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CAPACIDADE PARA O AUTOCUIDADO DE PACIENTES EM TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO

Autores: Andressa Rueda de Oliveira, Cristina Mara Zamarioli, Aline Helena Appoloni Eduardo
epub-COLETANEA-DIAG-ENF-V2_Artigo

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • avaliar a capacidade de autocuidado de pacientes oncológicos submetidos à quimioterapia;
  • identificar diagnósticos, objetivos, metas e intervenções de enfermagem relacionados ao autocuidado e ao déficit de autocuidado prevalentes em pacientes oncológicos submetidos à quimioterapia;
  • refletir acerca da teoria do déficit do autocuidado de enfermagem para a assistência de enfermagem.

Esquema conceitual

Introdução

Autocuidado pode ser compreendido como um conjunto de ações realizadas pelo próprio indivíduo com o objetivo de manter ou recuperar sua qualidade de vida (QV).1 Aqui, compreende-se QV como resultado de práticas assistenciais que são capazes de influenciar a forma como as pessoas percebem e expressam diversos aspectos da vida em relação às dimensões física, psicológica e social do ser humano.2

Na década de 1950, Dorothea Orem, enfermeira estadunidense, deu origem a um modelo teórico de autocuidado fundamentado pelo pressuposto de que todos os indivíduos apresentam algum potencial para o cuidado de si de maneira racional e voluntária.1,3 Orem elaborou a teoria do déficit de autocuidado de enfermagem (TDAE), uma hipótese geral alicerçada em três teorias distintas, sendo elas: teoria do autocuidado, teoria do déficit do autocuidado e teoria dos sistemas de enfermagem, que têm confluência em alguns aspectos.3

A TDAE é o núcleo da teoria geral de Orem e reconhece que a atuação da enfermagem é primordial sempre que for identificada uma necessidade de autocuidado, ou seja, quando uma pessoa apresentar capacidade limitada para se autocuidar de maneira eficaz e manter seu bom funcionamento e desenvolvimento.3 O empenho das pessoas nas ações de autocuidado está relacionado a aspectos culturais, educacionais, habilidades pessoais, experiência de vida, estado de saúde e recursos disponíveis.1,3

Dessa forma, a incapacidade de desenvolver o autocuidado pode advir de fatores internos (como conhecimento adquirido, idade, características pessoais) ou externos (como incapacidades impostas por experiências de doenças e tratamentos ou a morte de um familiar).4 Pacientes submetidos à quimioterapia (QT) antineoplásica (QTA) podem apresentar comprometimento da QV e do autocuidado, em decorrência dos efeitos deletérios da terapia sobre sistemas e células saudáveis, bem como de demandas emocionais, sociais, existenciais e espirituais que podem surgir durante esse tratamento.5

Concomitantemente, estudos internacionais têm mostrado que a capacidade de autocuidado está positivamente correlacionada com a QV dos pacientes oncológicos e que um maior nível de autocuidado está ligado ao controle mais efetivo dos efeitos adversos ocasionados pelo tratamento.6,7 A aplicabilidade da teoria de Orem pode ser expandida para diversos grupos de pessoas, favorecendo uma prática de enfermagem adequada às necessidades de autocuidado de cada um deles.

A realidade imposta pelas doenças crônicas, como câncer, tem exigido que os indivíduos reestruturem seus estilos de vida, assim como a maneira de cuidar de si. Nesse aspecto, a aplicação do processo de enfermagem (PE) à luz da TDAE pode trazer benefícios às ações do cuidar e, consequentemente, a melhoria da QV desses pacientes.

Teoria do déficit de autocuidado de enfermagem

As teorias de enfermagem podem ser explicadas como contextualizações dos aspectos reais de enfermagem, que têm o objetivo de descrever fenômenos, explicar as relações entre eles e predizer consequências ou auxiliar na prescrição do cuidado de enfermagem.4 Assim, tais teorias contribuem significativamente para a realização do PE, pois permitem que os profissionais envolvidos no cuidado sistematizem suas ações, diagnosticando as necessidades dos indivíduos, planejando e propondo intervenções de maneira direcionada.8

De acordo com Dorothea Orem, o autocuidado diz respeito ao cuidado pessoal que todas as pessoas podem desempenhar com o intuito de regular seu funcionamento e desenvolvimento.8,9

No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem estaria diretamente relacionada às demandas de autocuidado de determinado indivíduo, ou seja, quando ele apresenta algum tipo de limitação para cuidar de si mesmo. É possível inferir que a existência de déficit de autocuidado faz com que a assistência de enfermagem seja necessária.8,9

A partir dessa reflexão, entre 1971 e 1991, Orem desenvolveu a teoria geral de enfermagem, que é constituída da inter-relação de três teorias, sendo elas teoria do autocuidado, teoria do déficit do autocuidado e teoria dos sistemas de enfermagem, que, juntas, são uma síntese de conhecimentos relativos ao autocuidado, abrangendo desde atividades de autocuidado até ações de enfermagem nesse cenário.8

A TDAE concentra os pressupostos para que a enfermagem atue no cuidado às pessoas na ausência da capacidade para o autocuidado em qualidade e quantidade suficientes para a manutenção da vida e da saúde, para a recuperação da doença e lesões, bem como para o enfrentamento de seus feitos.3 Para melhor compreender as propostas de cada uma dessas teorias e, assim, o cuidado de enfermagem, a seguir, as três teorias estão detalhadas, com suas intersecções e os conceitos fundamentais de cada uma.

Teoria do autocuidado

A teoria do autocuidado explica como o autocuidado é um aspecto fundamental da vida das pessoas, como ele é realizado por elas e os requisitos que fazem as pessoas precisarem de auxílio nesse aspecto.9 A teoria do autocuidado fundamenta-se em conceitos centrais e periféricos importantes de serem compreendidos. Como centrais, há os conceitos de autocuidado, ações de autocuidado, capacidade para o autocuidado, demanda terapêutica de autocuidado e requisitos de autocuidado.

Os fatores condicionantes compreendem um conceito periférico, e esses conceitos estão descritos a seguir:8,9

  • autocuidado — é uma função reguladora humana que está relacionada à realização das atividades que as pessoas fazem em benefício próprio com vistas a manter a saúde, a vida e o bem-estar; quando o autocuidado é realizado adequadamente, há equilíbrio da integridade, do funcionamento e do desenvolvimento humano;
  • ações de autocuidado — são atividades que as pessoas podem realizar para autobenefício com a finalidade de manter a vida e o bem-estar pessoal; envolvem desde habilidades e conhecimento até experiências que elas precisam obter para que realizem o autocuidado;
  • capacidade de autocuidado — diz respeito à capacidade que as pessoas têm de engajarem-se no autocuidado;
  • fatores condicionantes básicos — são fatores individuais, como idade, sexo, estado de desenvolvimento, estado de saúde, situação sociocultural, hábitos de vida, condição de saúde e fatores ambientais;
  • demanda de autocuidado terapêutico — são ações de autocuidado desempenhadas por determinado período para atender aos requisitos de autocuidado que as pessoas apresentam quando estão impossibilitadas de realizarem espontaneamente;
  • requisitos de autocuidado — são conceitos adicionais da teoria do autocuidado, definidos como ações que suprem o autocuidado, realizadas pelas ou para as pessoas, e são distribuídos em categorias (requisitos universais, requisitos de desenvolvimento e requisitos de desvio de saúde).

Requisitos universais de autocuidado são aqueles comuns a todos os seres humanos durante todo o ciclo vital. Eles estão associados com os processos da vida, como a manutenção de ingesta hídrica suficiente ou do equilíbrio entre períodos de atividades e repouso.9

Requisitos de desenvolvimento de autocuidado podem ser compreendidos pelas especializações dos requisitos universais durante o processo de desenvolvimento ou aqueles que surgirem a partir de uma condição ou evento particular que estejam presentes na vida de uma pessoa. Por exemplo, gestação, óbito de um familiar ou adaptações a uma mudança de cidade.9

Requisitos de autocuidado nos desvios de saúde são demandados em cenários de doença, lesões, incapacitações ou em consequência de diagnósticos e intervenções associados a alguma condição.9 Compreende-se que eles expressam as necessidades de cuidado que as pessoas vivenciam durante o processo de adoecimento.8 Orem propôs, entre outros, os seguintes requisitos de autocuidado nos desvios de saúde: busca por assistência à saúde, realizar as medidas de tratamento prescritas e aprender a viver com os efeitos das condições de saúde.3

Teoria do déficit de autocuidado

Mais abrangente, a teoria do déficit de autocuidado explica de que forma a atuação da enfermagem torna-se essencial para indivíduos que necessitam de cuidados. Assim, como já destacado anteriormente, a enfermagem torna-se uma exigência justamente nas situações em que as pessoas se tornam incapacitadas ou limitadas para promoção de autocuidado contínuo e eficaz.8

Atualmente, a teoria do déficit do autocuidado é uma das teorias de maior influência na atuação da enfermagem brasileira.

A teoria do déficit do autocuidado é o núcleo da TDAE e tem como conceito central o déficit de autocuidado, que consiste no resultado negativo da relação entre capacidade de autocuidado e demanda de autocuidado terapêutico. Quando as capacidades são inferiores às demandas, indica-se que determinado indivíduo necessita do apoio da enfermagem para equilibrar tais demandas em determinado momento para, então, alcançar os requisitos de autocuidado.9

Na teoria do déficit do autocuidado, são estabelecidos os momentos em que a enfermagem é exigida para a realização do autocuidado, quando9

  • a pessoa é ou encontra-se incapaz de realizar o autocuidado de maneira adequada;
  • a capacidade para o autocuidado do cuidador não é suficiente para atender às demandas;
  • a demanda de autocuidado excede os níveis de habilidade de autocuidado que o cuidador tem, seja por uma mudança na condição de saúde em virtude de uma doença da qual a pessoa necessita de recuperação, seja quando a pessoa necessita de autocuidados especializados e complexos (p. ex., durante a gestação).

Nesses casos, Orem caracterizou cinco métodos que podem ser utilizados pelo profissional de enfermagem em sua atuação para auxiliar as pessoas com déficit de autocuidado:3,8,9

  1. agir ou fazer para o outro;
  2. guiar e orientar o outro;
  3. apoiar o outro física ou psicologicamente;
  4. proporcionar um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal;
  5. ensinar.

Teoria dos sistemas de enfermagem

A teoria dos sistemas de enfermagem unifica a teoria do autocuidado e a teoria do déficit do autocuidado e esclarece de que modo as pessoas com déficit de autocuidado podem ser auxiliadas pelos profissionais de enfermagem.8 Nessa teoria, os conceitos centrais incorporados são serviço ou produto de enfermagem e sistemas de enfermagem.

Serviço ou produto de enfermagem se refere à competência da enfermagem em realizar ações de autocuidado para atender às demandas das pessoas (seja preenchendo as demandas terapêuticas de autocuidado, seja proporcionando às pessoas a capacidade de autocuidado). Ademais, leva ao reconhecimento da necessidade de a pessoas realizar o autocuidado.3,9

Sistemas de enfermagem resultam da relação entre enfermeiro, paciente e outras pessoas, e definem limites de atuação da enfermagem nas situações de atendimento à saúde, responsabilidades dos envolvidos, motivações para que as ações de autocuidado aconteçam e tipos de ações desempenhadas pelos envolvidos nesse sistema.3,9,10 As práticas assistenciais do profissional de enfermagem são baseadas nas necessidades de autocuidado e na capacidade que cada pessoa tem de executar ações de autocuidado.

Assim, Dorothea Orem identificou três sistemas de enfermagem que atendem aos requisitos de autocuidado:3,8,9

  • sistema totalmente compensatório — estabelece-se quando a pessoa se apresenta incapaz de realizar ações de autocuidado, necessitando ser substituída pela enfermagem (p. ex., pacientes inconscientes em unidades de terapia intensiva);
  • sistema parcialmente compensatório — nesse caso, o paciente é ou se encontra dependente do profissional de enfermagem apenas em algumas medidas de autocuidado (p. ex., pacientes que não conseguem vestir-se sozinhos em decorrência de procedimentos cirúrgicos ou que requerem ações de enfermagem para tratamento de úlcera em membro inferior);
  • sistema apoio-educativo — engloba os sistemas em que as pessoas são capazes de executar ou aprender a executar ações de autocuidado, regulando o exercício e o desenvolvimento dessas atividades independentemente.

No cenário do sistema apoio-educativo, o enfermeiro pode atuar na supervisão das ações e deve incentivar a pessoa a ser um agente capaz de realizar seu autocuidado; por exemplo, paciente consciente e orientado que deixou de realizar atividades de vida diária em decorrência do processo de luto.

Ressalta-se que uma única pessoa pode necessitar desses sistemas ao mesmo tempo, por exemplo, durante o tratamento quimioterápico, ela pode passar pelo sistema parcialmente compensatório para os cuidados com um cateter totalmente implantado, pelo sistema totalmente compensatório para receber a terapia medicamentosa com os quimioterápicos e pelo sistema apoio-educativo para reconhecimento de efeitos do tratamento.

É importante destacar que a prática profissional de enfermagem deve estar alicerçada no raciocínio clínico, em teorias e no PE. Acredita-se nos benefícios da prática assistencial apoiada pela teoria de Orem, pois a aplicação de seus princípios contribui para a realização de um cuidado integral às pessoas com estabelecimento de resultados sensíveis às intervenções de enfermagem. Desse modo, é importante que os enfermeiros conheçam o PE recomendado por Orem e fundamentado em sua teoria.

Teoria do déficit de autocuidado de enfermagem e o processo de enfermagem

Para Orem, o PE permite estabelecer as deficiências de autocuidado e os papéis da pessoa ou do enfermeiro para satisfazer as exigências de autocuidado. Desse modo, o PE se refere às ações específicas da prática de enfermagem (denominadas processo tecnológico da prática de enfermagem), ao planejamento e às ações de avaliação decorrentes dessa prática.9 Para tanto, Orem construiu um modelo de três passos, que são ações do processo tecnológico de enfermagem, ou seja, os elementos da prática profissional de enfermagem.

O passo 1, descrito como diagnóstico de enfermagem (DE) e prescrição, estabelece o motivo por que a enfermagem é necessária. Para tanto, prevê a investigação de informações sobre as ações de autocuidado da pessoa e a demanda de autocuidado terapêutico.9

Para estabelecer o DE, a investigação deve possibilitar conhecer as atividades que as pessoas podem realizar para autobenefício com a finalidade de manter a vida e o bem-estar pessoal (ações de autocuidado) e quais ações de autocuidado o enfermeiro deverá desempenhar para atender aos requisitos de autocuidado (demandas de autocuidado).9 Dessa forma, a organização das informações do paciente seguindo os requisitos de autocuidado parece favorecer a análise deles e estabelecer os DEs.

O passo 2 estabelece o esboço de um sistema de enfermagem e plano de atendimento. Nessa etapa, os papéis, tanto do enfermeiro como dos pacientes, sobre as ações de autocuidado são definidos, considerando as responsabilidades de acordo com a função. Também é definido o sistema de enfermagem (ou sistemas) que permeará o PE para o atendimento de metas e objetivos, que devem ser descritos a partir do DE, de modo a tornar o paciente um agente de autocuidado.9

O passo 3 se refere à produção e controle dos sistemas de enfermagem. Nesse passo, os enfermeiros atuam para produzir e controlar os sistemas de enfermagem,3 que são estabelecidos quando há interação entre o enfermeiro e o paciente e esses tomam atitudes para preencher as demandas terapêuticas de autocuidado,9 ou seja, requer a implementação das ações de autocuidado anteriormente planejadas.

No passo 3, é realizado o cuidado de enfermagem direto, por meio de ações voltadas para3,9

  • desempenho, regulação e auxílio de tarefas de autocuidado;
  • coordenação de ações de autocuidado entre os componentes do sistema e equipe de saúde;
  • ajuda, orientação e apoio dos pacientes e familiares no exercício de autocuidado;
  • suspensão do exercício de autocuidado pelos pacientes e familiares quando necessário;
  • estímulo do interesse e apoio ao aprendizado das atividades de autocuidado.

Ainda na produção e controle dos sistemas de enfermagem, é realizada a avaliação do cuidado proporcionado, de modo a estabelecer se ele deve ser mantido da mesma forma ou deve passar por modificações.3,9

Ao se realizar um paralelo entre o PE proposto por Orem e o reconhecido pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN),11 vê-se que o passo 1 descrito por Orem compreende as etapas de coleta de dados e DE; o passo 2 corresponde à etapa do planejamento; e o passo 3 corresponde às etapas de implementação e avaliação de enfermagem. Destaca-se que, nos passos de Orem, há inversão entre os componentes da etapa planejamento da forma como o Cofen estabelece, pois a fase de prescrição de enfermagem ocorre no passo 1 de Orem.

Como forma de exemplificar o PE segundo Orem, a seguir, será apresentada uma breve situação elaborada pelas autoras deste capítulo. O caso envolve um homem de 61 anos de idade, tabagista há 40 anos, de 20 cigarros por dia, casado, aposentado, que está no vigésimo dia pós-operatório (PO) de prostatectomia radical para tratamento de câncer de próstata.

O homem procurou atendimento no ambulatório de urologia, pois percebeu que, após a remoção da sonda vesical de demora, que ocorreu há 5 dias, está apresentando perda de urina quando espirra, tosse e se levanta da cama ou da cadeira. No momento da consulta, manifestou desejo de compreender melhor essa situação.

Após serem coletados, os dados serão analisados à luz do referencial de Orem, considerando os conceitos-chave dele. Baseado nos déficits de autocuidado, os DEs foram definidos, bem como ocorreu o estabelecimento do plano de atendimento, conforme apresentado no Quadro 1. Para nomear os DEs, utilizou-se a taxonomia da NANDA International, Inc. (NANDA-I)12 e, para elencar as ações de enfermagem, a Classificação de Intervenções de Enfermagem (NIC).13

QUADRO 1

EXEMPLIFICAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM SEGUNDO OREM

PASSO 1 — DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM E PRESCRIÇÃO

Fatores pessoais

  • Homem.
  • 61 anos de idade.
  • Casado.
  • Aposentado.

Autocuidado universal

  • Tabagista há 40 anos (20 cigarros/dia).
  • Perda de urina quando espirra, tosse e se levanta da cama ou da cadeira.

Autocuidado de desenvolvimento

  • Recuperação pós-operatória.

Desvio de saúde

  • Vivencia complicação decorrente de cirurgia.

Problema e plano médico

  • Câncer de próstata com indicação de tratamento cirúrgico (prostatectomia radical).

Déficits de autocuidado

  • Necessita compreender a ocorrência dos sintomas relacionados a alterações da perda de urina e manejo dessa situação.

Diagnósticos de enfermagem

  • Incontinência urinária de esforço (00017).
  • Disposição para melhora do autocuidado (00182).

Prescrição*

  • Identificar o nível educacional do paciente e o nível atual de conhecimento sobre sua condição.
  • Listar os objetivos de aprendizagem necessários para alcance da meta.
  • Explicar a etiologia da incontinência urinária.
  • Construir, junto ao paciente, estratégias que auxiliem no manejo da incontinência:
    • modificar roupas e ambiente domiciliar, para gerar acesso fácil ao vaso sanitário;
    • auxiliar na seleção da roupa e/ou proteção para incontinência;
    • orientar sobre a manutenção da pele da região perineal seca e higienizada;
    • orientar sobre a manutenção da ingesta hídrica diária, em média, de 2L, e limitar a ingestão de líquidos por 2–3 horas antes de dormir;
    • orientar sobre alimentos que podem ser irritantes para a bexiga e piorar o quadro de incontinência (refrigerante, café, chá, chocolate);
    • ensinar exercícios da musculatura pélvica.

PASSO 2 — ESBOÇO DE UM SISTEMA DE ENFERMAGEM

Metas

  • Melhorar a incontinência;
  • melhorar o conhecimento sobre o manejo da incontinência urinária.

Objetivos

  • Relatar redução de frequência e volume de urina perdida de maneira involuntária;
  • demonstrar conhecimento acerca da incontinência urinária e dos cuidados a serem realizados no domicílio enquanto persistirem os sintomas.

Definição do sistema de enfermagem

  • Sistema de apoio e educação.

Esboço e elementos do sistema de enfermagem

  • O enfermeiro estabelecerá papel de orientação e ensino do paciente, que receberá explicação sobre como alcançar, controlar e desenvolver o autocuidado.

PASSO 3 — PRODUÇÃO E CONTROLE DOS SISTEMAS DE ENFERMAGEM

Implementação

  • O enfermeiro planejou três encontros semanais para orientar e direcionar o paciente quanto às ações de autocuidado voltadas ao conhecimento e controle da incontinência urinária, e orientar na adaptação das necessidades de autocuidado que surgiram a partir da prostatectomia. As ações serão baseadas na prescrição (passo 1).

Avaliação

  • Ao final dos encontros, enfermeiro e paciente avaliarão o sistema de enfermagem:
    • durante os encontros, o paciente demonstra conhecimento sobre incontinência urinária e as medidas que auxiliam no manejo da incontinência?
    • o paciente implementou as medidas que auxiliam no manejo da incontinência?
    • o paciente relatou redução da frequência e volume da perda involuntária de urinária?

*Baseada nas intervenções de enfermagem da NIC (Ensino: indivíduo, Cuidados na incontinência urinária, Cuidados perineais, Exercícios para a musculatura pélvica).13 // Fonte: Adaptado de Orem (2001).3

No caso ilustrativo, percebe-se que os DEs da NANDA-I12 “Incontinência urinária de esforço” e “Disposição para conhecimento melhorado” e sua prescrição subsidiaram os passos 2 e 3 do PE, sendo que esses dois últimos passos são fundamentados no estabelecimento e na operacionalização do sistema de enfermagem, de modo a garantir os resultados de enfermagem para a realização do autocuidado pelo indivíduo.

ATIVIDADES

1. Considerando os conceitos da teoria do déficit de autocuidado de enfermagem, de acordo com Dorothea Orem, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).

O autocuidado diz respeito ao cuidado pessoal que todas as pessoas podem desempenhar com o intuito de regular seu funcionamento e desenvolvimento.

A necessidade de atuação da enfermagem independe das demandas de autocuidado de um determinado indivíduo.

A assistência de enfermagem acontece sempre que uma necessidade de autocuidado é identificada, ou seja, em situações em que o sujeito tenha capacidade limitada para auto cuidar-se de maneira eficaz.

O empenho dos indivíduos nas ações de autocuidado não está relacionado a aspectos culturais, educacionais e sociais, mas apenas ao estado de saúde e aos recursos disponíveis.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) V — F — V — F

B) F — V — F — V

C) V — F — F — V

D) F — V — V — F

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


Conforme discutido, para Orem, o autocuidado diz respeito ao cuidado pessoal que todas as pessoas podem desempenhar com o intuito de regular seu funcionamento e desenvolvimento. Ao mesmo tempo que a atuação da enfermagem está diretamente relacionada às demandas de autocuidado de um indivíduo. A assistência de enfermagem se faz necessária sempre que a capacidade do indivíduo de cuidar de si mesmo esteja prejudicada, resultando em um déficit de autocuidado. O empenho dos sujeitos nas atividades de autocuidado não está relacionado apenas a aspectos biológicos e estruturais, mas também à cultura, educação e sociedade que os cercam.

Resposta correta.


Conforme discutido, para Orem, o autocuidado diz respeito ao cuidado pessoal que todas as pessoas podem desempenhar com o intuito de regular seu funcionamento e desenvolvimento. Ao mesmo tempo que a atuação da enfermagem está diretamente relacionada às demandas de autocuidado de um indivíduo. A assistência de enfermagem se faz necessária sempre que a capacidade do indivíduo de cuidar de si mesmo esteja prejudicada, resultando em um déficit de autocuidado. O empenho dos sujeitos nas atividades de autocuidado não está relacionado apenas a aspectos biológicos e estruturais, mas também à cultura, educação e sociedade que os cercam.

A alternativa correta é a "A".


Conforme discutido, para Orem, o autocuidado diz respeito ao cuidado pessoal que todas as pessoas podem desempenhar com o intuito de regular seu funcionamento e desenvolvimento. Ao mesmo tempo que a atuação da enfermagem está diretamente relacionada às demandas de autocuidado de um indivíduo. A assistência de enfermagem se faz necessária sempre que a capacidade do indivíduo de cuidar de si mesmo esteja prejudicada, resultando em um déficit de autocuidado. O empenho dos sujeitos nas atividades de autocuidado não está relacionado apenas a aspectos biológicos e estruturais, mas também à cultura, educação e sociedade que os cercam.

2. Sobre a atuação da enfermagem no cenário do autocuidado, assinale a alternativa correta.

A) No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem está diretamente ligada à demanda de autocuidado da família, isto é, quando o paciente apresenta alguma limitação para cuidar de si.

B) No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem está relacionada à demanda de autocuidado da pessoa, isto é, quando ela apresenta alguma limitação para cuidar de si. Assim, conclui-se que a presença de déficit de autocuidado faz a atuação da família do paciente necessária.

C) No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem está diretamente ligada à demanda de autocuidado da pessoa, isto é, quando ela apresenta alguma limitação para cuidar de si. Assim, infere-se que a presença de déficit de autocuidado faz a assistência de enfermagem ser necessária.

D) No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem está diretamente relacionada à demanda de autocuidado da pessoa, isto é, quando ela não tem familiares disponíveis para auxiliá-la. Desse modo, compreende-se que a presença de déficit de autocuidado faz a assistência de enfermagem ser necessária.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem está diretamente ligada à demanda de autocuidado da pessoa, quando ela apresenta alguma limitação para cuidar de si. Dessa forma, compreende-se que a presença de déficit de autocuidado faz a assistência de enfermagem ser necessária.

Resposta correta.


No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem está diretamente ligada à demanda de autocuidado da pessoa, quando ela apresenta alguma limitação para cuidar de si. Dessa forma, compreende-se que a presença de déficit de autocuidado faz a assistência de enfermagem ser necessária.

A alternativa correta é a "C".


No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem está diretamente ligada à demanda de autocuidado da pessoa, quando ela apresenta alguma limitação para cuidar de si. Dessa forma, compreende-se que a presença de déficit de autocuidado faz a assistência de enfermagem ser necessária.

3. Entre 1971 e 1991, Dorothea Orem deu origem à TDAE, que é constituída da inter-relação de três teorias. Sobre quais são essas teorias, assinale a alternativa correta.

A) Teoria do autocuidado, teoria das necessidades humanas básicas e teoria do déficit de autocuidado.

B) Teoria do autocuidado, teoria ambientalista e teoria dos sistemas de enfermagem.

C) Teoria do déficit de autocuidado, teoria do autocuidado e teoria holística.

D) Teoria do autocuidado, teoria do déficit de autocuidado e teoria dos sistemas de enfermagem.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


A TDAE foi elaborada por meio das reflexões de Dorothea Orem e constituída pelas teorias do autocuidado, do déficit de autocuidado e dos sistemas de enfermagem. A teoria das necessidades humanas básicas, a teoria ambientalista e a teoria holística são oriundas das reflexões de outras importantes representantes da enfermagem — Wanda Horta, Florence Nightingale e Myra Levine, respectivamente.

Resposta correta.


A TDAE foi elaborada por meio das reflexões de Dorothea Orem e constituída pelas teorias do autocuidado, do déficit de autocuidado e dos sistemas de enfermagem. A teoria das necessidades humanas básicas, a teoria ambientalista e a teoria holística são oriundas das reflexões de outras importantes representantes da enfermagem — Wanda Horta, Florence Nightingale e Myra Levine, respectivamente.

A alternativa correta é a "D".


A TDAE foi elaborada por meio das reflexões de Dorothea Orem e constituída pelas teorias do autocuidado, do déficit de autocuidado e dos sistemas de enfermagem. A teoria das necessidades humanas básicas, a teoria ambientalista e a teoria holística são oriundas das reflexões de outras importantes representantes da enfermagem — Wanda Horta, Florence Nightingale e Myra Levine, respectivamente.

4. Considerando os conceitos e as descrições de autocuidado, correlacione as colunas.

1 Capacidade para o autocuidado

2 Demanda de autocuidado terapêutico

3 Requisitos de autocuidado

4 Requisitos universais de autocuidado

5 Requisitos de desenvolvimento de autocuidado

6 Requisitos de autocuidado nos desvios de saúde

Demandados em cenários de doença, lesões, incapacitações ou em consequência de diagnósticos e intervenções associados a alguma condição.

Diz respeito à habilidade que as pessoas têm de engajarem-se no autocuidado.

Especializações dos requisitos universais durante o processo de desenvolvimento ou aqueles que surgirem a partir de uma condição ou evento particular que estejam presentes na vida de uma pessoa, tais como gestação, óbito de familiar ou adaptações a uma mudança de cidade.

São as ações de autocuidado desempenhadas por certo período para atender aos requisitos de autocuidado que os indivíduos apresentam quando eles estão impossibilitados de realizarem espontaneamente.

São conceitos adicionais da teoria do autocuidado, definidos como ações que suprem o autocuidado, realizadas pelas ou para as pessoas, e são distribuídos em categorias.

Comuns a todos os seres humanos durante todo o ciclo vital e estão associados com os processos da vida (p. ex., manutenção de ingesta hídrica suficiente ou do equilíbrio entre períodos de atividades e repouso).

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) 6 — 1 — 5 — 2 — 3 — 4

B) 1 — 2 — 3 — 5 — 4 — 6

C) 4 — 5 — 1 — 6 — 2 — 3

D) 5 — 6 — 4 — 3 — 1 — 2

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


A sentença 1 refere-se ao conceito de requisitos de autocuidado nos desvios de saúde, que são as condições manifestadas durante a ocorrência de doenças e lesões que podem requerer medidas terapêuticas para diagnosticar ou corrigir a condição. A sentença 2 refere-se ao conceito de capacidade de autocuidado, que retrata a capacidade humana de engajar-se nas ações de autocuidado. A sentença 3 refere-se ao conceito de requisitos de desenvolvimento de autocuidado, que concentram as demandas de autocuidado estabelecidas pelo processo de desenvolvimento humano frente às questões físicas, emocionais, processos de vida, entre outros. A sentença 4 refere-se ao conceito demanda de autocuidado terapêutico, que são todas as ações desempenhadas profissionalmente às pessoas. A sentença 5 refere-se aos requisitos de autocuidado, que são as ações realizadas no sentido de atender às necessidades de autocuidado do indivíduo. A sentença 6 refere-se ao conceito de requisitos universais de autocuidado, que são aqueles comuns a todos os seres humanos, por tratar de elementos fundamentais para a manutenção da vida (p. ex., ar, água, alimentos, eliminações, sono e repouso).

Resposta correta.


A sentença 1 refere-se ao conceito de requisitos de autocuidado nos desvios de saúde, que são as condições manifestadas durante a ocorrência de doenças e lesões que podem requerer medidas terapêuticas para diagnosticar ou corrigir a condição. A sentença 2 refere-se ao conceito de capacidade de autocuidado, que retrata a capacidade humana de engajar-se nas ações de autocuidado. A sentença 3 refere-se ao conceito de requisitos de desenvolvimento de autocuidado, que concentram as demandas de autocuidado estabelecidas pelo processo de desenvolvimento humano frente às questões físicas, emocionais, processos de vida, entre outros. A sentença 4 refere-se ao conceito demanda de autocuidado terapêutico, que são todas as ações desempenhadas profissionalmente às pessoas. A sentença 5 refere-se aos requisitos de autocuidado, que são as ações realizadas no sentido de atender às necessidades de autocuidado do indivíduo. A sentença 6 refere-se ao conceito de requisitos universais de autocuidado, que são aqueles comuns a todos os seres humanos, por tratar de elementos fundamentais para a manutenção da vida (p. ex., ar, água, alimentos, eliminações, sono e repouso).

A alternativa correta é a "A".


A sentença 1 refere-se ao conceito de requisitos de autocuidado nos desvios de saúde, que são as condições manifestadas durante a ocorrência de doenças e lesões que podem requerer medidas terapêuticas para diagnosticar ou corrigir a condição. A sentença 2 refere-se ao conceito de capacidade de autocuidado, que retrata a capacidade humana de engajar-se nas ações de autocuidado. A sentença 3 refere-se ao conceito de requisitos de desenvolvimento de autocuidado, que concentram as demandas de autocuidado estabelecidas pelo processo de desenvolvimento humano frente às questões físicas, emocionais, processos de vida, entre outros. A sentença 4 refere-se ao conceito demanda de autocuidado terapêutico, que são todas as ações desempenhadas profissionalmente às pessoas. A sentença 5 refere-se aos requisitos de autocuidado, que são as ações realizadas no sentido de atender às necessidades de autocuidado do indivíduo. A sentença 6 refere-se ao conceito de requisitos universais de autocuidado, que são aqueles comuns a todos os seres humanos, por tratar de elementos fundamentais para a manutenção da vida (p. ex., ar, água, alimentos, eliminações, sono e repouso).

Aplicação da teoria do déficit de autocuidado de enfermagem

A busca por autonomia profissional possibilitou a estruturação das teorias de enfermagem, assim, passou a ser de conhecimento pela área os princípios que norteariam teoricamente o agir profissional.14 Nesse movimento, a TDAE constituiu um marco teórico para a fundamentação da prática profissional.

Desde a apresentação de suas concepções teóricas em 1959, a TDAE vem sendo utilizada em diversos aspectos da área da enfermagem, no ensino em enfermagem, na composição da base de currículos de escolas de enfermagem, fundamentando o PE e a pesquisa.10

Em uma revisão da literatura, verificou-se que a teoria de Orem é empregada como base teórico-filosófica da prática em diversas situações e contextos, desde fundamentação das ações de enfermagem diante de pessoas com condições crônicas de saúde, condições transitórias (p. ex., gestação e pós-operatório) até o ensino de pacientes sobre seu autocuidado.14

No que tange às condições de saúde que são encontradas nos estudos publicados que utilizaram a teoria de Orem, verificou-se o uso da TDAE entre condições crônicas, agudas e infecciosas.15–18

Entre os estudos publicados sobre a teoria de Orem, grande parte concentra testes de intervenções elaboradas para atender ao autocuidado considerando os sistemas de enfermagem, sendo que o sistema apoio-educativo é o principal foco das intervenções testadas. A seguir, apresentam-se alguns exemplos de tipos e indicações de intervenções segundo os sistemas de enfermagem:

  • sistema totalmente compensatório — intervenção voltada para o autocuidado de pessoas com casos graves de COVID-19 em uso de dreno de tórax após trauma;17,18
  • sistema parcialmente compensatório — intervenção voltada para a reabilitação de idosos após fratura de quadril e ensino do autocuidado durante o acompanhamento pré-natal de mulheres em risco de parto prematuro;6,19
  • sistema apoio-educativo — intervenção voltada ao ensino do autocuidado de pessoas com doença cardiovascular para incapacidades decorrentes da enxaqueca.15,20

Há de se evidenciar que a maior parte dos estudos publicados sobre autocuidado inclui pacientes adultos, homens e mulheres. São poucos os trabalhos que incluíram amostras com idosos e crianças. Alguns estudos ainda consideram os cuidadores de crianças e idosos.

As características dos estudos sobre o autocuidado baseado na teoria de Orem entre crianças abarcaram testes de intervenções que fortaleciam o autocuidado de crianças com alguma condição crônica (p. ex., asma), intervenções aos pais e cuidadores (p. ex., melhora da adesão na imunização) e investigações sobre a ocorrência e preditores de déficit de autocuidado entre crianças com problemas de saúde.21–23

Os resultados da aplicação de intervenções baseadas em um modelo de cuidados empregando os sistemas de enfermagem mostraram ser eficazes para melhora da QV, redução de complicações decorrentes da condição de saúde vivenciada, melhora da capacidade de realização do autocuidado, melhora da autoestima, melhora da autoeficácia e melhora nos aspectos físicos vivenciados entre pessoas com doenças crônica, como incapacidades e dor.6,15,16,20,21

A análise das publicações sobre a TDAE de Orem permitiu averiguar que parte dos estudos se voltou para conhecer e explorar os conceitos centrais das três teorias em diversos contextos e populações. Observaram-se estudos que analisaram capacidade de autocuidado, fatores condicionantes e requisitos de autocuidado, bem como estudos que focaram no déficit de autocuidado e nos sistemas de enfermagem (descritos anteriormente).14–21

Outra parte dos estudos buscou desenvolver instrumentos de avaliação e medida dos elementos essenciais da TDAE. Nesse cenário, as ações de autocuidado e capacidade de autocuidado foram os elementos mais presentes.

Além disso, notou-se que os instrumentos se voltaram para a análise de algum aspecto do autocuidado de forma mais geral e para condições mais específicas, como a avaliação das ações de autocuidado diante de hipertensão arterial sistêmica e doença cardiovascular. A seguir, apresenta-se uma breve descrição de alguns instrumentos encontrados na literatura.

Escala de requisitos de autocuidado

A escala de requisitos de autocuidado (SCRS), desenvolvida na Espanha, é composta por 35 itens, com 5 opções de resposta, variando de nenhum a total déficit de requisito de autocuidado. Avalia os requisitos de autocuidado de pessoas com esquizofrenia no contexto ambulatorial, portanto foi desenvolvida e validada nesse.24

As propriedades psicométricas investigadas na SCRS foram confiabilidade e validade de constructo (convergente, discriminante e pela análise fatorial confirmatória), e os resultados obtidos mostraram adequada consistência interna e estabilidade da medida no decorrer do tempo, adequada validade de constructo convergente e discriminante, e ajustes satisfatórios do modelo aos requisitos de autocuidado de que foi originado.24

Escala de avaliação da capacidade para o autocuidado para a redução do consumo de sal

A escala de avaliação da capacidade para o autocuidado para a redução do consumo de sal (DSR-SCA), originalmente desenvolvida nos Estados Unidos, foi construída e validada para avaliar a capacidade de autocuidado de idosos hipertensos para o autocuidado com o consumo de sal. Essa escala é composta por 11 itens, divididos em 3 subescalas. Foi validada entre idosos hipertensos em acompanhamento ambulatorial. A análise das propriedades psicométricas ocorreu pela análise fatorial exploratória, análise Rasch e confiabilidade.25

A análise fatorial da DSR-SCA evidenciou a organização dos itens em 3 domínios, que medem proficiência, persuasão e desenvoltura. Os testes de Meyer-Olkin, Bartlett e X2 foram significativos, e as medidas representaram 51% da variância total. A análise de Rasch evidenciou adequação dos itens que compuseram a escala, e a confiabilidade, verificada pelo alfa de Conbrach, foi satisfatória. Desse modo, trata-se de uma escala que apresenta validade e confiabilidade adequadas.25

Escala de avaliação da capacidade de autocuidado revisada

A escala de avaliação da capacidade de autocuidado revisada (Asas-R) é composta por 15 itens, divididos em 3 subescalas, que avaliam o poder das pessoas para realizarem o autocuidado, como o autocuidado é desenvolvido e os aspectos relacionados à falta de poder para realizar o autocuidado. A pontuação total da Asas-R se dá pela somatória de respostas em cada item, que varia de 15 a 75 pontos, e, quanto maior a pontuação, maior a capacidade das pessoas de realizarem o autocuidado.1,26

Originalmente, a Asas-R foi construída no Estados Unidos e validada em um contexto geral de adultos com e sem problemas de saúde. As propriedades psicométricas investigadas foram validade de constructo (análise fatorial exploratória e confirmatória, entre amostras diferentes) e confiabilidade (alfa de Cronbach), cujos resultados mostraram adequada estrutura fatorial em 3 fatores, com excelentes índices de ajuste e consistência interna.1,26

A SCRS, a DSR-SCA e a Asas-R foram traduzidas e adaptadas para diferentes culturas e idiomas, sendo que para uso na língua portuguesa falada no Brasil somente a Asas-R passou por estudos específicos de tradução, adaptação cultural e análises das propriedades psicométricas. A Asas-R foi testada na população brasileira de pessoas adultas com diversas condições de saúde e com diabetes melito tipo 2 em uso de insulina. Ambos os estudos indicaram sua utilização na prática em novas pesquisas.1,26

Esses instrumentos são ferramentas importantes para serem consideradas no cuidado baseado na TDAE, pois podem ser utilizados na etapa de investigação clínica, ou seja, coleta de dados, para direcionar a avaliação da capacidade de realizar o autocuidado (conforme possibilitado pela Asas-R)1 ou os requisitos de autocuidado (como proposto pela SCRS).24

Além disso, essas avaliações focadas nos elementos da TDAE auxiliam o PE, pois oferecem informações para o estabelecimento de diagnósticos, prescrição (passo 1 do PE de Orem), a definição do sistema de enfermagem que fundamentará a assistência (passo 2 do PE) e a avaliação do atendimento de metas e objetivos estabelecidos (passo 3 do PE).

Aspectos gerais do autocuidado em oncologia

O câncer é um problema de saúde pública mundial que compromete o organismo acometido, reduzindo, entre outros fatores, a capacidade de autocuidado. Nesse aspecto, a QV do paciente oncológico pode estar comprometida desde o momento do diagnóstico. Isso porque, quando um indivíduo é diagnosticado com neoplasia, seja em fase precoce, seja avançada, ele sofre impacto emocional e psicológico significativo. Além disso, não é incomum que a neoplasia seja diagnosticada em estádio mais avançado, quando já é capaz de causar algum sintoma grave ou incapacidade.5,6

É notório que os efeitos da doença oncológica impõem uma nova realidade à ampla maioria de indivíduos acometidos, uma vez que, depois do diagnóstico, precisam ser submetidos a uma ou mais modalidades de tratamento, sendo as mais comuns cirurgia, QTA, radioterapia e terapia biológica.

A QTA é um dos tratamentos mais utilizados no combate a diversos tipos de câncer e consiste na administração de medicamentos antineoplásicos de diferentes classes e combinações, podendo ser aplicados pelas vias oral, intravenosa, intramuscular, subcutânea, intratecal e tópica. Esses medicamentos são levados pela corrente sanguínea para todas as partes do corpo humano e agem em nível celular, interferindo na divisão e no crescimento das células cancerígenas, destruindo-as ou impedindo-as de se espalhar.5

Em contrapartida, apesar de seus efeitos terapêuticos, os antineoplásicos sistêmicos podem causar toxicidade ao organismo, uma vez que, apesar dos avanços proporcionados pela indústria farmacêutica em relação à produção de quimioterápicos mais seletivos e menos agressivos, eles ainda causam efeitos deletérios na divisão de células saudáveis. Consequentemente, as pessoas em tratamento oncológico são acometidas por diversos efeitos colaterais, como imunossupressão, náuseas, vômitos, alopecia, cardiotoxicidade e neurotoxicidade.5

Concomitantemente, é conhecido que pacientes expostos ao tratamento quimioterápico podem ter sua capacidade funcional afetada desde os primeiros ciclos de infusão medicamentosa, sendo possível que apresentem limitações das atividades de vida diária, alterações na capacidade de autocuidado e perda significativa de autonomia.

As funções físicas e emocionais podem ser afetadas, principalmente, por insônia, fadiga, dispneia, perda de apetite e dor relacionadas à doença e ao tratamento. Entre esses sintomas, a fadiga é a mais frequente, sendo caracterizada como um estado intenso de esgotamento que tem duração maior que a fadiga não relacionada à oncologia.5

Nesse cenário, a fadiga pode afetar os domínios funcionais, reduzir a satisfação pessoal e, consequentemente, a QV. Além disso, a fadiga, quando não manejada, também interfere nas atividades de vida diária do paciente e pode, inclusive, influenciar na decisão profissional de interromper o tratamento ou reduzir a dose de um quimioterápico.5

Como citado anteriormente, a perda de apetite é um sintoma frequente em pessoas com doenças oncológicas em QTA. Essa realidade decorre de alterações no paladar, náuseas, mucosites ou enterites, aspectos físicos relacionados ao efeito dos antineoplásicos que podem ser amenizados por meio de ações de autocuidado.5

Nas últimas duas décadas, a transição do ambiente destinado à administração de antineoplásicos, do ambiente hospitalar de internação para o ambulatorial, fez com que os pacientes assumissem papel de destaque na identificação e no controle de eventuais complicações por meio do autocuidado, uma vez que os efeitos tardios da aplicação desses medicamentos são experienciados em domicílio, longe da vigilância de um profissional de enfermagem qualificado.27

Ao mesmo tempo, não bastassem os efeitos deletérios da QTA, os medicamentos utilizados têm seus próprios efeitos colaterais, tais como hipotensão, cefaleia, anorexia, constipação, fadiga e diarreia. Esse boom de efeitos decorrentes do tratamento, somado ao estresse psicológico, frequentemente, resulta em queda no bem-estar geral, que repercute, inclusive, nas relações interpessoais do paciente oncológico, podendo provocar, entre outros fatores, isolamento social e, em alguns casos, depressão.27

No mundo, uma variedade de métodos não tradicionais e farmacológicos tem sido proposta para manejar os efeitos do tratamento sobre a QV dos pacientes com câncer. Entre eles, está, justamente, o foco da discussão até aqui, a TDAE proposta por Orem, uma vez que ela chama a atenção para a possibilidade de se reduzirem os efeitos ocasionados pela doença e pelo tratamento à medida que o profissional de enfermagem garante acesso à educação para o autocuidado ao indivíduo afetado pela doença.27

Promover autonomia para a realização do autocuidado entre as pessoas que fazem QTA é um aspecto essencial do cuidado em oncologia, pois existe relação entre as ações de autocuidado desempenhadas pelas pessoas e a melhora dos efeitos colaterais da QTA.

Alguns estudos mostraram a relação existente entre o autocuidado e as reações provocadas pelo tratamento oncológico. Entre esses estudos, destaca-se um que mostrou que pessoas que apresentavam melhores níveis de capacidade de realizar o autocuidado tinham menor chance de apresentarem fadiga relacionada ao tratamento oncológico.7 Em outro, o ensino, o acompanhamento e o preparo para a realização de autocuidado resultaram em melhora de sintomas depressivos e das funções sociais entre as pessoas em tratamento oncológico.28

Um estudo que acompanhou pessoas que estavam recebendo QTA descreveu que elas utilizavam diversas ações de autocuidado para lidarem com os seguintes efeitos: fadiga, depressão, anorexia, perda de peso, náusea e alopecia; as ações voltaram-se para a dieta e a alimentação, mudanças no estilo de vida e do pensamento, e controle de peso e espiritualidade.29

Pode-se reconhecer que o autocuidado exerce papel fundamental na maneira como as pessoas em tratamento oncológico lidam com os efeitos do tratamento e manifestam isso, bem como nos resultados de saúde.

ATIVIDADES

5. Sobre o PE, analise as afirmativas a seguir.

I. Foi denominado por Orem de processo tecnológico da prática de enfermagem.

II. O cerne do PE de Orem é a determinação das deficiências de autocuidado e a determinação dos papeis das pessoas envolvidas para atendê-las.

III. Os passos do PE suprimem a etapa da coleta de dados.

IV. Devido às grandes diferenças entre os passos do PE de Orem e as etapas estabelecidas pela COFEN, não há possibilidade de relacioná-las.

Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I.

B) Apenas a I e a II.

C) Apenas a II e a III.

D) Apenas a I e a III.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


Para Orem, o PE “é um método de determinação das deficiências de autocuidado e a posterior definição dos papéis da pessoa ou enfermeiro para satisfazer as exigências de autocuidado” e foi denominado pela autora como processo tecnológico da prática de enfermagem. Para tanto, Orem construiu um modelo de três passos. No passo 1, são estabelecidos diagnóstico e prescrição a partir de investigação (coleta de dados) sobre ações de autocuidado dos pacientes e suas demandas.

Resposta correta.


Para Orem, o PE “é um método de determinação das deficiências de autocuidado e a posterior definição dos papéis da pessoa ou enfermeiro para satisfazer as exigências de autocuidado” e foi denominado pela autora como processo tecnológico da prática de enfermagem. Para tanto, Orem construiu um modelo de três passos. No passo 1, são estabelecidos diagnóstico e prescrição a partir de investigação (coleta de dados) sobre ações de autocuidado dos pacientes e suas demandas.

A alternativa correta é a "B".


Para Orem, o PE “é um método de determinação das deficiências de autocuidado e a posterior definição dos papéis da pessoa ou enfermeiro para satisfazer as exigências de autocuidado” e foi denominado pela autora como processo tecnológico da prática de enfermagem. Para tanto, Orem construiu um modelo de três passos. No passo 1, são estabelecidos diagnóstico e prescrição a partir de investigação (coleta de dados) sobre ações de autocuidado dos pacientes e suas demandas.

6. Considerando as definições das teorias de sistema de enfermagem acerca da utilização de intervenções contemporâneas que têm como base os postulados de Orem, sobre uma intervenção pautada no sistema apoio-educativo, assinale a alternativa correta.

A) Intervenção voltada para a melhora do equilíbrio e da função motora de pessoas com esclerose múltipla.

B) Intervenção voltada para o autocuidado de pessoas em uso de dreno de tórax após trauma.

C) Intervenção voltada ao ensino para o controle da hipertensão arterial sistêmica por meio do autocuidado.

D) intervenção voltada para a reabilitação de idosos após fratura de quadril.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


O sistema apoio-educativo é aquele em que os indivíduos são capazes de executar ou aprender a executar ações para seu autocuidado. Nessa situação, o enfermeiro atua na supervisão do desenvolvimento das ações, incentivando o paciente a desenvolvê-las de maneira independente. Assim, durante o tipo de intervenção citado na alternativa C, o profissional de enfermagem se vale desse sistema para instrumentalizar o indivíduo de modo que ele seja capaz de controlar sua doença da maneira mais independente possível por meio do autocuidado.

Resposta correta.


O sistema apoio-educativo é aquele em que os indivíduos são capazes de executar ou aprender a executar ações para seu autocuidado. Nessa situação, o enfermeiro atua na supervisão do desenvolvimento das ações, incentivando o paciente a desenvolvê-las de maneira independente. Assim, durante o tipo de intervenção citado na alternativa C, o profissional de enfermagem se vale desse sistema para instrumentalizar o indivíduo de modo que ele seja capaz de controlar sua doença da maneira mais independente possível por meio do autocuidado.

A alternativa correta é a "C".


O sistema apoio-educativo é aquele em que os indivíduos são capazes de executar ou aprender a executar ações para seu autocuidado. Nessa situação, o enfermeiro atua na supervisão do desenvolvimento das ações, incentivando o paciente a desenvolvê-las de maneira independente. Assim, durante o tipo de intervenção citado na alternativa C, o profissional de enfermagem se vale desse sistema para instrumentalizar o indivíduo de modo que ele seja capaz de controlar sua doença da maneira mais independente possível por meio do autocuidado.

7. Sobre o autocuidado em oncologia, assinale a alternativa correta.

A) Os estudos não apresentam evidências entre o autocuidado e as reações provocadas pelo tratamento oncológico.

B) A promoção da autonomia para a realização do autocuidado entre as pessoas que estão em tratamento quimioterápico é uma dimensão importante da assistência de enfermagem em oncologia.

C) Embasando-se nas evidências obtidas por estudos científicos, pode-se considerar que ter ou não capacidade para o autocuidado foi indiferente na intensidade de manifestações apresentadas pelas pessoas durante o tratamento oncológico.

D) Na doença oncológica, não é possível pensar em autocuidado, mas, sim, em promover o cuidado advindo da família do paciente.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


O autocuidado exerce papel fundamental na maneira como as pessoas em tratamento oncológico manifestam os efeitos do tratamento e lidam com eles, assim como nos resultados de saúde, portanto promover a autonomia para a realização do autocuidado entre as pessoas que fazem QTA é um aspecto importante do cuidado em oncologia, já que existe relação entre as ações de autocuidado desempenhadas pelas pessoas e a melhora dos efeitos colaterais da QTA. No decorrer do capítulo, foram apresentados resultados de pesquisas que mostraram o efeito do autocuidado na melhora da intensidade de efeitos do tratamento, como fadiga, sintomas depressivos e funções sociais.

Resposta correta.


O autocuidado exerce papel fundamental na maneira como as pessoas em tratamento oncológico manifestam os efeitos do tratamento e lidam com eles, assim como nos resultados de saúde, portanto promover a autonomia para a realização do autocuidado entre as pessoas que fazem QTA é um aspecto importante do cuidado em oncologia, já que existe relação entre as ações de autocuidado desempenhadas pelas pessoas e a melhora dos efeitos colaterais da QTA. No decorrer do capítulo, foram apresentados resultados de pesquisas que mostraram o efeito do autocuidado na melhora da intensidade de efeitos do tratamento, como fadiga, sintomas depressivos e funções sociais.

A alternativa correta é a "B".


O autocuidado exerce papel fundamental na maneira como as pessoas em tratamento oncológico manifestam os efeitos do tratamento e lidam com eles, assim como nos resultados de saúde, portanto promover a autonomia para a realização do autocuidado entre as pessoas que fazem QTA é um aspecto importante do cuidado em oncologia, já que existe relação entre as ações de autocuidado desempenhadas pelas pessoas e a melhora dos efeitos colaterais da QTA. No decorrer do capítulo, foram apresentados resultados de pesquisas que mostraram o efeito do autocuidado na melhora da intensidade de efeitos do tratamento, como fadiga, sintomas depressivos e funções sociais.

Estudo de caso

A seguir, será apresentado um estudo de caso fictício, elaborado pelas autoras deste capítulo, que exemplifica o contexto assistencial a uma pessoa que iniciará o tratamento quimioterápico (Quadro 2), a avaliação da capacidade de autocuidado e o PE considerando os pressupostos de Orem.3

QUADRO 2

REPRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO DO ESTUDO DE CASO FICTÍCIO

Fatores pessoais

  • Paciente do sexo feminino, sra. Maria tem 53 anos, é casada e tem duas filhas. É do lar, com ensino fundamental incompleto, religião católica. Mora em casa própria de alvenaria e provida de serviços de luz, água, esgoto e coleta de lixo.

Autocuidado universal

  • Tabagista de 10 cigarros/dia há mais de 30 anos, menarca aos 14 anos e menopausa aos 49 anos.
  • Relata procurar consumir líquidos várias vezes ao dia e alimentos saudáveis (frutas, legumes, pouca carne vermelha e grãos).
  • Não está realizando nenhum tipo de atividade física desde que descobriu a doença e passa a maior parte do tempo em repouso, assistindo televisão. Antes, realizava caminhadas diárias de, no mínimo, 30min.
  • Recebe visita, aos fins de semana, de suas filhas e netos, porém recebe poucas visitas, por receio de adquirir alguma doença.
  • Durante a consulta de enfermagem, que ocorreu antes do início do tratamento com QTA, ao ser questionada sobre quais eram suas preocupações em relação ao tratamento, a Sra. Maria referiu querer compreender melhor os efeitos colaterais do tratamento, pois, para ela, seria muito importante saber formas de auxiliar a equipe de saúde e sua família a cuidar desses possíveis efeitos, caso ocorram.
  • Apresenta bom estado geral e está lúcida e orientada em tempo e espaço.
  • Pele e mucosas hidratadas, com turgor cutâneo mantido, com pele descorada (1+/4+).
  • Temperatura de 36,4°C, pulso radial de 88bpm, FR de 12rpm e PA de 130/90mmHg.
  • Na inspeção do tórax, mama direita volumosa, incisão cirúrgica bem cicatrizada na altura da mama esquerda. Na palpação do tórax, não foram evidenciados nódulos e dor. Na ausculta pulmonar, murmúrios vesiculares presentes em toda a extensão pulmonar, sem ruídos adventícios. Na ausculta cardíaca, bulhas cardíacas rítmicas, normofonéticas, sem sopros. Sem presença de linfonodomegalias. Apresenta abdome globoso, com ruídos hidroaéreos presentes, indolor à palpação superficial e profunda. Nega alterações relacionadas às eliminações urinárias e intestinais no momento. MSE livre de edema, movimentação preservada de membros superiores e inferiores.

Autocuidado de desenvolvimento

  • Em tratamento de saúde prolongado.

Desvios de saúde

  • É hipertensa, em uso de anti-hipertensivo.
  • Há cerca de 5 meses, notou um nódulo na mama esquerda, doloroso à palpação. Na ocasião, procurou a unidade de saúde. Foram realizados exames de rotina e, na mamografia, detectou-se presença de um nódulo irregular de alta densidade radiológica e margens espiculadas na mama esquerda, medindo 4,5cm, comprometendo o sistema linfático axilar, BI-RADS 5. Será submetida ao primeiro ciclo de tratamento.

Problemas e plano médico

  • Foi diagnosticada com carcinoma ductal infiltrante, estádio II, perfil imunoistoquímico de luminal B (RE+, HER2+, índice de Ki-67 > 14%).
  • Foi submetida à mastectomia radical à esquerda, com esvaziamento axilar à esquerda, há 2 meses, e iniciará o primeiro ciclo de tratamento adjuvante (QT e terapia biológica).

Déficit de autocuidado

  • Manifesta desejo de compreender seu tratamento e as possíveis reações que podem ocorrer, e como podem ser manejadas pela própria paciente e sua família.
  • A avaliação da capacidade de autocuidado pela Asas-R resultou em 66 pontos, indicando elevada capacidade para o autocuidado.1

FR: frequência respiratória; PA: pressão arterial; MSE: membro superior esquerdo; Bi-RADS: breast imaging reporting and date system; RE+: receptor de estrógeno positivo.

No estudo de caso, descreve-se a história de uma mulher na consulta de enfermagem prévia ao início de QT como uma das medidas terapêuticas indicadas para tratamento de câncer de mama. Assim, a consulta de enfermagem é reconhecida como um recurso terapêutico voltado para que a assistência de enfermagem seja pautada em ações de forma qualificada, tanto para o paciente quanto para a família, desde antes de iniciar o tratamento quimioterápico.

As ações de enfermagem são fundamentais durante todo o processo de tratamento com QTA e são voltadas para auxiliar pacientes e familiares no enfrentamento do diagnóstico, ensino sobre os medicamentos e seus possíveis efeitos colaterais, bem como o que pode ser feito quando esses efeitos acontecem e o que pode ser realizado como medidas de autocuidado, visando à redução do agravamento dos sintomas, complicações e possíveis internações de pessoas em tratamento oncológico com QTA.

Neste estudo de caso, foi constatada a preocupação da paciente em relação ao seu tratamento, pois desejava saber se haveria efeitos e como poderia cuidar deles, caso ocorressem. A consulta de enfermagem será fundamental para elucidar a paciente quanto a essas preocupações. Assim, considerando a NANDA-I12 e o referencial da TDAE, o DE que subsidiou o plano de cuidados foi Disposição para melhora do autocuidado (00182), caracterizado por expressão de desejo de melhorar o autocuidado e o conhecimento sobre estratégias de autocuidado.

Na compreensão das autoras deste capítulo, o DE Disposição para autocuidado melhorado abarca as preocupações da paciente para esse momento do tratamento, pois, se ela conhecer os efeitos dos medicamentos que receberá, poderá reconhecer a ocorrência deles precocemente e informar a equipe de saúde oportuna e adequadamente, além de implementar ações de autocuidado diárias que possam auxiliar na redução da intensidade e gravidade desses efeitos.

Na taxonomia da NANDA-I, há uma classe denominada Autocuidado, incluída no domínio Atividade/Repouso, que compreende os DEs voltados ao déficit de autocuidado nas atividades de vida diária (como alimentação, banho, higiene e vestir-se), o DE Disposição para autocuidado melhorado e o DE Autonegligência (00195).12 Verificou-se que o conceito de autocuidado e déficit de autocuidado considerados por Orem transcendem os limites de desenvolvimento das atividades de vida diária, como discorrido neste capítulo, possibilitando caminhos para estudos nessa área.

O DE Disposição para autocuidado melhorado é um diagnóstico de promoção da saúde, que é “um julgamento clínico a respeito da motivação e desejo de aumentar o bem-estar e concretizar o potencial” que as pessoas têm para atingir a saúde.12 É definido como “Padrão de realização de atividades para si mesmo para atingir as metas relativas à saúde, que pode ser fortalecido”.12 Tem as seguintes características definidoras, evidenciando a expressão do desejo de melhorar os seguintes aspectos:

  • independência na saúde;
  • independência na vida;
  • independência no bem-estar;
  • independência no desenvolvimento pessoal;
  • autocuidado;
  • conhecimento sobre estratégias de autocuidado.

Considerando e dando continuidade ao passo 1 do PE baseado em Orem, DE e prescrição, a prescrição de enfermagem fundamentada no DE Disposição para autocuidado melhorado foi elaborada a partir da intervenção de enfermagem Controle da quimioterapia, da NIC,13 conforme descrito a seguir:

  • ensinar a paciente e sua família os efeitos da QTA, bem como relacionar os efeitos atualmente apresentados com o tratamento;
  • orientar a paciente e sua família sobre as formas de prevenir infecção, como evitar multidões, usar medidas adequadas de higiene e lavagem das mãos;
  • orientar a paciente e sua família a relatar imediatamente a ocorrência de febre, calafrios, hematomas, sangramentos e alterações nas fezes;
  • ensinar precauções para neutropenia e sangramento (eventos adversos potencialmente graves);
  • orientar sobre as ações que reduzem os estímulos de efeitos colaterais;
  • ensinar a importância do consumo adequado de líquidos e garanti-lo;
  • ensinar medidas para controle de infecção da mucosa oral, como higiene adequada e constante, evitar dentifrício e soluções que contenham álcool, uso de saliva artificial, uso correto de medicamentos prescritos e acompanhamento dentário frequente;
  • ensinar a autoavaliação da cavidade oral, incluindo os sinais e sintomas a serem relatados para avaliação profissional, como ardor, dor, sensibilidade;
  • monitorar o nível de fraqueza;
  • ensinar medidas de controle da fraqueza, como descansos frequentes, espaçamento entre atividades, limitação de atividades diárias;
  • ensinar medidas de cuidados com o couro cabeludo e cabelos, como extremos de temperatura e tratamentos químicos enquanto estiver em tratamento com QTA;
  • ensinar técnicas de relaxamento que podem ser usadas durante e após os ciclos;
  • ensinar o monitoramento de toxicidade de órgãos, conforme tratamento prescrito;
  • fornecer informações objetivas sobre os efeitos do tratamento (p. ex., neuropatia, cardiotoxicidade).

De modo a complementar os passos subsequentes do PE, o Quadro 3 descreve os elementos estabelecidos para o caso em análise em relação aos passos 2 e 3, considerando a avaliação da capacidade de autocuidado e o PE baseado nos pressupostos de Orem.

QUADRO 3

DESCRIÇÃO DOS PASSOS 3 E 4 DO PROCESSO DE ENFERMAGEM

PASSO 3 — ESBOÇO DE SISTEMA DE ENFERMAGEM

Objetivos

  • Demonstrar conhecimento sobre os principais efeitos da QTA (objetivo 1).
  • Reconhecer o aparecimento de efeitos da QTA e relatar sua ocorrência para a equipe de saúde (objetivo 2).
  • Implementar medidas de alívio e prevenção da ocorrência dos efeitos da QTA (objetivo 3).

Definição do sistema de enfermagem

  • Apoio e educação.

Esboço e elementos do sistema de enfermagem

  • A enfermeira estabelecerá papel de orientação e ensino da paciente para que ela consiga alcançar, controlar e desenvolver o autocuidado no contexto do tratamento com QTA.

PASSO 4 — PRODUÇÃO E CONTROLE DOS SISTEMAS DE ENFERMAGEM

Implementação

As ações da enfermeira nesse sistema consistem em atividades imediatas, em médio e longo prazos. Todas as atividades foram pensadas para que a paciente fosse acompanhada durante todo o período de tratamento com QTA:

  • atividade imediata — consulta de enfermagem antes de a paciente iniciar o tratamento com QTA. Objetivos a serem alcançados: 1 e 2. Durante a consulta de enfermagem, a enfermeira iniciou a implementação da prescrição de enfermagem de forma a atender à meta do sistema de apoio e educação estabelecido. Ainda, disponibilizou material educativo sobre os efeitos colaterais e autocuidado para que a paciente fizesse a leitura antes de iniciar o primeiro ciclo do tratamento. Nesse momento, todos os itens da prescrição de enfermagem (1 a 14) foram abordados com a paciente;
  • atividades de médio prazo — acompanhamento da paciente durante os ciclos de QTA e agendamento de consultas de enfermagem entre os ciclos, retomando todos os itens da prescrição. Objetivos a serem alcançados: 1, 2 e 3. No dia em que a paciente realizou o primeiro ciclo, a enfermeira conversou com ela para retomar todos os pontos já esclarecidos e verificar a presença de dúvidas que ainda permaneciam e que surgiram. Nesse momento, a ênfase se deu na abordagem dos itens da prescrição de 1 a 12. Ainda, como forma de garantir que a paciente consiga manter sua capacidade para o autocuidado, a enfermeira, durante as consultas de enfermagem entre os ciclos, manterá orientações e ensino voltados às condições apresentadas pela paciente, e avaliará continuamente a capacidade para o autocuidado. Nesses momentos, a enfermeira aplicará a Asas-R para acompanhar a capacidade de autocuidado, abordará novamente os itens da prescrição para verificar dúvidas e enfatizará os itens de 3 a 13;

atividades de longo prazo — acompanhamento da paciente após o término da terapia adjuvante por meio de agendamento de consulta de enfermagem (principalmente, os itens 10, 13 e 14 da prescrição). Objetivos a serem alcançados: 1, 2 e 3.

Avaliação

Investigar, durante o tratamento, se a paciente demonstra conhecimento sobre o autocuidado nos efeitos manifestados com o tratamento, se implementou as medidas de autocuidado para o manejo dos efeitos, se esses efeitos foram amenizados com as medidas aprendidas e implementadas e acompanhar a capacidade para realização do autocuidado. As estratégias utilizadas serão:1

  • acompanhamento da ocorrência dos efeitos colaterais, intensidade e gravidade deles;
  • realização do exame físico a cada consulta de enfermagem;
  • acompanhamento dos resultados dos exames laboratoriais solicitados;
  • aplicação da Asas-R nas consultas de enfermagem.

// Fonte: Adaptado de Orem (2001).3

ATIVIDADES

8. Observe as afirmativas sobre as características definidoras do DE Disposição para autocuidado melhorado da NANDA-I.

I. Expressa o desejo de melhorar a independência na saúde.

II. Expressa o desejo de melhorar a independência na vida.

III. Expressa o desejo de melhorar no desenvolvimento pessoal.

IV. Expressa o desejo de melhorar a independência no bem-estar.

Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I, a II e a IV.

B) Apenas a II e a IV.

C) Apenas a III.

D) A I, a II, a III e a IV.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


Além das características definidoras apresentadas no estudo de caso (expressa o desejo de melhorar o autocuidado e de melhorar o conhecimento sobre estratégias de autocuidado), todas as características definidoras listadas na atividade são apresentadas para o DE Disposição para autocuidado melhorado na taxonomia da NANDA-I.

Resposta correta.


Além das características definidoras apresentadas no estudo de caso (expressa o desejo de melhorar o autocuidado e de melhorar o conhecimento sobre estratégias de autocuidado), todas as características definidoras listadas na atividade são apresentadas para o DE Disposição para autocuidado melhorado na taxonomia da NANDA-I.

A alternativa correta é a "D".


Além das características definidoras apresentadas no estudo de caso (expressa o desejo de melhorar o autocuidado e de melhorar o conhecimento sobre estratégias de autocuidado), todas as características definidoras listadas na atividade são apresentadas para o DE Disposição para autocuidado melhorado na taxonomia da NANDA-I.

9. Analisando os dados do estudo de caso fictício sobre a Sra. A. S. A., que passou por consulta de enfermagem antes de iniciar a QTA, observe as afirmativas que apresentam informações da etapa de investigação que subsidiam a definição do DE Disposição para autocuidado melhorado.

I. A paciente referiu querer compreender melhor os efeitos colaterais do tratamento.

II. A paciente gostaria de saber a respeito de formas para auxiliar a equipe de saúde e sua família a cuidar desses possíveis efeitos, caso ocorram.

III. A capacidade para realização do autocuidado avaliada pela Asas-R indicou que a Sra. A. S. A. apresenta elevada capacidade para a realização do autocuidado (Asas-R = 66 pontos).

Quais estão corretas?

A) Apenas a I e a II.

B) Apenas a I e a III.

C) Apenas a II e a III.

D) A I, a II e a III.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


Sobre as informações da etapa de investigação que subsidiam a definição do DE Disposição para autocuidado melhorado da paciente do estudo de caso, todas as afirmativas estão corretas. A manifestação de desejo de conhecer melhor os efeitos a que a paciente estará exposta no tratamento e como poderá proceder caso ocorram corresponde à demonstração de desejo de melhorar o autocuidado e de conhecer estratégias de autocuidado, o que é característica definidora do DE Disposição para autocuidado melhorado. A avaliação da capacidade de autocuidado, pela Asas-R, revelou elevada capacidade para isso, uma vez que o escore varia entre 0 e 75 pontos e o valor obtido foi 66. Considerando esses aspectos avaliados durante a entrevista com a paciente, há demonstração de que ela tem padrão e capacidade de realização de atividades para si mesma para atingir a meta estabelecida, de conhecer e cuidar dos efeitos colaterais do tratamento.

Resposta correta.


Sobre as informações da etapa de investigação que subsidiam a definição do DE Disposição para autocuidado melhorado da paciente do estudo de caso, todas as afirmativas estão corretas. A manifestação de desejo de conhecer melhor os efeitos a que a paciente estará exposta no tratamento e como poderá proceder caso ocorram corresponde à demonstração de desejo de melhorar o autocuidado e de conhecer estratégias de autocuidado, o que é característica definidora do DE Disposição para autocuidado melhorado. A avaliação da capacidade de autocuidado, pela Asas-R, revelou elevada capacidade para isso, uma vez que o escore varia entre 0 e 75 pontos e o valor obtido foi 66. Considerando esses aspectos avaliados durante a entrevista com a paciente, há demonstração de que ela tem padrão e capacidade de realização de atividades para si mesma para atingir a meta estabelecida, de conhecer e cuidar dos efeitos colaterais do tratamento.

A alternativa correta é a "D".


Sobre as informações da etapa de investigação que subsidiam a definição do DE Disposição para autocuidado melhorado da paciente do estudo de caso, todas as afirmativas estão corretas. A manifestação de desejo de conhecer melhor os efeitos a que a paciente estará exposta no tratamento e como poderá proceder caso ocorram corresponde à demonstração de desejo de melhorar o autocuidado e de conhecer estratégias de autocuidado, o que é característica definidora do DE Disposição para autocuidado melhorado. A avaliação da capacidade de autocuidado, pela Asas-R, revelou elevada capacidade para isso, uma vez que o escore varia entre 0 e 75 pontos e o valor obtido foi 66. Considerando esses aspectos avaliados durante a entrevista com a paciente, há demonstração de que ela tem padrão e capacidade de realização de atividades para si mesma para atingir a meta estabelecida, de conhecer e cuidar dos efeitos colaterais do tratamento.

Conclusão

A TDAE mostra-se elemento importante para a fundamentação da assistência de enfermagem voltada à oncologia, pois auxilia no fortalecimento e no resgate da capacidade e das ações de autocuidado das pessoas. O autocuidado é considerado um aspecto essencial da vida das pessoas e com potencial de beneficiar a QV e resultados em saúde durante o tratamento oncológico.

O PE desenvolvido a partir dos pressupostos de Orem auxilia no estabelecimento dos sistemas de enfermagem e fornece estrutura para proporcionar a assistência priorizando o autocuidado, seja na realização de ações de autocuidado pelas pessoas impossibilitadas de fazê-lo integralmente ou parcialmente, seja tornando as pessoas aptas para o atendimento desses aspectos, por meio de ações de ensino e apoio.

Atividades: Respostas

Atividade 1 // Resposta: A

Comentário: Conforme discutido, para Orem, o autocuidado diz respeito ao cuidado pessoal que todas as pessoas podem desempenhar com o intuito de regular seu funcionamento e desenvolvimento. Ao mesmo tempo que a atuação da enfermagem está diretamente relacionada às demandas de autocuidado de um indivíduo. A assistência de enfermagem se faz necessária sempre que a capacidade do indivíduo de cuidar de si mesmo esteja prejudicada, resultando em um déficit de autocuidado. O empenho dos sujeitos nas atividades de autocuidado não está relacionado apenas a aspectos biológicos e estruturais, mas também à cultura, educação e sociedade que os cercam.

Atividade 2 // Resposta: C

Comentário: No cenário do autocuidado, a atuação da enfermagem está diretamente ligada à demanda de autocuidado da pessoa, quando ela apresenta alguma limitação para cuidar de si. Dessa forma, compreende-se que a presença de déficit de autocuidado faz a assistência de enfermagem ser necessária.

Atividade 3 // Resposta: D

Comentário: A TDAE foi elaborada por meio das reflexões de Dorothea Orem e constituída pelas teorias do autocuidado, do déficit de autocuidado e dos sistemas de enfermagem. A teoria das necessidades humanas básicas, a teoria ambientalista e a teoria holística são oriundas das reflexões de outras importantes representantes da enfermagem — Wanda Horta, Florence Nightingale e Myra Levine, respectivamente.

Atividade 4 // Resposta: A

Comentário: A sentença 1 refere-se ao conceito de requisitos de autocuidado nos desvios de saúde, que são as condições manifestadas durante a ocorrência de doenças e lesões que podem requerer medidas terapêuticas para diagnosticar ou corrigir a condição. A sentença 2 refere-se ao conceito de capacidade de autocuidado, que retrata a capacidade humana de engajar-se nas ações de autocuidado. A sentença 3 refere-se ao conceito de requisitos de desenvolvimento de autocuidado, que concentram as demandas de autocuidado estabelecidas pelo processo de desenvolvimento humano frente às questões físicas, emocionais, processos de vida, entre outros. A sentença 4 refere-se ao conceito demanda de autocuidado terapêutico, que são todas as ações desempenhadas profissionalmente às pessoas. A sentença 5 refere-se aos requisitos de autocuidado, que são as ações realizadas no sentido de atender às necessidades de autocuidado do indivíduo. A sentença 6 refere-se ao conceito de requisitos universais de autocuidado, que são aqueles comuns a todos os seres humanos, por tratar de elementos fundamentais para a manutenção da vida (p. ex., ar, água, alimentos, eliminações, sono e repouso).

Atividade 5 // Resposta: B

Comentário: Para Orem, o PE “é um método de determinação das deficiências de autocuidado e a posterior definição dos papéis da pessoa ou enfermeiro para satisfazer as exigências de autocuidado” e foi denominado pela autora como processo tecnológico da prática de enfermagem. Para tanto, Orem construiu um modelo de três passos. No passo 1, são estabelecidos diagnóstico e prescrição a partir de investigação (coleta de dados) sobre ações de autocuidado dos pacientes e suas demandas.

Atividade 6 // Resposta: C

Comentário: O sistema apoio-educativo é aquele em que os indivíduos são capazes de executar ou aprender a executar ações para seu autocuidado. Nessa situação, o enfermeiro atua na supervisão do desenvolvimento das ações, incentivando o paciente a desenvolvê-las de maneira independente. Assim, durante o tipo de intervenção citado na alternativa C, o profissional de enfermagem se vale desse sistema para instrumentalizar o indivíduo de modo que ele seja capaz de controlar sua doença da maneira mais independente possível por meio do autocuidado.

Atividade 7 // Resposta: B

Comentário: O autocuidado exerce papel fundamental na maneira como as pessoas em tratamento oncológico manifestam os efeitos do tratamento e lidam com eles, assim como nos resultados de saúde, portanto promover a autonomia para a realização do autocuidado entre as pessoas que fazem QTA é um aspecto importante do cuidado em oncologia, já que existe relação entre as ações de autocuidado desempenhadas pelas pessoas e a melhora dos efeitos colaterais da QTA. No decorrer do capítulo, foram apresentados resultados de pesquisas que mostraram o efeito do autocuidado na melhora da intensidade de efeitos do tratamento, como fadiga, sintomas depressivos e funções sociais.

Atividade 8 // Resposta: D

Comentário: Além das características definidoras apresentadas no estudo de caso (expressa o desejo de melhorar o autocuidado e de melhorar o conhecimento sobre estratégias de autocuidado), todas as características definidoras listadas na atividade são apresentadas para o DE Disposição para autocuidado melhorado na taxonomia da NANDA-I.

Atividade 9 // Resposta: D

Comentário: Sobre as informações da etapa de investigação que subsidiam a definição do DE Disposição para autocuidado melhorado da paciente do estudo de caso, todas as afirmativas estão corretas. A manifestação de desejo de conhecer melhor os efeitos a que a paciente estará exposta no tratamento e como poderá proceder caso ocorram corresponde à demonstração de desejo de melhorar o autocuidado e de conhecer estratégias de autocuidado, o que é característica definidora do DE Disposição para autocuidado melhorado. A avaliação da capacidade de autocuidado, pela Asas-R, revelou elevada capacidade para isso, uma vez que o escore varia entre 0 e 75 pontos e o valor obtido foi 66. Considerando esses aspectos avaliados durante a entrevista com a paciente, há demonstração de que ela tem padrão e capacidade de realização de atividades para si mesma para atingir a meta estabelecida, de conhecer e cuidar dos efeitos colaterais do tratamento.

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Como citar este documento

Oliveira AR, Zamarioli CM, Eduardo AHA. Capacidade para o autocuidado de pacientes em tratamento quimioterápico. In: NANDA International, Inc., organizador. Coletâneas: Diagnósticos de Enfermagem: Ciclo 1. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2023 (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 2).

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