
16. Qual a melhor conduta para o caso 2?
A) Solicitar avaliação imediata do cirurgião vascular.
B) Solicitar radiografias e parecer para a equipe de traumato-ortopedia.
C) Proceder a uma avaliação seriada do ITB.
D) Realizar curativo compressivo e tomografia computadorizada.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".
A presença de pulso distal não exclui a lesão vascular. Logo, a avaliação do cirurgião vascular dentro das primeiras 6 horas diminui consideravelmente a taxa de amputação do membro acometido.
Resposta correta.
A presença de pulso distal não exclui a lesão vascular. Logo, a avaliação do cirurgião vascular dentro das primeiras 6 horas diminui consideravelmente a taxa de amputação do membro acometido.
A alternativa correta é a "A".
A presença de pulso distal não exclui a lesão vascular. Logo, a avaliação do cirurgião vascular dentro das primeiras 6 horas diminui consideravelmente a taxa de amputação do membro acometido.
Conclusão
Para o manejo das entorses e das luxações no departamento de emergência, o médico emergencista deve ter alguns conceitos básicos para sucesso da abordagem inicial. Ele deve ter a lembrança da anatomia básica da articulação envolvida, saber que se devem sempre excluir fraturas associadas e ter convicção de que a estabilização e a imobilização da articulação envolvida fazem parte de todo o manejo inicial no departamento de emergência, sendo receita de uma conduta segura.
A analgesia medicamentosa e até mesmo o uso de crioterapia são terapias interessantes para o controle de dor. Na dúvida ou na identificação de lesões mais complexas com suspeita de lesões vasculares, fraturas e ou lesões ligamentares mais graves, o paciente deve sempre, após conduta inicial, ser encaminhado para uma avaliação do médico ortopedista.
Atividades: Respostas
Comentário: A LGU, em mais de 90% dos casos, é anterior, quando a cabeça do úmero se posiciona à frente da glenoide.
Comentário: Com uma biomecânica instável, a articulação do glenoumeral possui várias estruturas, estáticas e dinâmicas, capazes de promover mais estabilidade a ela, como tendões, ligamentos, estruturas ósseas e o lábrum. Entre elas estão ligamento glenoumeral médio, tendão da cabeça longa do bíceps, lábrum glenoidal e ligamento glenoumeral anteroinferior.
RESPOSTA: No sinal da dragona, é possível visualizar um sulco da região do ombro e o acrômio proeminente, com palpação da cabeça umeral na região anterior. Ainda, percebe-se um bloqueio da rotação interna e abdução.
Comentário: Na manobra de Milch, com paciente em decúbito dorsal, realiza-se uma tração constante pelo cotovelo, associada a uma abdução e a uma rotação externa.
Comentário: Caso houver insucesso nas manobras de redução, sugere-se analgesia e relaxantes musculares para nova tentativa. Se o serviço contar com especialistas em ortopedia e traumatologia, é prudente pedir auxílio do profissional.
RESPOSTA: Entre os principais estabilizadores do joelho estão os ligamentos cruzado anterior e cruzado posterior; os LCMs e LCLs; as estruturas ósseas.
Comentário: O ITB consiste na avaliação da pressão arterial sistólica do membro superior ipslateral comparativamente com a do tornozelo do membro afetado. Se o ITB for maior do que 0,9, o risco de lesão arterial é próximo do nulo, e, a partir daí, pode ser realizada uma avaliação seriada. No entanto, caso esse índice esteja abaixo de 0,9, aumenta o risco da lesão, e o vascular deve ser contactado imediatamente.
Comentário: Com alta sensibilidade e com a intenção de evitar radiografias em entorses com baixa possibilidade de fratura, a Regra de Ottawa consiste em uma avaliação palpatória de pontos específicos, assim como na capacidade de tolerar carga no tornozelo afetado.
Comentário: O ligamento deltoide, um forte ligamento encontrado na região medial do tornozelo, geralmente é lesionado quando acontece um trauma em eversão e rotação externa.
Comentário: O cotovelo é a segunda articulação mais luxada nos adultos. O mecanismo de trauma mais comum é o de queda com a mão espalmada, com uma carga axial e o antebraço em rotação externa/supinação, levando a um estresse em valgo.
Comentário: Quando luxada, a articulação do quadril promove uma emergência ortopédica e deve ser reduzida dentro de 6 horas desde o trauma, devido à perda da sua vascularização, podendo levar a uma necrose avascular da cabeça do fêmur.
RESPOSTA: A avaliação neurológica é necessária para afastar a lesão do nervo isquiático e deve ser realizada o mais breve possível após a redução.
Comentário: Para se reduzir uma luxação de ATM, realiza-se a manobra de redução. Protegem-se os polegares com gazes e esparadrapos e toma-se a mandíbula apoiando os polegares sobre a face oclusal ou, preferentemente, no espaço retromolar. Com os demais dedos, envolve-se o corpo mandibular pela sua margem inferior. Segurando firmemente, força-se a mandíbula para baixo com o objetivo de fazer com que o côndilo ultrapasse a altura da eminência articular e ao mesmo tempo bascula-se a mandíbula tentando empurrá-la para trás.
Comentário: As articulações do joelho e do quadril são consideradas emergências ortopédicas por questões de vascularização e devem ser abordadas antes de 6 horas do horário do trauma. No joelho, as alterações vasculares podem levar à amputação do membro. Já no quadril, a falta de congruência acetábulo/cabeça do fêmur inibe a vascularização da cabeça e tem como consequência uma osteonecrose.
Comentário: Quando excluídas fraturas, uma entorse pode ser tratada com medidas simples como imobilização, controle de carga e medicação oral. E, posteriormente, pode ser reavaliada pelo especialista. Dessa forma protege-se o paciente de repercussões crônicas que podem vir a acontecer.
Comentário: A presença de pulso distal não exclui a lesão vascular. Logo, a avaliação do cirurgião vascular dentro das primeiras 6 horas diminui consideravelmente a taxa de amputação do membro acometido.
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Como citar a versão impressa deste documento
Rampinelli AM, Coimbra D. Abordagem de entorses e luxações no departamento de emergência. In: Associação Brasileira de Medicina de Emergência; Guimarães HP, Borges LAA, organizadores. PROMEDE Programa de Atualização em Medicina de Emergência: Ciclo 6. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2023. p. 85–108. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 1). https://doi.org/10.5935/978-65-5848-854-5.C0002