Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de:
- caracterizar o trabalho psicoterápico que abrange o caminho que vai do gene ao comportamento;
- explicar o conceito de epigenética e como ela se aplica na psicoterapia;
- descrever como se constituem os endofenótipos biológicos e como os múltiplos endofenótipos associados com a responsividade a poderosos fatores ambientais irão influenciar no funcionamento da mente;
- descrever a maneira pela qual a farmacoterapia e a psicoterapia interferem na expressão gênica, remodelando a cromatina e “moldando” circuitarias neuronais.
Esquema conceitual
Introdução
O presente capítulo busca descrever como a psicoterapia pode atuar como regulador epigenético e, para isso, será abordado o neurodesenvolvimento em suas várias etapas, explicitando a maneira como o genoma e as várias interações e influências ambientais irão resultar no fenótipo.
O cérebro é uma estrutura plástica e dinâmica e, nesse sentido, sabe-se que a expressão gênica pode exercer uma influência na formação e na manutenção ou destruição das conexões sinápticas. Os genes, além de transmitirem os caracteres da espécie para as gerações futuras, mantêm um funcionamento contínuo e dinâmico, codificando, por meio de sua capacidade transcricional, a síntese de proteínas que comporão os produtos gênicos responsáveis pela mediação de todo o funcionamento mental repousado no substrato cerebral.
Nesse sentido, destaca-se a importância do papel da regulação epigenética sobre a expressão gênica. Embora a sequência do DNA dos genes não possa ser alterada pelas experiências de um indivíduo, a sua função transcricional é influenciada por fatores ambientais. Comportamentos e doenças não podem ser herdados, mas, sim, predisposições. As numerosas fragilidades genotípicas, sob a incidência de poderosos estressores ambientais poderão constituir endofenótipos sintomáticos que, em conjunto, podem propiciar patologias. Por sua vez, um genoma bem constituído terá maior resiliência e possibilitará a aquisição de boas habilidades cognitivas e motoras.
Além dos fatores causadores de estresse, também a farmacoterapia e a psicoterapia têm um papel na regulação epigenética. A psicoterapia visa, por meio do aprendizado consciente ou inconsciente (o qual constitui-se em uma regulação epigenética), refazer circuitarias neuronais precárias (defesas) e propiciar, pela plasticidade, funcionamentos mentais mais adequados. Assim como os medicamentos, a psicoterapia tem a capacidade de “desmetilar ou acetilar” o DNA, liberando a expressão dos genes cujos locus estavam enovelados, inaugurando, assim, novas rotas neurais que resultarão em ampliação da consciência e de comportamentos mais adaptativos.