■ Introdução
A cetoacidose diabética (CADcetoacidose diabética) é uma das mais graves complicações do diabetes melito (DMdiabetes melito) e é caracterizada por uma tríade: hiperglicemia, acidose metabólica com ânion “gap” aumentado e cetose.1
A CADcetoacidose diabética é uma complicação relativamente rara durante a gestação com diabetes melito gestacional (DMGdiabetes melito gestacional) ou pré-gestacional.2 Na ausência de um pronto diagnóstico e tratamento, a CADcetoacidose diabética torna-se uma condição de risco materno e fetal. Assim, pode ser considerada uma verdadeira emergência médica e deve ser reconhecida e tratada precocemente para melhorar os resultados maternos e perinatais.2
A CADcetoacidose diabética ainda ocorre na gestação, apesar dos esforços para melhorar os resultados da gestação com diabetes, como controle materno pré-concepção e no primeiro trimestre de pacientes com diabetes melito tipo 1 (DM1diabetes melito tipo 1) e diabetes melito tipo 2 (DM2diabetes melito tipo 2), rastreamento universal de DMGdiabetes melito gestacional desde o primeiro trimestre, tratamento com a orientação nutricional e uso de hipoglicemiantes orais e insulina.
A incidência da CADcetoacidose diabética durante a gestação tem sido relatada com percentual de 0,5 a 3% em todas as gestações com diabetes e deve aumentar em razão do maior número de gestantes com DM2diabetes melito tipo 2 e DMGdiabetes melito gestacional que está sendo diagnosticado. A CADcetoacidose diabética é uma complicação típica do DM1diabetes melito tipo 1, mas também tem ocorrido em pacientes com DM2diabetes melito tipo 2 ou DMGdiabetes melito gestacional descompensados.2,3 Ocorre mais frequentemente no segundo e no terceiro trimestre da gestação, em consequência da diminuição significativa da sensibilidade materna à insulina, o que leva ao aumento das necessidades de insulina em torno de 50%.4
A tempestade tireoidiana, também chamada de crise tireotóxica, é uma emergência endocrinológica bastante rara, caracterizada por um estado hipercatabólico grave, precipitado por altos níveis de hormônios endógenos da tireoide.4-6 O uso da palavra “tempestade” descreve tanto a intensidade da apresentação clínica quanto a elevação dos hormônios tiroxina (T4hormônios tiroxina) e tri-iodotironina (T3hormônios tri-iodotironina).5
A maioria dos casos de tempestade tireoidiana é resultado de quadros de hipertireoidismo sem controle adequado, embora existam casos de hipertireoidismo não diagnosticados e rapidamente progressivos.4,5
A suspeita diagnóstica da tempestade tireoidiana pode ser mascarada pela taquicardia fisiológica da gestação e se apresentar como insuficiência cardíaca, especialmente durante o trabalho de parto.4
As taxas de mortalidade materna da tempestade tireoidiana variam conforme as séries estudadas, mas ficam entre 10 e 30%.4 Reconhecimento rápido, cuidados imediatos de suporte e tratamento específico melhoram os desfechos maternos e fetais na tempestade tireoidiana.4,5
■ Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:
- ■ reconhecer as alterações fisiopatológicas da gestação no metabolismo glicêmico;
- ■ identificar os sinais e sintomas da CADcetoacidose diabética em uma gestante;
- ■ indicar o manejo inicial da CADcetoacidose diabética;
- ■ identificar os possíveis fatores precipitantes da tempestade tireoidiana;
- ■ reconhecer a fisiologia dos hormônios da tireoide na gestação fisiológica, nas gestantes com hipertireoidismo e na tempestade tireoidiana;
- ■ reconhecer os sinais e sintomas da tempestade tireoidiana para estabelecer o diagnóstico;
- ■ indicar a abordagem inicial do tratamento da tempestade tireoidiana;
- ■ avaliar as possíveis complicações maternas e fetais da CADcetoacidose diabética e da tempestade tireoidiana.
■ Esquema conceitual