Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever a importância da hormonização cruzada como parte do processo das mudanças corporais nos homens trans;
- resumir os esquemas de administração de testosterona em homens trans;
- explicar o monitoramento durante o processo de hormonização.
Esquema conceitual
Introdução
Pessoas trans são indivíduos que têm uma identidade de gênero diferente da atribuída ao nascimento. No Brasil, quase 2% da população — ou 3 milhões de pessoas — considera-se trans ou de gênero não binárias. Dentro desse grupo de pessoas, 0,69% se identifica como homem trans ou mulher trans, enquanto 1,19% se identifica como não binária.1 Essa população apresenta necessidades específicas de saúde, ao mesmo tempo que enfrenta barreiras no acesso aos cuidados.
A grande diversidade sociocultural observada na população trans e não binária implica uma enorme pluralidade de interesses em modificações corporais, respondendo às mais variadas expressões de gênero. Desse modo, e tendo em vista a despatologização dessas identidades, o cuidado às pessoas trans deve ser sempre centrado na pessoa (em inglês, patient-centered approach).2
Entende-se que a individualização das intervenções hormonais conduzidas pela equipe de saúde envolve a necessidade de se flexibilizar a prescrição médica de acordo com as características/demandas de cada pessoa, o que pode variar ao longo do tempo. Ao se recomendar uma hormonização cruzada para pessoas trans, cabe à equipe médica, portanto, adequar as demandas da pessoa relacionadas às mudanças corporais que são específicas, o que foi assegurado pela portaria do processo transexualizador do Sistema Único de Saúde (SUS).2
Neste capítulo, abordam-se a hormonioterapia (hormonização cruzada) recomendada para homens trans com ênfase nas mudanças corporais determinadas pela testosterona, as formulações mais utilizadas e disponíveis no meio, assim como o seguimento dessas pessoas. As recomendações dos autores deste capítulo são fundamentadas na
- World Professional Association for Transgender Health’s (WPATH) Standards of Care — 8ª edição (SOC-8), de 2022;3
- European Society for Sexual Medicine Position Statement de 2020;4
- Endocrine Society Clinical Practice Guidelines para hormonização de pessoas trans de 2017;5
- experiência do Núcleo TransUnifesp (NTU).6