Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar fatores epidemiológicos e fatores de alto risco para trauma cardíaco fechado;
- reconhecer o rastreio e o manejo inicial dos pacientes suspeitos para trauma cardíaco fechado;
- indicar a utilização de métodos complementares para a avaliação cardiológica do paciente vítima de trauma;
- diferenciar situações especiais relacionadas ao trauma cardíaco fechado e seu manejo específico.
Esquema conceitual
Introdução
O traumatismo cardíaco fechado pode ser interpretado como a lesão miocárdica decorrente de trauma torácico fechado, apesar de não haver uma definição universalmente aceita na literatura médica. Pela ausência de uma definição clara e de um sistema objetivo amplamente aceito para classificação, esse tipo específico de trauma é uma entidade clínica desafiadora.1
A forma mais comum de apresentação é a contusão miocárdica (lesão ao miocárdio), no entanto o trauma cardíaco pode apresentar-se de diversas maneiras: assintomático, complicações mecânicas, disfunção miocárdica e arritmia.
Ao longo deste capítulo, serão revisados os mecanismos de trauma, epidemiologia, exames complementares para diagnóstico e manejo dessas situações.
Epidemiologia
Dados de incidência sobre o trauma cardíaco fechado são pouco disponíveis, principalmente devido às diversas definições adotadas, ao amplo espectro de manifestações e à ausência de critérios diagnósticos bem definidos. A maioria dos casos estão relacionados a acidentes automobilísticos, e ele é mais frequente na população masculina.2,3
Revisões recentes relatam taxas que variam de 3 a 76% dos pacientes vítimas de trauma, podendo causar até 20% das mortes relacionadas a acidentes automobilísticos.4
Mecanismos
Os principais mecanismos envolvidos no traumatismo cardíaco fechado são:5
- desaceleração abrupta e consequentes forças de cisalhamento;
- trauma direto sobre a parede torácica, com compressão miocárdica contra a coluna ou o esterno;
- variações abruptas de pressão no tórax e no abdome.
As câmaras direitas estão mais suscetíveis ao traumatismo, devido a sua localização anatômica e proximidade com a parede torácica5 (Figura 1).
FIGURA 1: Imagem ilustrando a proximidade das câmaras cardíacas direitas ao esterno. // Fonte: Flowersandtraveling (2022).6
Manejo
O manejo pré-hospitalar e hospitalar de pacientes com suspeita de trauma cardíaco fechado deve respeitar a sequência de atendimento preconizada pelo algoritmo do Advanced Trauma Life Support (ATLS). Dessa forma, pacientes com hipotensão devem ser manejados como portadores de choque hemorrágico, e não disfunção cardíaca, até que se prove o contrário.7
Durante o atendimento de pacientes com trauma torácico fechado, deve haver uma suspeição para o trauma cardíaco, sobretudo em pacientes com comemorativos que apontam para possível trauma de alto impacto, como sinais de lesão pelo cinto de segurança, enfisema subcutâneo ou deformidade na parede torácica.1
Em diversos estudos observacionais prévios, a fratura de esterno foi associada ao trauma cardíaco, apesar de não necessariamente estarem presentes de modo simultâneo. A presença de hipotensão sem resposta hemodinâmica adequada à reposição volêmica em paciente com trauma torácico também deve ser um fator de suspeição. Os fatores mencionados não são específicos, mas ajudam a determinar quais são os pacientes suspeitos e que, portanto, necessitam de avaliação adicional.1
O rastreamento dos pacientes suspeitos deve incluir, pelo menos, um eletrocardiograma de 12 derivações e a dosagem de troponina, preferencialmente a troponina I.
No eletrocardiograma, uma grande variedade de alterações pode ser identificada, desde bradicardia ou taquicardia sinusal, a arritmias ventriculares. A alteração mais comum, excetuando-se os ritmos sinusais, são os bloqueios de ramo. Em paciente com taquicardia sinusal mantida, no contexto de trauma, a principal hipótese é a de choque hipovolêmico, até que se prove o contrário, e essa alteração só deve ser atribuída ao trauma cardíaco quando afastado o sangramento.
A dosagem de troponina, apesar de recomendada pela maioria dos autores, não é consenso, e alguns especialistas defendem o rastreio somente em casos extremamente selecionados, tendo em vista o grande número de falso-positivos.8
A Figura 2 apresenta fluxograma para abordagem de paciente suspeito de trauma cardíaco fechado.
ATLS: advanced trauma life support.
FIGURA 1: Fluxograma para abordagem de paciente suspeito de trauma cardíaco fechado. // Fonte: Adaptada de Bellister e colaboradores (2017).1
Pacientes com estabilidade hemodinâmica, troponina negativa e eletrocardiograma podem ter afastado o diagnóstico de trauma cardíaco fechado e receber alta, se as demais condições relacionadas ao trauma permitirem.1,5
Em pacientes com alteração nos exames de admissão, recomenda-se a admissão hospitalar, em leito com monitorização contínua e repetição dos exames para avaliação evolutiva. Em caso de instabilidade hemodinâmica, recomenda-se a realização de ecocardiograma, que poderá auxiliar na determinação da causa da instabilidade, indicar preditores de resposta à reposição volêmica, estimar a necessidade de suporte vasopressor ou inotrópico e identificar complicações mecânicas que possam requerer intervenção.2,9
O uso da janela transesofágica está indicado em caso de janela inadequada no exame transtorácico ou de necessidade de investigação adicional e mais detalhada de lesões.2,9
[diagnóstico] O uso da tomografia computadorizada convencional pode ser útil para a identificação de derrame pericárdico, mas possui limitações para as demais avaliações devido ao movimento cardíaco.1,7
O uso da tomografia computadorizada sincronizada ao eletrocardiograma ou à ressonância magnética pode ser útil para a avaliação de complicações mecânicas e no diagnóstico diferencial entre trauma cardíaco fechado e infarto do miocárdio. Ambos os métodos apresentam importância.1,7
Tratamento
O tratamento do choque cardíaco fechado é suportivo, dessa forma, as arritmias devem ser precocemente identificadas e manejadas de maneira idêntica ao manejo em pacientes clínicos (que não foram vítimas de trauma), com farmacoterapia ou marcapasso provisório, por exemplo. O choque cardiogênico deve ser manejado com o uso de inotrópicos, como a dobutamina, e dispositivos, como o balão intra-aórtico.
As complicações mecânicas (ruptura de parede livre, ruptura de músculo papilar, comunicação interventricular), analogamente ao que ocorre no infarto do miocárdio transmural, podem ocorrer de horas a semanas após o evento, motivo pelo qual os pacientes devem ser acompanhados por um longo período de tempo.1,7
Tipos específicos de lesões e seu manejo
A seguir serão abordados os tipos específicos de lesões e seu manejo.
Ruptura de pericárdio
A ruptura de pericárdio é um evento pouco comum e de difícil diagnóstico. Pequenas perdas de continuidade não têm relevância clínica, mas rupturas maiores podem levar a herniação cardíaca e comprometimento do retorno venoso.10 Nos casos de rupturas maiores, ou seja, de maior relevância clínica, exames de imagem (radiografia de tórax e tomografia computadorizada) podem evidenciar a lesão.
Se existe a suspeita de que o comprometimento de função cardíaca e a instabilidade hemodinâmica podem ser atribuídos a uma ruptura traumática de pericárdio, a conduta adequada é a esternotomia ou a toracotomia com o reparo do defeito.
Commotio cordis
A arritmia causada por um trauma fechado de grande impacto no precórdio durante a fase de repolarização (prévio ao pico da onda T), resultando em fibrilação ventricular, chama-se commotio cordis. Ocorre majoritariamente em homens jovens, sendo relacionada à prática de esportes competitivos.11
O manejo é relacionado à arritmia. A sobrevida tem correlação direta com o rápido reconhecimento e a instituição de medidas de reanimação, associada à disponibilidade de desfibriladores externos automáticos.
Contusão miocárdica
A contusão miocárdica é a forma mais comum de lesão miocárdica por trauma fechado, ocorrendo em 14% dos pacientes que vão a óbito vítima do trauma.12 Em muitas ocasiões, o termo é utilizado para definição de todos os tipos de trauma cardíaco. Compreende desde o atordoamento miocárdico pelo trauma, sem lesão aos miócitos, até a necrose transmural e o sangramento.
Os pacientes com contusão miocárdica devem ser vistos analogamente aos pacientes vítimas de injúria isquêmica, podendo evoluir com arritmias, choque cardiogênico, ruptura ventricular e regurgitação valvar secundária a necrose de músculo papilar.
Lesões valvares
Lesões valvares são complicações raras do trauma cardíaco fechado, em que o principal mecanismo é o aumento súbito da pressão intracardíaca em um momento em que a válvula se encontra fechada.13
O diagnóstico deve ser suspeitado na presença de um sopro ou um quadro de insuficiência cardíaca nova, e o ecocardiograma deve ser realizado sempre que houver suspeita.
Frequentemente, as valvas lesionadas podem ser reparadas, com poucas indicações de troca valvar, a depender da avaliação caso a caso por uma equipe de cirurgia cardíaca especializada.
Lesões coronárias
Lesões coronárias são um quadro raro, ocorrendo em menos de 2% dos casos de trauma cardíaco fechado.14 A maioria das lesões coronárias referentes ao trauma estão relacionadas à perda de continuidade da íntima, mais comumente correlacionada a uma desaceleração rápida, que pode levar a dissecção e trombose. Também pode ocorrer a transecção completa ou parcial da das coronárias em sua origem na aorta.14
Nos casos em que ocorre obstrução coronariana, como é de se esperar, o eletrocardiograma poderá exibir padrão de supradesnivelamento do segmento ST, e o paciente pode apresentar choque cardiogênico e arritmias ventriculares. A artéria mais comumente afetada é a artéria descendente anterior, seguida pela coronária direita e, com menos frequência, a artéria circunflexa.14 Se houver suspeita de lesão coronária, o exame de escolha é a cineangiocoronariografia, e o manejo dependerá da localização e do número de lesões.
Ruptura miocárdica
Lesões atriais são comumente relacionadas a aumentos abruptos e significativos de pressão intravascular, causados por compressão forçada do tórax ou do abdome durante a sístole tardia, quando os átrios estão cheios e as válvulas atrioventriculares se encontram fechadas. Como consequência da ruptura, os pacientes apresentam-se com hipotensão e sinais de tamponamento (turgência jugular, bulhas hipofonéticas).15–17
O exame de escolha para firmar o diagnóstico de ruptura miocárdica é o ecocardiograma, podendo também ser utilizada a tomografia computadorizada para confirmação diagnóstica em pacientes estáveis.15–17
A correção cirúrgica costuma ser indicada com boas taxas de sucesso, ao contrário do que ocorre na ruptura ventricular.15–17
Os pacientes com ruptura ventricular raramente chegam ao pronto-socorro vivos.15–17
ATIVIDADES
1. Observe as afirmativas sobre a epidemiologia do trauma cardíaco fechado.
I. O trauma cardíaco fechado é mais comum em mulheres.
II. O mecanismo mais comum está relacionado a acidentes automobilísticos.
III. Considerando definições universais e bem aceitas para o assunto, a incidência é homogênea entre os estudos, sendo de aproximadamente 15% de todos os traumas torácicos fechados.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
A) Apenas a I.
B) Apenas a II.
C) Apenas a I e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
O trauma cardíaco fechado é mais comum em homens. As definições não são homogêneas e universais, fazendo com que os dados apresentem grande heterogeneidade.
Resposta correta.
O trauma cardíaco fechado é mais comum em homens. As definições não são homogêneas e universais, fazendo com que os dados apresentem grande heterogeneidade.
A alternativa correta é a "B".
O trauma cardíaco fechado é mais comum em homens. As definições não são homogêneas e universais, fazendo com que os dados apresentem grande heterogeneidade.
2. Quanto às situações nas quais se deve suspeitar de trauma cardíaco fechado, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
Paciente vítima de acidente automobilístico, com choque da parede torácica do motorista contra o volante.
Paciente vítima de trauma por queda de 7 metros, com fratura de esterno associada.
Paciente vítima de queda da própria altura que se apresenta com elevação pressórica importante ao pronto-socorro.
Paciente vítima de trauma por esmagamento, com hematomas em parede torácica e enfisema subcutâneo.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — F — V — F
B) F — V — V — F
C) F — F — F — V
D) V — V — F — V
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".
Paciente vítima de queda da própria altura que se apresenta com elevação pressórica importante ao pronto-socorro não representa situação de trauma com alto impacto e com fatores de risco associados a lesão cardíaca.
Resposta correta.
Paciente vítima de queda da própria altura que se apresenta com elevação pressórica importante ao pronto-socorro não representa situação de trauma com alto impacto e com fatores de risco associados a lesão cardíaca.
A alternativa correta é a "D".
Paciente vítima de queda da própria altura que se apresenta com elevação pressórica importante ao pronto-socorro não representa situação de trauma com alto impacto e com fatores de risco associados a lesão cardíaca.
3. Paciente vítima de trauma torácico fechado contra volante, após acidente automobilístico, é admitido em pronto-socorro. No momento da chegada, apresentava elevação de troponina (valor do paciente = 234, valor de referência, percentil 99 = 59), com taquicardia sinusal ao eletrocardiograma. O paciente apresentava-se estável do ponto de vista hemodinâmico, sem sinais de má-perfusão, baixo débito ou hipotensão. Com relação ao caso relatado, assinale a alternativa correta.
A) O paciente deve ser internado, podendo permanecer em leito de enfermaria com necessidade de controle de sinais vitais de 6 em 6 horas.
B) O paciente pode ser orientado a retornar em caso de sinais de alarme, considerando que apresenta estabilidade hemodinâmica.
C) O paciente deve ser internado em leito com monitorização cardiológica contínua, com nova dosagem de troponina e eletrocardiograma seriado.
D) Os achados são compatíveis com trauma cardíaco fechado, não havendo necessidade de prosseguir investigação para sangramento/hipovolemia.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
Paciente vítima de trauma torácico com elevação de troponina na admissão deve ser internado em leito com monitorização contínua e ter eletrocardiograma e troponina repetidos até normalização dos achados. Em todo paciente vítima de trauma que se apresente com instabilidade, a possibilidade de choque hemorrágico/hipovolêmico deve ser considerada.
Resposta correta.
Paciente vítima de trauma torácico com elevação de troponina na admissão deve ser internado em leito com monitorização contínua e ter eletrocardiograma e troponina repetidos até normalização dos achados. Em todo paciente vítima de trauma que se apresente com instabilidade, a possibilidade de choque hemorrágico/hipovolêmico deve ser considerada.
A alternativa correta é a "C".
Paciente vítima de trauma torácico com elevação de troponina na admissão deve ser internado em leito com monitorização contínua e ter eletrocardiograma e troponina repetidos até normalização dos achados. Em todo paciente vítima de trauma que se apresente com instabilidade, a possibilidade de choque hemorrágico/hipovolêmico deve ser considerada.
4. Paciente vítima de trauma cardíaco fechado, com alteração de marcadores à admissão e internado para monitorização hemodinâmica. Durante o período de observação, o paciente evolui com hipotensão, bulhas hipofonéticas e turgência jugular. Com relação aos exames adequados para prosseguir com a investigação, frente à principal hipótese diagnóstica, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
Ecocardiograma transtorácico.
Ultrassom à beira leito, com avaliação em janela subxifoídea.
Cateterismo cardíaco.
Tomografia computadorizada sem contraste, caso o paciente apresente estabilidade para tal.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — F — V — F
B) F — F — V — F
C) V — V — F — V
D) F — V — F — V
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
Tanto o ecocardiograma transtorácico como o ultrassom à beira do leito e a tomografia computadorizada podem identificar derrame pericárdico e indícios de tamponamento cardíaco (diagnóstico sugestivo pelo quadro clínico apresentado pelo paciente). O cateterismo cardíaco não auxilia na investigação desse diagnóstico.
Resposta correta.
Tanto o ecocardiograma transtorácico como o ultrassom à beira do leito e a tomografia computadorizada podem identificar derrame pericárdico e indícios de tamponamento cardíaco (diagnóstico sugestivo pelo quadro clínico apresentado pelo paciente). O cateterismo cardíaco não auxilia na investigação desse diagnóstico.
A alternativa correta é a "C".
Tanto o ecocardiograma transtorácico como o ultrassom à beira do leito e a tomografia computadorizada podem identificar derrame pericárdico e indícios de tamponamento cardíaco (diagnóstico sugestivo pelo quadro clínico apresentado pelo paciente). O cateterismo cardíaco não auxilia na investigação desse diagnóstico.
5. Observe as afirmativas sobre o manejo do trauma cardíaco fechado.
I. As arritmias relacionadas ao trauma cardíaco fechado respondem pouco às alterações eletrolíticas, e não fazem parte do seu manejo a correção desses distúrbios.
II. Em caso de trauma cardíaco com disfunção ventricular e choque cardiogênico, o uso de inotrópicos, como a dobutamina, está indicado.
III. Em pacientes com choque cardiogênico e indicação de marcapasso provisório, deve-se evitar ao máximo a passagem de marcapasso transvenoso.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
A) Apenas a I.
B) Apenas a II.
C) Apenas a I e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
A correção de distúrbios hidreletrolíticos fazem parte do manejo de arritmias. Em pacientes com indicação de passagem de marcapasso provisório, a passagem deve ser realizada, não devendo ser postergada.
Resposta correta.
A correção de distúrbios hidreletrolíticos fazem parte do manejo de arritmias. Em pacientes com indicação de passagem de marcapasso provisório, a passagem deve ser realizada, não devendo ser postergada.
A alternativa correta é a "B".
A correção de distúrbios hidreletrolíticos fazem parte do manejo de arritmias. Em pacientes com indicação de passagem de marcapasso provisório, a passagem deve ser realizada, não devendo ser postergada.
6. Observe as afirmativas sobre a ruptura do pericárdio e o commotio cordis.
I. A ruptura de pericárdio é uma ocorrência pouco comum e de difícil diagnóstico.
II. A esternotomia é um procedimento contraindicado nos casos de ruptura do pericárdio.
III. A sobrevida, em casos de commotio cordis, está diretamente relacionada ao rápido reconhecimento e à instituição de medidas de reanimação.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a II e a III.
C) Apenas a I e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".
A conduta indicada na ruptura do pericárdio é a esternotomia ou a toracotomia com o reparo do defeito.
Resposta correta.
A conduta indicada na ruptura do pericárdio é a esternotomia ou a toracotomia com o reparo do defeito.
A alternativa correta é a "C".
A conduta indicada na ruptura do pericárdio é a esternotomia ou a toracotomia com o reparo do defeito.
7. Quanto à contusão miocárdica e às lesões valvares, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
A contusão miocárdica é a forma mais comum de lesão miocárdica por trauma fechado.
Pacientes com contusão miocárdica podem evoluir com arritmias, choque cardiogênico, ruptura ventricular e regurgitação valvar secundária à necrose de músculo papilar.
Lesões valvares são consideradas complicações raras do trauma cardíaco fechado.
O principal mecanismo das lesões valvares é a diminuição súbita da pressão intracardíaca em um momento em que a válvula se encontra fechada.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — F — V — F
B) V — V — V — F
C) F — F — F — V
D) F — V — F — V
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
O principal mecanismo das lesões valvares é o aumento súbito da pressão intracardíaca em um momento em que a válvula se encontra fechada.
Resposta correta.
O principal mecanismo das lesões valvares é o aumento súbito da pressão intracardíaca em um momento em que a válvula se encontra fechada.
A alternativa correta é a "B".
O principal mecanismo das lesões valvares é o aumento súbito da pressão intracardíaca em um momento em que a válvula se encontra fechada.
8. Observe as afirmativas sobre a ocorrência de lesões coronárias e ruptura miocárdica.
I. Lesões coronárias são um quadro frequente, ocorrendo em cerca de 20% dos casos de trauma cardíaco fechado.
II. Os pacientes apresentam hipotensão e sinais de tamponamento em decorrência da ruptura miocárdica.
III. A correção cirúrgica costuma ser indicada nos casos de ruptura miocárdica, com boas taxas de sucesso, ao contrário do que ocorre na ruptura ventricular.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a II e a III.
C) Apenas a I e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta
Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".
Lesões coronárias são um quadro raro, ocorrendo em menos de 2% dos casos de trauma cardíaco fechado.
Resposta correta.
Lesões coronárias são um quadro raro, ocorrendo em menos de 2% dos casos de trauma cardíaco fechado.
A alternativa correta é a "B".
Lesões coronárias são um quadro raro, ocorrendo em menos de 2% dos casos de trauma cardíaco fechado.
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Admitido paciente vítima de trauma, que estava em banco do carona sem a utilização de cinto de segurança, com avaliação inicial sumariamente descrita abaixo.
Via aérea pérvia, em uso de colar cervical, com ausculta pulmonar sem alterações bilateralmente e expansibilidade torácica preservada bilateralmente; hipotenso (pressão arterial: 85x60mmHg) e taquicárdico (frequência cardíaca: 135bpm); exame abdominal com abdome indolor, depressível, anel pélvico íntegro e próstata em posição anatômica ao toque retal. Exame neurológico com discreta sonolência, sem outras alterações. Presença de hematoma em região esternal. Monitorizado paciente em leito de sala de emergência, com traçado ao monitor observado na Figura 3.
FIGURA 3: Imagem de exame do paciente. // Fonte: JY FotoStock (2022).18
ATIVIDADES
9. Após monitorização e punção de acesso venoso, quais as medidas iniciais para a estabilização do paciente?
Confira aqui a resposta
Manejo conforme o protocolo do ATLS. Pesquisa de foco de sangramento — focused assessment with sonography in trauma (FAST) —. Expansão volêmica (cristaloides ou sangue — considerando paciente hipotenso — choque pelo menos grau III).
Resposta correta.
Manejo conforme o protocolo do ATLS. Pesquisa de foco de sangramento — focused assessment with sonography in trauma (FAST) —. Expansão volêmica (cristaloides ou sangue — considerando paciente hipotenso — choque pelo menos grau III).
Manejo conforme o protocolo do ATLS. Pesquisa de foco de sangramento — focused assessment with sonography in trauma (FAST) —. Expansão volêmica (cristaloides ou sangue — considerando paciente hipotenso — choque pelo menos grau III).
10. Caso após os passos realizados no primeiro atendimento o paciente persista taquicárdico e hipotenso, e sem focos identificáveis de sangramento, como pode ser feito o diagnóstico diferencial para instabilidade hemodinâmica? Quais exames estariam indicados para o rastreio inicial de trauma cardíaco fechado?
Confira aqui a resposta
O ecocardiograma à beira do leito pode ajudar no diagnóstico diferencial e identificar preditores de fluido responsividade. Troponina e eletrocardiograma de 12 derivações estariam indicados para o rastreio inicial de trauma cardíaco fechado.
Resposta correta.
O ecocardiograma à beira do leito pode ajudar no diagnóstico diferencial e identificar preditores de fluido responsividade. Troponina e eletrocardiograma de 12 derivações estariam indicados para o rastreio inicial de trauma cardíaco fechado.
O ecocardiograma à beira do leito pode ajudar no diagnóstico diferencial e identificar preditores de fluido responsividade. Troponina e eletrocardiograma de 12 derivações estariam indicados para o rastreio inicial de trauma cardíaco fechado.
11. Caso o paciente mantenha taquicardia persistente, com hipotensão e troponina positiva, com ecocardiograma evidenciando disfunção ventricular (desconhecida previamente), quais seriam os próximos passos?
Confira aqui a resposta
Internação em leito com monitorização contínua, realização de troponina e eletrocardiograma seriado, manejo de choque cardiogênico (inotrópicos como a dobutamina, por exemplo; dispositivos avançados, se necessário — balão intra-aórtico, por exemplo).
Resposta correta.
Internação em leito com monitorização contínua, realização de troponina e eletrocardiograma seriado, manejo de choque cardiogênico (inotrópicos como a dobutamina, por exemplo; dispositivos avançados, se necessário — balão intra-aórtico, por exemplo).
Internação em leito com monitorização contínua, realização de troponina e eletrocardiograma seriado, manejo de choque cardiogênico (inotrópicos como a dobutamina, por exemplo; dispositivos avançados, se necessário — balão intra-aórtico, por exemplo).
Conclusão
O trauma cardíaco fechado pode apresentar-se como um desafio para o diagnóstico e o manejo no pronto-socorro, principalmente pelas inúmeras formas de apresentação e a falta de consenso na sua definição na literatura. As lesões graves, sobretudo as que evoluem com instabilidade hemodinâmica, carregam alta morbidade e mortalidade, por isso o médico emergencista deve estar capacitado para reconhecer, investigar e manejar esse perfil de pacientes, além de que deve estar habituado aos exames complementares adequados para auxiliar na propedêutica de cada caso.
Atividades: Respostas
Comentário: O trauma cardíaco fechado é mais comum em homens. As definições não são homogêneas e universais, fazendo com que os dados apresentem grande heterogeneidade.
Comentário: Paciente vítima de queda da própria altura que se apresenta com elevação pressórica importante ao pronto-socorro não representa situação de trauma com alto impacto e com fatores de risco associados a lesão cardíaca.
Comentário: Paciente vítima de trauma torácico com elevação de troponina na admissão deve ser internado em leito com monitorização contínua e ter eletrocardiograma e troponina repetidos até normalização dos achados. Em todo paciente vítima de trauma que se apresente com instabilidade, a possibilidade de choque hemorrágico/hipovolêmico deve ser considerada.
Comentário: Tanto o ecocardiograma transtorácico como o ultrassom à beira do leito e a tomografia computadorizada podem identificar derrame pericárdico e indícios de tamponamento cardíaco (diagnóstico sugestivo pelo quadro clínico apresentado pelo paciente). O cateterismo cardíaco não auxilia na investigação desse diagnóstico.
Comentário: A correção de distúrbios hidreletrolíticos fazem parte do manejo de arritmias. Em pacientes com indicação de passagem de marcapasso provisório, a passagem deve ser realizada, não devendo ser postergada.
Comentário: A conduta indicada na ruptura do pericárdio é a esternotomia ou a toracotomia com o reparo do defeito.
Comentário: O principal mecanismo das lesões valvares é o aumento súbito da pressão intracardíaca em um momento em que a válvula se encontra fechada.
Comentário: Lesões coronárias são um quadro raro, ocorrendo em menos de 2% dos casos de trauma cardíaco fechado.
RESPOSTA: Manejo conforme o protocolo do ATLS. Pesquisa de foco de sangramento — focused assessment with sonography in trauma (FAST) —. Expansão volêmica (cristaloides ou sangue — considerando paciente hipotenso — choque pelo menos grau III).
RESPOSTA: O ecocardiograma à beira do leito pode ajudar no diagnóstico diferencial e identificar preditores de fluido responsividade. Troponina e eletrocardiograma de 12 derivações estariam indicados para o rastreio inicial de trauma cardíaco fechado.
RESPOSTA: Internação em leito com monitorização contínua, realização de troponina e eletrocardiograma seriado, manejo de choque cardiogênico (inotrópicos como a dobutamina, por exemplo; dispositivos avançados, se necessário — balão intra-aórtico, por exemplo).
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Como citar a versão impressa deste documento
Martinhago GA, Carvalho TA, Araújo GO, Novaes ID. Trauma cardíaco fechado. In: Associação Brasileira de Medicina de Emergência; Guimarães HP, Borges LAA, organizadores. PROMEDE Programa de Atualização em Medicina de Emergência: Ciclo 6. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2023. p. 43–56. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 1). https://doi.org/10.5935/978-65-5848-854-5.C0006