Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- diferenciar casos cirúrgicos de não cirúrgicos de câncer de esôfago e de cárdia;
- revisar os aspectos técnicos e a morbidade associada às técnicas de esofagectomia;
- listar os benefícios da esofagectomia minimamente invasiva;
- identificar as complicações da esofagectomia minimamente invasiva;
- indicar medidas terapêuticas em caso de complicações da esofagectomia minimamente invasiva;
- discutir sobre a complexidade do tratamento cirúrgico do câncer de esôfago e cárdia;
- avaliar a importância da execução do tratamento cirúrgico por cirurgião experiente.
Esquema conceitual
Introdução
O câncer de esôfago atualmente é o sexto tumor maligno mais comum em homens e o décimo terceiro mais comum em mulheres no Brasil,1 sendo o carcinoma epidermoide o subtipo mais prevalente (60% dos casos novos), seguido pelo adenocarcinoma (35%), ao contrário do que ocorre no hemisfério norte, onde o adenocarcinoma é o tipo histológico mais prevalente.
A incidência estimada de todos os tipos histológicos de câncer de esôfago em 2020 foi de 8,18 casos novos/100 mil homens e 2,7 casos novos/100 mil mulheres. Para fins cirúrgicos, o adenocarcinoma da cárdia Siewert I e II é tratado da mesma forma, englobando linfadenectomia mediastinal infracarinal completa, associada à linfadenectomia retroperitoneal.1
Menos de 5% dos casos são compostos por sarcomas, carcinossarcomas e tumores estromais gastrintestinais (em inglês, gastrointestinal stromal tumors [GISTs]). A morbidade associada à toracotomia assombra a cirurgia do câncer do esôfago há décadas, tendo levado ao surgimento da técnica trans-hiatal (sem toracotomia) como tática para viabilizar a cirurgia em pacientes pneumopatas e/ou com alto risco cirúrgico na era pré-cirurgia videolaparoscópica.1–5
Os dados da literatura especializada referentes à técnica videotoracolaparoscópica evidenciam sua superioridade, com menor tempo operatório, perda sanguínea inferior, menos dor pós-operatória, menor percentual de complicações pleuropulmonares, tempo de internação hospitalar abreviado e recuperação pós-operatória mais rápida, quando comparada à esofagectomia com toracotomia e laparotomia ou à via trans-hiatal.1,2,3,4,6,7
Com base nessas evidências a respeito da técnica videotoracolaparoscópica, foi iniciada a sua realização sistemática na seção de Cirurgia Abdominopélvica do Instituto Nacional de Câncer (INCA HC I/MS-RJ) em maio de 2012.
Em 2017, foi publicada uma série inicial de 19 casos de esofagectomia toracolaparoscópica com tempo torácico em posição pronada, operados entre 2012 e 2014, com mortalidade de 5,3% (um caso) e morbidade de 40% (mormente pneumonia e fístulas cervicais de evolução benigna, com fechamento em torno de 4 a 6 dias).8
Foi conseguido êxito no objetivo primário de avaliar a factibilidade e viabilidade da técnica em uma instituição pública brasileira, demonstrando a superioridade da técnica em termos de resultados imediatos, como menor dor pós-operatória, menor tempo de internação e menor taxa de complicações infecciosas pulmonares quando comparada à série convencional prévia.8,9