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INTOXICAÇÃO POR VITAMINA D: FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Patrícia Muszkat

Telma Palomo

Marise Lazaretti-Castro

Intoxicação por vitamina D - Secad

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • descrever a epidemiologia e as principais causas da intoxicação por vitamina D;
  • explicar a fisiologia da vitamina D e a fisiopatologia da intoxicação por vitamina D;
  • identificar os principais sintomas da intoxicação por vitamina D;
  • interpretar os resultados do exame clínico e laboratorial de intoxicação por vitamina D;
  • utilizar as principais opções de tratamento e manejo da intoxicação por vitamina D.

Esquema conceitual

Introdução

A vitamina D é uma substância lipossolúvel sintetizada na pele a partir do precursor 7-de-hidrocolesterol em resposta à radiação solar ultravioleta B (UVB). Pode ainda ser obtida a partir da suplementação ou da dieta, embora os alimentos ricos em vitamina D sejam bastante escassos e ausentes na dieta habitual brasileira, como na carne de alguns peixes gordurosos, como atum, salmão, cavala e sardinhas.1 Em pequenas quantidades, a vitamina D pode ser encontrada no fígado bovino e na gema de ovo.1 Portanto, a principal fonte de vitamina D provém da síntese cutânea provocada pelos raios de sol (Figura 1).

FIGURA 1: Esquema da biossíntese cutânea de Vitamina D3 catalizada pelos raios UVB. Para evitar excessos de produção, ocorrem desvios metabólicos reversíveis para formas inertes (taquisterol e lumisterol).

A vitamina D tem um papel fundamental na manutenção da saúde óssea e na homeostase do cálcio. Sua deficiência leva a um quadro de hiperparatiroidismo secundário, com aumento da reabsorção óssea e maior risco de osteoporose. Deficiências graves podem ser acompanhadas de hipocalcemia e defeitos na mineralização óssea, como raquitismo e osteomalácia.2

Além disso, como vastamente descrito na literatura científica, a deficiência de vitamina D vem sendo associada a riscos aumentados de complicações extraesqueléticas, como doenças autoimunes, doenças infecciosas, câncer, diabetes mellitus, entre outras.2 Entretanto, essas associações ainda carecem de evidências sobre a relação de causalidade.

Recentemente tem sido discutido o papel da deficiência de vitamina D sobre a gravidade da síndrome respiratória aguda pela doença do coronavírus 2019 (em inglês, coronavirus disease 2019 [COVID-19]), considerando sua ação imunomoduladora na resposta ao vírus respiratório. Além disso, vários estudos observacionais associaram um pior desfecho da doença nos indivíduos com deficiência de vitamina D.3

O papel da vitamina D sobre a imunidade inata como adaptativa oferece substrato para essas suspeitas, entretanto, aguardam-se ainda os resultados mais conclusivos de uma série de estudos prospectivos de intervenção que vêm sendo conduzidos neste momento. Vários artigos sobre o tema podem ser encontrados na literatura.3 Sendo assim, o efeito protetor da vitamina D na COVID-19 grave ainda permanece incerto.4

Por outro lado, vale salientar que a suplementação de vitamina D nas doses recomendadas em condições de isolamento social e, em especial, durante o inverno pode ser benéfica durante a pandemia para evitar deficiências graves que possam comprometer a saúde musculoesquelética e possivelmente a resposta imunológica.5

Com a constatação de que a deficiência de vitamina D é altamente prevalente nas populações urbanas e um problema de saúde pública global,6,7 os suplementos contendo vitamina D isolada ou em associações passaram a ser facilmente acessíveis ao público, com poucas orientações para uma administração segura.

Além disso, a crença de que altas doses possam ter um papel sobre a regulação imunológica e o desconhecimento do risco de intoxicação por profissionais da saúde contribuíram para um aumento global nos casos de toxicidade da vitamina D, tornando imprescindível o diagnóstico e tratamento dessa condição.6 A intoxicação por vitamina D leva à hipercalcemia e a um desbalanço na regulação do metabolismo ósseo, sendo a hipercalcemia a principal responsável pelas manifestações clínicas.1 Neste capítulo, serão abordados os aspectos da intoxicação por vitamina D, como epidemiologia, metabolização da vitamina D, fisiopatologia da sua intoxicação, etiologia, história clínica, exame físico, manejo da hipercalcemia, diagnóstico diferencial, prognóstico e complicações.

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