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LETRAMENTO EM SAÚDE INSUFICIENTE: UM FENÔMENO DE ENFERMAGEM

Carolina Spinelli Alvarenga

Rebecca Ortiz La Banca

Ana Carolina Andrade Biaggi Leite

Willyane de Andrade Alvarenga

Emilia Campos de Carvalho

Lucila Castanheira Nascimento

Letramento em saúde insuficiente - Secad

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • descrever a relevância da identificação de letramento em saúde (LS) na população em geral diante das políticas públicas vigentes;
  • identificar o conceito e os indicadores clínicos de letramento em saúde insuficiente (LSI);
  • nomear resultados sensíveis à enfermagem em situações de LSI;
  • indicar intervenções de enfermagem para o alcance de resultados esperados na presença de LSI.

Esquema conceitual

Introdução

Letramento é um conceito de uso recente na enfermagem brasileira, embora a origem internacional desse termo não seja recente e coincida com a de outros países. O termo letramento surgiu visando motivar o reconhecimento e nomear práticas sociais de leitura e de escrita mais avançadas do que as práticas do ler e do escrever, resultantes da aprendizagem do sistema de escrita.1–3 É denominado literacia na língua portuguesa europeia, literacy na inglesa e littératie na francesa.

Diferentemente da alfabetização, que retrata a aprendizagem inicial da leitura e da escrita, o letramento prevê o domínio do uso da leitura e da escrita e apresenta interfaces com esse conceito. Ambos os processos se mesclam, sobrepõem-se e se confundem, ao mesmo tempo em que são interdependentes, simultâneos e indissociáveis. Possuem também naturezas distintas, que envolvem competências, habilidades e conhecimentos específicos e, portanto, apresentam formas de aprendizagem diferentes.1–3

Os índices de letramento em geral da população mundial relacionam-se com a alfabetização e com outros indicadores sociais (Human Development Report e Individual Statistics Departments). No Brasil, identificou-se correlação entre os anos de escolaridade e os escores no desempenho do Test of Functional Health Literacy in Adults (S-TOFHLA), um instrumento de avaliação de LS.4

Conhecer o nível de letramento em geral de uma população é relevante, pois ele impacta diretamente no letramento para a saúde. Estudos brasileiros evidenciam que quanto mais anos de estudo, maior será o desempenho nos testes que avaliam o LS.4

Na população em geral, 32,4% apresentaram escores inadequados ou marginalizados medidos pelo S-TOFHLA em hospitais da Região Sudeste.4 Entretanto, mesmo entre os indivíduos com ensino superior, porcentagem relevante apresentou níveis inadequados (17,3%) ou problemáticos (37,4%) de LS, o qual foi medido pela European Health Literacy Scale (HSL-EU-BR).5

Observa-se quadro semelhante em nações como Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Canadá, onde cerca de 20 a 50% da população apresenta baixa competência para gerir a própria saúde, para adesão às medidas de promoção e prevenção de doenças, para o uso de medicamentos, além de baixos níveis de conhecimento sobre doenças crônicas e serviços de saúde.6 Em Portugal, segundo o Questionário Europeu de Literacia em Saúde de 2015, 60% da população apresenta nível inadequado ou problemático em LS.7