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SÍNDROME DE MIRIZZI — CONTRAINDICAÇÃO À CIRURGIA VIDEOLAPAROSCÓPICA?

Autores: André Gusmão Cunha, Ana Celia Diniz Cabral Barbosa Romeo, André Luis Barbosa Romeo
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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • definir e classificar a síndrome de Mirizzi;
  • interpretar as alterações anatômicas decorrentes da síndrome de Mirizzi e a sua repercussão na colecistectomia;
  • identificar a importância do diagnóstico assertivo pré-operatório e/ou intraoperatório;
  • descrever as estratégias cirúrgicas para o tratamento da síndrome de Mirizzi, com ênfase na cultura de segurança da colecistectomia (CSC);
  • comparar os desfechos clínicos das colecistectomias laparotômica e laparoscópica publicados na literatura científica.

Esquema conceitual

Introdução

Durante a crise do Canal de Suez, no final da década de 1956, o Primeiro-Ministro Britânico Anthony Eden foi internado com febre alta (41ºC). Uma estenose de sua derivação biliodigestiva (DBD), realizada devido à lesão biliar sofrida na colecistectomia, em 1953, acabou culminando com a perda do controle britânico em Suez e sua renúncia em janeiro de 1957. A descrição cirúrgica oficial do seu primeiro procedimento, ocorrida por uma crise de icterícia, não relatou intercorrências, e muitos acreditam que sua carreira e a política externa britânica foram prejudicadas pela lesão iatrogênica.1

A evolução da colecistectomia é um exemplo significativo de que boas habilidades técnicas são importantes. A partir do primeiro relato de colecistectomia laparoscópica,2 algumas etapas como factibilidade, segurança, treinamento simulado, treinamento supervisionado e credenciamento profissional tornaram o procedimento videolaparoscópico seguro e amplamente mais utilizado do que a técnica laparotômica.3

Porém, habilidades não técnicas são reconhecidamente importantes no treinamento cirúrgico, entre elas, o reconhecimento de que o procedimento não deve prosseguir em favor da segurança do paciente.3

Desde os primórdios da colecistectomia, há o reconhecimento de uma complicação rara da colecistolitíase, causada pela compressão do ducto hepático comum por um ou mais cálculos impactados no ducto cístico ou no infundíbulo da vesícula biliar (bolsa de Hartmann). Finalmente, em 1948, Pablo Mirizzi chamou-a de síndrome de Mirizzi.4 Desde então, seu tratamento tem sido desafiador justamente para evitar infortúnios como o do Primeiro-Ministro Eden.

A oportunidade do diagnóstico pré-operatório, a correta classificação da enfermidade, o desenvolvimento da visão crítica de segurança (VCS) de Strasberg5 e os critérios para a colecistectomia subtotal6 são avanços para o manejo da síndrome de Mirizzi.7 Ainda assim, o uso da cirurgia videolaparoscópica para seu tratamento cirúrgico é desafiador, exigindo o máximo do conhecimento anatômico, técnica cirúrgica e sistematização de condutas mesmo dos cirurgiões mais experientes.4,8–14

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