Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir a relevância epidemiológica da doença diverticular e de suas complicações agudas e quadros crônicos sintomáticos;
- revisar os mecanismos fisiopatológicos relacionados ao desenvolvimento da doença diverticular na forma crônica e aguda e os mecanismos que resultam em sintomatologia crônica;
- inferir estratégias diagnósticas para a doença diverticular;
- analisar modalidades conservadoras para o tratamento da doença diverticular, seu impacto no controle do problema e suas limitações em termos de eficácia;
- identificar as situações clínicas crônicas que resultam na necessidade de tratamento cirúrgico da doença diverticular.
Esquema conceitual
Introdução
O desenvolvimento de divertículos constitui a alteração de natureza anatômica mais comum do intestino grosso.1 Eles são formados pela protrusão da mucosa, submucosa, através da parede do cólon, sendo desprovidos de camada muscular própria.1,2 Com isso, são descritos patologicamente como pseudodivertículos, por não terem todos os componentes estruturais da parede intestinal.2
Apesar de muito frequentes, quando comparados ao câncer colorretal, os divertículos são condições anatômicas bem menos estudadas e, comumente, considerados condição inerente ao envelhecimento. Ainda que a maioria dos portadores dessa situação seja assintomática, o número absoluto de pessoas afetadas faz com que uma grande faixa da população desenvolva, em alguma fase da vida, uma complicação aguda ou relate sintomatologia crônica resultante da presença dessas formações diverticulares.
Até algum tempo atrás, considerava-se que a doença diverticular era um problema predominantemente ocidental, de populações idosas e que eram alimentadas com dietas refinadas, de alto valor calórico e baixa proporção de fibras vegetais. Além disso, frequentemente, a doença é interpretada como uma condição associada exclusivamente a surtos de manifestações agudas, potencialmente graves, intercaladas por períodos de evolução assintomática.
Ainda que as caracterizações da doença diverticular não estejam de todo equivocadas, elas estão sendo progressivamente revisadas. Indivíduos desenvolvem claramente sintomatologia crônica e contínua sem nunca terem efetivamente sido afetados por crises agudas de processo inflamatório. Em outros casos, apresentam sintomas residuais persistentes da doença após crises de diverticulite aguda que se mostram extremamente resistentes ao tratamento.
Um terceiro grupo de pacientes é afetado repetidamente por crises inflamatórias agudas, de intensidade variável, que se associam a morbidade e mortalidade progressivas, resultantes de complicações como a formação de abscessos intra-abdominais, fístulas digestivas ou peritonite generalizada.