- Introdução
Define-se hipotireoidismo pela presença de baixos níveis ou pela ausência de hormônios tireoidianos. Essa alteração pode estar presente desde o nascimento (congênita) ou se desenvolver durante a infância (adquirida). O tipo mais comum de hipotireoidismo é o primário, ou seja, aquele que ocorre por problemas na glândula tireoide que interferem na produção normal dos hormônios tireoidianos. O hipotireoidismo secundário (decorrente de alterações na produção hormonal hipofisária) e o terciário (decorrente de alterações na produção hormonal hipotalâmica) são mais raros.
O hipotireoidismo congênito (HChipotireoidismo congênito) ocorre em 1 a cada 1.500 a 3.000 recém-nascidos (RNs). O diagnóstico e o tratamento precoce são cruciais para assegurar o desenvolvimento neuropsicomotor adequado da criança.1 No Brasil, utiliza-se o teste do pezinho como screening para a detecção precoce de HChipotireoidismo congênito. A causa mais comum de HChipotireoidismo congênito é a disgenesia tireoidiana, responsável por de 80 a 85% dos casos, seguida pelos defeitos de síntese ou secreção conhecidos como disormonogênese.2
O hipotireoidismo central ocorre em menor frequência e é comumente associado a outras deficiências hormonais hipofisárias.3 As causas exógenas ou ambientais incluem anticorpos antirreceptores de hormônio tireoestimulante (TSHhormônio tireoestimulante), uso de medicações antitireoidianas e excesso ou deficiência de iodo.4,5
Já o hipotireoidismo autoimune (tireoidite de Hashimoto) é a causa mais comum de hipotireoidismo adquirido em crianças e adolescentes, com prevalência estimada de 1 a 2% e com predominância do sexo feminino (4:1).6 Cerca de 50% dos casos têm história familiar positiva para doença tireoidiana autoimune, e algumas síndromes genéticas, como síndrome de Down e síndrome de Turner, têm maior risco de desenvolver hipotireoidismo autoimune.7,8
Os pacientes com doenças autoimunes, como diabetes melito (DMdiabetes melito) tipo 1, doença celíaca, vitiligo e alopecia também apresentam risco aumentado para tireoidite de Hashimoto.9
No hipotireoidismo adquirido, as alterações clínicas dependem do grau e da duração da falta desses hormônios, podendo ocorrer de forma lenta e progressiva, caso não seja realizado tratamento adequado. Inicialmente, há diminuição da velocidade de crescimento, cansaço, dificuldade escolar, constipação intestinal, pele e cabelo ressecados, unhas quebradiças e irregularidade do fluxo menstrual, predominando a hipermenorreia e, em menor número, a amenorreia. Os sinais clínicos aumentam com o retardo no diagnóstico e consequente atraso na reposição hormonal, surgindo, então, o mixedema. Logo, em uma criança com velocidade de crescimento normal, não se recomenda fazer dosagem de hormônios tireoidianos apenas pelo sobrepeso/obesidade, já que o mixedema e consequente aumento do peso são sintomas mais tardios.10
A deficiência de iodo é outra causa importante de hipotireoidismo no mundo, porém menos frequente no Brasil em decorrência do uso de sal iodado na dieta.11 A realização de radioterapia na região de cabeça e pescoço, a radiação de corpo total para transplante de medula óssea e o uso de alguns medicamentos — como lítio, amiodarona, anticonvulsivantes e inibidores da tirosina quinase — podem ser causas de hipotireoidismo adquirido.12,13
Clinicamente, diante de um quadro de hipotireoidismo, pode haver icterícia, baixo ganho ponderal, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor no neonato e baixa estatura, constipação, intolerância ao frio e fadiga na criança.
O diagnóstico de hipotireoidismo baseia-se na história clínica e na alteração da função tireoidiana (FTfunção tireoidiana), em que o TSHhormônio tireoestimulante encontra-se aumentado e a tiroxina (T4tiroxina), baixa. A dosagem de anticorpos antitireoide faz-se necessária para a confirmação de tireoidite autoimune. O tratamento do hipotireoidismo consiste em reposição com levotiroxina segundo o peso e a idade do paciente.
Nota da Editora: os medicamentos que estiverem com um asterisco (*) ao lado estão detalhados no Suplemento constante no final deste volume.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar as principais causas de hipotireoidismo na infância;
- estabelecer o diagnóstico e o tratamento do hipotireoidismo na infância;
- reconhecer as diretrizes apresentadas por consensos e guidelines relacionados ao hipotireoidismo na infância.
- Esquema conceitual