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OXIGENOTERAPIA HIPERBÁRICA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Autores: Alberto Gurgel de Araujo, Fábio Ferreira Amorim
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  • Introdução

A oxigenoterapia hiperbárica (OHBoxigenoterapia hiperbárica) é uma modalidade terapêutica que utiliza a oferta de oxigênio (O2oxigênio) a 100% em ambiente pressurizado, de forma controlada, em 2 a 3 vezes acima da pressão atmosférica ao nível do mar (atm), o que determina uma ampla difusão de O2oxigênio em nível plasmático e tecidual, com diversos efeitos bioquímicos, celulares e fisiológicos.1,2

O tratamento com OHBoxigenoterapia hiperbárica pode ser feito em câmaras de múltiplos lugares (ou multiplaces) ou individuais (ou monoplaces), sendo essas últimas as mais utilizadas em pacientes críticos. Deve-se salientar que, para operar uma câmera hiperbárica com segurança, é fundamental o conhecimento das leis que relacionam o comportamento dos gases sob variações de pressão (como as leis de Dalton, Henry e Boyle), assim como a adoção de protocolos rígidos.1–5

A história da OHBoxigenoterapia hiperbárica é antiga. Em 1662, o médico britânico Nathaniel Henshaw foi o primeiro a utilizar terapia hiperbárica ao desenvolver uma câmara selada com válvulas unidirecionais para alterar a pressão atmosférica, denominada domicilium, propondo que pressões atmosféricas elevadas seriam eficazes para facilitar a digestão e prevenir afecções pulmonares.6–8

Em 1834, o médico francês Junod desenvolveu uma câmara hiperbárica para o tratamento de doenças respiratórias. Durante o século XIX, as câmaras hiperbáricas se popularizaram e estavam disponíveis na maioria das cidades europeias, porém com uso empírico e não padronizado para diversas situações. Foi no tratamento da doença descompressiva (DDCdoença descompressiva), especialmente em trabalhadores da mineração e em atividades de mergulho, que seu uso médico ganhou força.6–8

No início da construção de um túnel sob o rio Hudson, entre Nova Iorque e Nova Jersey, 1 em cada 4 trabalhadores morria por causa da DDCdoença descompressiva, sendo que, após o início da utilização de câmara hiperbárica, em 1879, ocorreram 3 óbitos em 18 meses.6–8

Inicialmente, o O2oxigênio não era adicionado ao ar comprimido, sobretudo por ser um gás inflamável e pelo receio de seus efeitos tóxicos, que já haviam sido descritos por Lavoisier e Seglom em 1789. Heinrich Drager foi o primeiro a utilizar O2oxigênio pressurizado em substituição ao ar comprimido para manejo da DDCdoença descompressiva em 1917, o que reduziu o tempo necessário para tratamento.6–8

Em 1960, Ite Boerema, considerado o pai da OHBoxigenoterapia hiperbárica moderna, publicou o estudo experimental Life without blood (Vida sem sangue, na tradução livre), que descreveu o transporte de O2oxigênio pelo plasma em porcos e demonstrou que eles eram capazes de sobreviver sob OHBoxigenoterapia hiperbárica com oferta de O2oxigênio a 100% a 3atm, mesmo em condição de anemia extrema, na qual o transporte de O2oxigênio pela hemoglobina (Hbhemoglobina) seria irrelevante.9 Mostrou, ainda, a possibilidade de controle de infecções com pressões parciais de O2oxigênio no sangue arterial (PaO2pressões parciais de oxigênio no sangue arterial) maiores que 250mmHg.6,10

Em 1967, foi fundada a Undersea and Hyperbaric Medical Society (UHMS), que, hoje, coordena o uso da OHBoxigenoterapia hiperbárica em nível mundial. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica (SBMH) foi fundada em 1983, estando a OHBoxigenoterapia hiperbárica regulamentada como área de atuação e modalidade terapêutica pelo Conselho Federal de Medicina (CFMConselho Federal de Medicina), conforme a Resolução CFMConselho Federal de Medicina nº 1.457, de 15 de setembro de 1995.11

Por ser uma modalidade terapêutica pouco difundida no Brasil atualmente, muitos profissionais ainda desconhecem as indicações da OHBoxigenoterapia hiperbárica. Assim, deve-se salientar que ela pode ser utilizada como terapia primária ou adjuvante em uma diversidade de condições clínicas que, muitas vezes, são tratadas em unidades de terapia intensiva (UTIunidades de terapia intensiva):11

 

  • embolia gasosa;
  • DDCdoença descompressiva;
  • embolias traumáticas pelo ar;
  • envenenamento por monóxido de carbono (COmonóxido de carbono) ou inalação de fumaça;
  • envenenamento por cianeto ou derivados cianídricos;
  • infecções (como gangrena gasosa, síndrome de Fournier, osteomielite refratária, fasciite, miosite, celulite e outras infecções necrotizantes de tecidos moles);
  • isquemia aguda traumática, lesão por esmagamento e síndrome compartimental;
  • reimplantação de extremidade amputada, retalho ou enxerto comprometido ou de risco;
  • vasculites agudas de etiologia alérgica, medicamentosa ou por toxinas biológicas (como aracnídeos, ofídios e insetos);
  • queimadura térmica e elétrica;
  • lesões refratárias (como úlceras de pele, pé diabético, escaras de decúbito, úlceras por vasculites autoimunes e deiscências de suturas);
  • lesão por radiação (radiodermites, osteorradionecroses e lesões actínicas de mucosas);
  • anemia aguda severa (em casos de impossibilidade de transfusão sanguínea).

Como há necessidade de cooperação e de comunicação ativa dos pacientes com os operadores das câmaras hiperbáricas, a OHBoxigenoterapia hiperbárica é indicada, principalmente, para pacientes adultos.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • explicar a OHBoxigenoterapia hiperbárica e seus mecanismos de ação;
  • identificar as principais indicações da OHBoxigenoterapia hiperbárica;
  • descrever as contraindicações, os efeitos colaterais e as limitações da OHBoxigenoterapia hiperbárica;
  • reconhecer quando indicar a OHBoxigenoterapia hiperbárica para pacientes críticos.
  • Esquema conceitual
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