- Introdução
A despeito da introdução de vacinas pneumocócicas conjugadas (VPCvacina pneumocócica conjugadas) nos calendários de vacinação infantil de muitos países, as infecções pneumocócicas persistem como a principal causa de mortalidade em crianças menores de 5 anos de idade por doenças imunopreveníveis. A infecção pneumocócica é uma das principais causas de morte evitável por vacinação em todo o mundo. Relaciona-se com maior morbidade e mortalidade quando acomete crianças, especialmente menores de 5 anos de idade, idosos e indivíduos de qualquer idade portadores de condições crônicas ou imunossupressoras.
Clinicamente, as infecções pneumocócicas podem se apresentar sob diversas formas, desde infecções de mucosa — otites, sinusites e pneumonias não bacterêmicas — até formas invasivas, como sepse, meningite, entre outras. Pelo fato de a bactéria Streptococcus pneumoniae apresentar mais de 90 diferentes sorotipos e a imunidade conferida pelas vacinas ser predominantemente sorotipo-específica, o desenvolvimento de imunizantes contra o agente torna-se um grande desafio, já que a prevalência desses sorotipos varia conforme a idade, a região, a época e a pressão seletiva pelo uso de vacinas.
Essa diversidade de sorotipos destaca a importância do desenvolvimento de vacinas multivalentes, que visam contemplar, em sua composição, os sorotipos mais prevalentes e/ou associados à maior resistência antimicrobiana em uma determinada população.
A dinâmica desses sorotipos — que varia nas diferentes faixas etárias e sofre pressão seletiva pelo uso de vacinas conjugadas, que praticamente eliminam os casos relacionados aos sorotipos vacinais — somada ao fenômeno de substituição de sorotipos faz da vigilância epidemiológica uma ferramenta crucial na definição de políticas públicas de prevenção da doença pneumocócica nos diversos programas de imunização.
A utilização de vacinas conjugadas no calendário infantil demonstrou enorme ganho adicional pela prevenção do estado de portador dos sorotipos vacinais da bactéria, evitando casos de doença pneumocócica em populações não vacinadas. A utilização de VPCvacina pneumocócica conjugada é hoje uma realidade na grande maioria dos países, e preconiza-se o uso de vacinas pneumocócicas polissacarídicas (VPPvacina pneumocócica polissacarídicas) para indivíduos pertencentes a grupos de maior risco para desenvolver a doença pneumocócica, como os idosos, os portadores de doenças crônicas e os imunocomprometidos.
A cinética desses sorotipos, a avaliação do impacto de introdução de vacinas e o desenvolvimento de novas vacinas conjugadas fazem da vacinação pneumocócica um tema sempre atual. Assim, o objetivo deste capítulo é propiciar ao leitor uma orientação sobre vários aspectos relacionados às doenças pneumocócicas e a sua prevenção, abordando a diversidade dos sorotipos capsulares do agente, a sua dinâmica de circulação, os seus desfechos clínicos e a importância da vigilância epidemiológica. Além disso, abordam-se as diferentes vacinas pneumocócicas, o impacto de sua utilização e o futuro da prevenção.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer as particularidades de S. pneumoniae;
- identificar as principais manifestações clínicas das infecções pneumocócicas;
- reconhecer a importância da vigilância epidemiológica como ferramenta orientadora da melhor prática preventiva da doença pneumocócica;
- avaliar o impacto da introdução da vacina conjugada no Programa Nacional de Imunizações do Brasil (PNIPrograma Nacional de Imunizações) por meio dos efeitos diretos e indiretos da vacinação;
- orientar a imunização de crianças contra as infecções pneumocócicas.
- Esquema conceitual